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Veja quais são as profissões ideais para quem ama a leitura
0Confira as 10 carreiras ideais para quem gosta de ler!
Publicado no Terra
Ler é a melhor maneira de exercitar o cérebro. Quem lê muito escreve bem , consegue se expressar melhor e tem mais agilidade de pensamento. É uma atividade que deve ser feita e incentivada por pessoas de todas as idades, sem qualquer restrição.
Se você faz parte da turma que adora devorar livros , saiba que existem inúmeras profissões nas quais é possível unir o útil ao agradável, com a leitura ocupando um lugar de destaque nas suas atividades diárias.
São carreiras que, na maioria dos casos, exigem muita dedicação à pesquisa, à especialização contínua e à leitura em diferentes idiomas! A maioria está na área de Humanas, mas o hábito de ler favorece pessoas de todas as profissões.
Confira a seguir a 10 carreiras ideais para quem gosta de ler!
1. Bacharel ou licenciado em Letras
O curso de Letras e suas diversas habilitações (Inglês, Espanhol, Alemão, Literatura, Português, etc.) é feito, essencialmente, de leitura. E não se trata de uma leitura qualquer: aqui é preciso entender o uso e o significado de cada palavra, cada oração, cada vírgula.
Como um médico que procura entender todos os mecanismos do corpo humano, o letrólogo – como é chamado o profissional de Letras – precisa desvendar todos os detalhes do idioma. Podemos observar essa dedicação num bom professor de Língua Portuguesa, por exemplo. Ele conhece cada ponto da nossa gramática em todos os aspectos: sintaxe, semântica, morfologia. Quem se especializa em Literatura, então, precisa ler ainda mais!
2. Jornalista
O jornalista precisa escrever um bocado no seu dia a dia. E a gente sabe que para escrever bem é preciso ler muito. É uma atividade que exige grande dedicação diária a notícias, artigos, livros, resenhas e similares. Os olhos desse profissional não param: quando não estão grudados em algum texto, estão pesquisando materiais para sua reportagem ou revisando o material produzido.
3. Tradutor
O trabalho principal do tradutor é ler, interpretar e traduzir para o idioma local ou estrangeiro qualquer tipo de texto (livros, documentos, trabalhos acadêmicos, cartas, etc.) com a máxima fidelidade possível. Para ser um bom tradutor, é preciso ser um exímio conhecedor de, no mínimo, duas línguas. A profissão exige o exercício diário da leitura, tanto para entender o material a ser traduzido quanto para pesquisar sua correspondência na língua estrangeira.
4. Professores de todas as disciplinas
Embora tenha um cotidiano bastante corrido, com aulas em diversas turmas, provas e trabalhos para corrigir, o professor sempre arranja tempo para ficar em dia com a leitura. É que essa prática é fundamental para seu desempenho profissional, especialmente porque precisam ficar atentos às novas pesquisas e métodos que podem influenciar sua área de ensino. Isso é muito comum em História, Geografia, Língua Portuguesa e Sociologia, por exemplo, mas é válido para todas as disciplinas.
5. Historiador
O historiador é um pesquisador nato, que tem a leitura como uma das principais atividades do seu dia a dia. Seu trabalho é buscar, catalogar e desenvolver pesquisas de valor histórico e cultural. Suas fontes de informação são textos, documentos antigos, cartas, registros diversos, etc. Há ainda a necessidade de manter-se atualizado com outras produções científicas que possam impactar de alguma forma o seu trabalho.
6. Filósofo
Filosofia é uma das profissões que mais exigem leitura. Primeiro porque há uma extensa literatura sobre o tema que vem sendo produzida desde os tempos antigos e continua a se expandir em ritmo acelerado nos dias de hoje. Segundo, porque se trata de uma área essencialmente reflexiva, que envolve muito trabalho de pesquisa, desenvolvimento de trabalhos, teses e dissertações.
7. Advogados e bacharéis em Direito
Quem se aventura na área do Direito já chega sabendo que vai ser um leitor voraz durante toda a vida profissional. Além de precisar se atualizar constantemente sobre as mudanças que ocorrem na área, é preciso visitar aqueles livros imensos com códigos e leis quase diariamente. O exercício da profissão também exige muita dedicação à leitura de processos, relatórios e afins.
