Seguindo os passos de Saramago, “Dan Brown português” questiona a fé cristã em “A Mentira Sagrada”
Publicado originalmente por Pedro J Alves no Diário Digital de Portugal
Um dos escritores com mais nome na atualidade, o português Luís Miguel Rocha tem um novo livro nas livrarias, «A Mentira Sagrada», editado pela Porto Editora, obra que deverá fazer com que atinja nos próximos meses o milhão de exemplares vendidos na sua carreira.
O tema de «A Mentira Sagrada» promete causar polémica em Portugal e no Mundo, já que Luís Miguel Rocha escreve que Jesus não foi crucificado. Apesar disso, o português garante que não tem como objectivo criar celeumas com a Igreja Católica, assegurando que a religião «não entra nos meus livros. A Santa Sé é, acima de tudo, um Estado e rege-se segundo leis próprias, tem corpo diplomático, ministérios, estrategos. A religião não está nas prioridades do Vaticano».
A ideia que fica quando lemos «A Mentira Sagrada» é o ténue equilíbrio entre ficção e realidade. Acredita que o segredo do sucesso do livro é essepormenor? E, já agora, das suas obras anteriores?
Pode ser um dos ingredientes. É um facto que a Santa Sé fecha portas que os fiéis querem abertas a todo o custo. O mistério tem muito poder. Mas também quero pensar que uma das razões por que os meus livros são um sucesso é que os leitores gostam da minha narrativa.
Mas acredita que desta vez escreveu um thriller religioso ou político?
Político. A religião não entra nos meus livros. A Santa Sé é, acima de tudo, um Estado e rege-se segundo leis próprias, tem corpo diplomático, ministérios, estrategos. A religião não está nas prioridades do Vaticano.
O que o fascina em escrever sobre temas religiosos? A polémica? Enfrentar as suas convicções? Questionar as suas dúvidas?
Há histórias que têm de ser contadas. Esse é o motor principal. Não procuro a polémica. Os temas são sensíveis em si mesmo. Um cardeal, bispo, Papa é, principalmente, um político. Mas entendo que a maioria das pessoas os olhe como religiosos. Contudo, nos gabinetes apostólicos, nas relações da Santa Sé com os outros países, não se utilizam argumentos do género «Arrependa-se, senhor presidente» ou «Olhe que Deus castiga», nada disso. As coisas tratam-se racionalmente visando sempre a melhor posição possível.
Mas podemos esperar uma atitude diferente por parte da Igreja Católica, que preferiu o silêncio nas suas anteriores obras, já que, em «A Mentira Sagrada», escreve que Jesus não foi crucificado?
Penso que a Igreja aprendeu que criticar livros só aumenta o sucesso dos mesmos. Um jornalista italiano disse recentemente que o Vaticano lê os meus livros e o seu silêncio significa mais respeito que reprovação. Espero silêncio. A Igreja Católica não pretende criar mais fenómenos literários descontrolados. Sabem que lidamos com informação credível e há cada vais mais pessoas que acreditam.
Portanto, a Igreja Católica tem a mentira a sustentar os seus pilares?
Se se refere à ligação que sustentam ter com Jesus e Pedro, considerando-se seus herdeiros, sim. A Igreja está assente numa mentira. Pedro não fundou seguramente a Igreja em Roma, nem existe qualquer prova de que tenha passado o testemunho para um discípulo. Apenas Irineu de Lião e a sua famosa lista de papas, do ano 180 dC, liga Pedro a um grupo de pessoas de que não se sabe mais nada, sustentado a linha Apostólica.
E por parte dos seus leitores? Falar de Jesus não é mais complicado do que falar sobre os Papas?
Veremos. Não pretendo impor o meu ponto de vista. Limito-me a narrar uma perspectiva histórica diferente.
Apesar do seu sucesso internacional, ainda é de certo modo ignorado pela crítica nacional. Fica magoado com isso?
Não sou ignorado. Simplesmente não apareço regularmente. A crítica ao livro «A Mentira Sagrada» em Portugal tem sido excelente. Não me posso queixar. E sempre dei entrevistas a jornalistas muito interessados e que me tratam muito bem.
Porque a crítica nacional especializada não aceita o autor bestseller, como acontece no estrangeiro?
Não creio que exista crítica especializada em lado nenhum do mundo. Existem pessoas que ganham a vida a dar a sua opinião sobre os livros que lêem. Só. Opinar sobre algo não faz de ninguém um especialista.
Como encara a crítica nacional e estrangeira em termos gerais?
Não leio. É importante para os editores, que assim influenciam os leitores. Mas não tem qualquer efeito num autor.
Aceita ser chamado o «Dan Brown português»? Considera essa denominação um elogio?
Não tenho outro remédio. É uma comparação fácil. Não a compreendo pois já escrevi mais livros sobre o Vaticano que o Dan Brown. É uma temática recorrente na minha obra e não na dele.
Mas o seu principal objectivo é o entretenimento ou o questionamento?
Ambos. É muito importante para mim que o leitor goste e se divirta mas também gosto que questione, que seja céptico, que desafie e que vá à procura.
Afirmou recentemente numa entrevista que o Vaticano, incluindo o Papa, lê os seus livros. Como pode ter a certeza disso?
Ninguém escreve o que eu escrevo sem saber muito bem que terreno está a pisar. Conheço muito bem as pessoas sobre quem escrevo.
Qual a sua opinião sobre Joseph Ratzinger, um Papa que não consegue ter a quinta parte da popularidade de João Paulo II?
É um homem de grande inteligência. Extremamente tímido e com fraca imagem. Ninguém se lembrará dele daqui a 50 anos, nem daqui a 25. Porém, é o Papa certo no momento certo.
Sendo o seu próprio crítico, que análise faz ao seu livro?
Não consigo ser crítico dos meus livros. O juiz supremo é sempre o leitor. Só ele pode avaliar e dizer se é bom ou não.
Sente-se cada vez mais confiante quando escreve ou é cada vez mais complicado?
Um escritor tem de ter sempre uma história para contar. É esse o ponto de partida. Quando não há história não há livro. Enquanto tiver coisas para contar não será complicado. Quando não tiver também não o será pois pararei de escrever.
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Ai, ai…”não quero criar polêmica” apenas afirmo que Jesus não foi crucificado… e tento fazer com que minha ficção pareça realidade…
Sempre a mesma história…
Porque não escreve sobre Maomé?? (medinho??)
Utilizando uma capa de intelectualidade, estes caras ganham uma grana em cima do pessoal que prefere andar nas trevas, que dariam tudo para que o cristianismo realmente não existisse…. e os bobos somos nós, que dizimamos a Deus kkkkkkk