A redenção pela literatura


O que uma pessoa que sofreu a vida inteira com homens violentos pode fazer para superar o trauma? No caso da japonesa Shoko Tendo, escrever um livro e torcer para que se torne um best-seller. Filha de um integrante da Yakuza, a máfia japonesa, Shoko teve uma vida de sofrimentos: na infância, sofria bullying dos colegas, que a rejeitavam por ser filha de um bandido, e com a violência do pai, que tinha acessos de fúria quando chegava embriagado em casa. Pintou os cabelos e se tornou uma yanki – como são chamados os adolescentes rebeldes no Japão. Passou a brigar na rua e a matar as aulas no colégio até passar um tempo no reformatório. Libertada, se tornou viciada em speed. Para saciar o vício, se relacionava com traficantes violentos que trocavam sexo por droga. Apanhava deles com frequência sempre que tentava abandoná-los. Com a morte dos pais, criou forças para mudar de vida e se transformar em uma adulta responsável. Trabalhou em bares e teve uma filha até decidir escrever o livro, Yakuza Moon (Livros Escala, R$ 29,90) best seller no Japão e recém lançado no Brasil. Abaixo, a entrevista concedida a ÉPOCA.
SHOKO TENDO – Meus pais faleceram, me divorciei e fiquei sozinha. Passei a ter tempo para mim e, pela primeira vez, comecei a pensar: “o que eu quero fazer?” E a vontade de ser escritora, que era meu sonho desde criança, começou a aflorar. Resolvi escrever sobre a minha vida.
SHOKO – Foi pela vontade de sensibilizar e de ajudar as pessoas que enfrentam os mesmos problemas e sofrimentos, levando a elas a minha experiência pessoal.
SHOKO – A minha vida que era trivial mudou completamente e passei a aparecer muito na mídia, atendendo a entrevistas e filmagens.
SHOKO – Tornei-me mãe solteira, sou muito ocupada com os afazeres para criar a minha filha de 5 anos, e escrevo.
SHOKO – Recebi muitas cartas de incentivo de pessoas que se identificaram com o que escrevi.
SHOKO – Penso que a Yakuza existe para proteger determinado território, enraizada nesse lugar. A sociedade contemporânea possui leis severas contra violência e dificulta suas ações.
SHOKO – Na infância, eu era uma criança tímida. Nos seis anos do curso primário, fui discriminada e judiada cruelmente só porque era filha de Yakuza. Foram seis anos de sofrimento.
SHOKO – No início, eles não eram violentos, mas depois passaram a ser violentos e cruéis. Eu me relacionei sem saber que eram assim. Mas, depois de praticarem a violência, choravam e pediam perdão, jurando nunca mais agir assim, e acabei continuando a relação acreditando nas suas palavras.
SHOKO – Quando era criança, cresci observando a postura de meu pai, e a tatuagem é algo que me tranquiliza, como a figura materna.
SHOKO – Não é. A minha vida não seria a mesma se não tivesse a tatuagem, assim penso.
SHOKO – Sem dúvida, a violência que sofri. Porque isto se transformou em sentimento de medo de homens, que ainda hoje continua em algum lugar dentro de mim.
SHOKO – Não me arrependo.
SHOKO – Também não faria nada de diferente. Naquele momento, fiz tudo o que pude fazer, por isso não penso na hipótese “se pudesse voltar no tempo”.
SHOKO – Como amigos, tenho e todos são pessoas sérias e dedicadas.
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