8. Sociólogos
Assim como a Filosofia, a Sociologia é uma profissão que exige muita leitura, desde o primeiro dia do curso. Os alunos precisam aprender as principais linhas de pensamento existentes, explorar conteúdos de ciências políticas, antropologia, pensamento contemporâneo, etc. É uma área na qual boa parte dos seus profissionais se dedica às atividades de pesquisa, o que envolve um alto volume de leitura diária.
9. Médicos
Você acha que médico não lê? Engano seu! Medicina é uma profissão muito complexa, que exige dedicação integral dos seus profissionais e, dependendo da especialidade, um ritmo intenso voltado aos livros. Imagine o volume de leitura necessário para entender como funciona o nosso sistema nervoso, por exemplo. Ou para estar a par de novas técnicas, medicamentos, pesquisas, descobertas da ciência…
10. Profissionais de Marketing
Há quem pense que o profissional de Marketing se ocupa apenas de pensar novos produtos ou posicionar uma empresa no mercado. Mas não é bem assim. Há uma grande exigência diária de leitura para esses profissionais, porque eles precisam ficar por dentro de tudo de novo que acontece na área – um “marqueteiro” desatualizado não é muito valorizado. Também é preciso entender bem o mercado, o público-alvo e todos os detalhes do produto oferecido pela empresa. Isso exige pesquisa, dedicação e, claro, apego à leitura.
O segredo mais secreto dos estudantes de Direito
0Gustavo D’Andrea, no Amo Direito
O maior desespero de um estudante de Direito é o temor do esquecimento, pois a obrigação diante da qual sempre se encontra é responder corretamente a questões jurídicas.
Se não responde corretamente às questões de suas provas, não forma, não se torna advogado, não passa em concurso. O bacharelado em Direito é simples assim: tudo baseado em responder corretamente a um número determinado ou indeterminado de questões. Corretamente, entre aspas.
O segredo mais secreto dos estudantes de Direito, utilizado para sobrepor esse temor, esse desespero, é o estudo. Somente o estudo. O gênio dos gênios, que toda sala de aula possui, não é nenhum gênio. Às vezes, finge que é, para se fazer de orador. Às vezes, os colegas mais preguiçosos também fingem o mesmo, para utilizá-lo como a fonte inesgotável da cola milagrosa. Entre os “gênios” e os “coladores”, há os estudantes que talvez não saibam ainda que o segredo é tão-somente o estudo. Perguntam-se: como?
Estudar é assunto pessoal. Ninguém, a não ser o próprio estudante, pode descobrir a sua individual essência de estudante. Nenhum curso ou cursinho, nem livro de auto-ajuda, poderá ensinar como se estuda. Cursos e livros podem ajudar com a utilização do tempo e outras formas de organização pessoal, para uma vida de estudo mais produtiva. Podem servir como incentivo, inspiração a pensamentos positivos. Mas não ensinam a estudar. E nem poderiam.
A primeira tarefa de um estudante de Direito, mesmo os já formados, é fazer uma reflexão sobre a própria vida de estudo. A pergunta que deve ser feita a si mesmo é: qual é o meu jeito pessoal de estudar? A resposta não precisa ser imediata, mas a reflexão inicial deve levar o estudante a experimentar o estudo. A reflexão e a experimentação revelarão ao estudante qual é o seu jeito de estudar e qual é o seu ritmo pessoal.
Fugir de competições é salutar. É natural que, quando se descobre que podemos estudar e ampliar nossos conhecimentos, surja a vontade de transmitir aos colegas as novas descobertas obtidas nas leituras e raciocínios. É uma prática saudável essa transmissão de conhecimentos. Mas não é raro surgirem os que querem vencer a discussão, proferindo as sentenças mais corretas e perfeitas dentro do debate. Dessas situações, deve-se fugir. Há sempre alguém preparado a “ter razão sem razão”. E se o simples estudante der uma resposta que não permita ser contrariada, porque clara e simples, ganhará no irracional um inimigo e um competidor incansável. Não é para isso que serve o estudo.
O volume crescente de matérias e assuntos, e livros e leis, assusta. Uma vez li em algum lugar que na China há um ditado mais ou menos assim: se um homem precisa caminhar mil quilômetros, deverá dar o primeiro passo. No estudo acontece a mesma coisa. Para ler um livro de 900 páginas, há que ler página por página. Um passo de cada vez. Uma página de cada vez.
O mundo do conhecimento jurídico brasileiro atual tem, cada vez mais, empurrado o estudante para um turbilhão de informações, exigindo dele cargas excessivas de adrenalina para estar em dia com tudo o que se refere ao Direito. É transmitido ao estudante a impressão de que tem que se ajustar imediatamente à velocidade, ao estudo exaustivo, à competição. Coloca-se o estudante como soldado em um campo de batalha.
Em seus quartos, os estudantes mais “fracos” nesse cenário estarrecedor, choram e se desesperam. Querem desistir. Alguns desistem. Desistem principalmente aqueles que querem adotar um ritmo que não é o seu. Enquanto outros fingem ter nascido sabendo tudo. Todavia, quem passou em primeiro lugar em um concurso não é, necessariamente, o mais capaz. Apenas respondeu corretamente a mais questões. E sempre tem alguém para louvar como natural uma qualidade conquistada.
Fonte: gustavodandrea.com
Julgamento de ‘Adolf Hitler’ mobiliza alunos de escola em Mogi das Cruzes
1Júri tem direito a promotoria, advogados, juiz e jurados.
Professor usa julgamento para ensinar história.
Jenifer Carpani, no G1
Mesmo morto há quase 70 anos, ‘Adolf Hitler’ foi absolvido nesta semana de todas as acusações em um julgamento que aconteceu em Mogi da Cruzes (SP). O júri de sete pessoas decidiu por cinco votos a dois, que o ditador era inocente. O julgamento faz parte de uma aula de história, que acontece há 10 anos na Escola Técnica Presidente Vargas, na cidade.
Anualmente, ‘Hitler’ passa por cerca de seis julgamentos iguais a esse que têm direito a promotoria, acusação, juiz, e o ‘próprio’ réu. Os alunos do 3º ano do Ensino Médio da escola se reúnem para debater sobre os erros e acertos do ditador. O julgamento termina com a decisão do júri, formado por outros sete alunos convidados, que decide após o debate qual dos grupos se saiu melhor.
O professor de história Paulo Ciaccio é o responsável pela implantação do trabalho na escola. “Faço o julgamento há 10 anos. A ideia surgiu após um professor de faculdade fazer uma vez um julgamento de um personagem histórico. Eu acabei pegando a ideia dele para colocar em prática aqui. E funcionou. Agora fazemos todos os anos, virou uma tradição”, diz.
Segundo Ciaccio, neste ano serão 240 alunos do 3º ano que farão os seis julgamentos até sexta-feira (28). Ele explica que cada sala tem o seu e os alunos são divididos: metade da sala acusará e metade da sala defenderá o ditador. “Eu faço um sorteio. Eu não permito que se escolha o que quer fazer, para que não tenha nenhum tipo de tendência. Então eu pego o nome deles antes e faço o sorteio. Nesse ano, por exemplo, tem muitos alunos que queriam defender e serão da acusação”, explica.
Acusação X Defesa
O G1 acompanhou um dos julgamentos de 2014. Poucos momentos antes de começar, os alunos vestidos com roupa social, estudavam e afinavam os últimos detalhes do debate. Visivelmente nervosos, alguns treinavam o que iriam falar – tanto na defesa quanto na acusação – e tentavam, disfarçadamente, descobrir o que o outro grupo estava preparando.
Era clara a divisão na sala. A acusação estudava livros e pilhas de papeis sobre o que os promotores falariam em seguida. A defesa, com bigode e cabelo ‘a lá’ Hitler, se reunia no outro canto da sala, tentando decorar os principais argumentos.
Para o professor, o trabalho da defesa é mais difícil. “É muito mais difícil defender. Primeiro porque ele já foi condenado pelo tribunal de Nuremberg. Só que aí, apareceram tantas teses tentando atenuar a culpa dele. Ele foi errado, mas uma parte acha que ele não foi tão errado assim. Ele fez coisas boas para o país, isso é incontestável. Mas mergulhou a Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Tudo o que ele fez de bom ele acabou estragando”, conta.
“O que eu falo para eles: ele é errado. Ele errou. Só que tem que haver uma segunda visão, que tem que ser no debate. Coisa que não houve. Porque quando ele foi julgado ele tinha se matado, né? Por isso que eu falo, fazer esse trabalho é uma coisa muito dinâmica. É um trabalho muito dinâmico e dá um debate muito acalorado, realmente”, afirma.
De blazer, camisa social, e salto, a estudante Letícia Ponciano se mostrava um pouco nervosa antes do início do julgamento. “É que eu vou falar”, justifica. “Foi bem trabalhoso me preparar, estudamos vários argumentos e tivemos um pouco de trabalho. Estamos levando a sério. Mas acho super importante, porque dá um conhecimento a mais. Se no vestibular cair algo do nazismo, eu estou feita”, diz rindo.
Já o aluno Nilton Toaiari Rodrigues Alves, de 17 anos, se disse tranquilo. “Achei o trabalho na parte pedagógica bem interessante. Conseguimos olhar a história mundial de uma maneira diferente. Tem muito assunto sobre isso e podemos ver também que são muitas as teorias”, diz.
A estudante Nathália Kimberly, de 17 anos, também gostou de ter feito a pesquisa antes do julgamento. “Fiz muita pesquisa, e achei super interessante. Consegui ver os dois pontos e a pesquisa ajuda a gente a se envolver, a saber mais”, diz.
Após o professor lembrar mais uma vez aos alunos que se trata de um trabalho pedagógico, o debate começou pela acusação. A promotoria começou dizendo que não negava avanços na Alemanha durante o governo de Hitler, mas acrescentou que não poderiam ser esquecidos os crimes cometidos e que os fins não devem justificar os meios. Acusaram também o réu de matar judeus e outras minorias e também citaram experiências médicas que os nazistas faziam. Falaram também sobre os campos de concentração e mostraram fotos e vídeos dos locais. A promotoria terminou o debate salientando que a intenção é sempre defender a vida e, por isso, o réu não poderia ficar impune.
Por outro lado, em suas falas, a defesa procurou explicar o Tratado de Versalhes e as perdas da Alemanha após o tratado. Além disso, o grupo questionou o número de judeus na Europa e o número de mortes divulgadas e argumentou que o tifo pode ter matado muita gente. Nas considerações finais, a defesa mostrou vítimas da bomba de Hiroshima, no Japão, e disse que essa foi a pior explosão da história da humanidade. O fim dos dois minutos de considerações finais não deixou que eles terminassem o raciocínio.
O juiz foi até os jurados e os sete alunos votaram. Em seguida, o juiz declarou que por cinco votos a dois, o réu estava inocentado de todas as acusações. Para o professor, no entanto, a maior vitória foi mesmo da sala. “O que importa é que eles se aprofundaram, a pesquisa que eles fizeram e o que eles aprenderam durante ela é muito mais do que eu poderia passar no meu período de aula. Não daria tempo. Mas com a pesquisa eles foram além”, diz sorrindo.
Dinâmica do julgamento
Primeiramente, a sala é dividida em oito grupos, quatro defendem e quatro serão promotoria. Semanas antes do julgamento, os alunos têm que pesquisar e montar suas teses para a defesa e a acusação. “Eles vão trabalhar em torno dessas teses. Depois, em determinado momento, a sala vira dois grupos e eles escolhem entre eles quem serão os advogados que vão falar. Eu não interfiro em nada nesse processo”, diz.
Após o trabalho de pesquisa e montagem das teses, os alunos que irão falar se preparam para o julgamento e os debates. “Eles se organizam porque cada um terá três tempos de cinco minutos intercalados. A promotoria começa e a defesa termina. No fim, há ainda dois minutos para cada grupo, para as considerações finais”, explica. “Então eles vão debatendo, vão criticando e vão mostrando suas ‘verdades’, porque cada um vai ter a sua”.
Paulo diz também que sete alunos formam o júri, que decidirá qual dos dois grupos se saiu melhor no debate. “Nós chamamos duas salas para assistir ao julgamento e pegamos alunos dessas salas para formar o júri. Explico para esses alunos que vão decidir que eles devem esquecer a parte da história analisar o desempenho dos advogados”.
Um outro professor faz o papel de juiz. “O juiz só vai administrar os conflitos. Quem vai trabalhar todinho o conteúdo do debate são os alunos”. O juiz então fica responsável por limitar os tempos de cada grupo e de negar os protestos que são feitos pelos advogados que aguardam a vez de falar. “Todos os protestos fazem parte da dinâmica do trabalho, mas são negados, porque temos que terminar o julgamento ainda hoje”, disse rindo para os alunos, pouco antes do início.
Já o professor Paulo Ciaccio tem outro papel na dinâmica: o de réu. De bigodinho, terno, gravata e suástica no braço, o professor entra no teatro. “Eu sou o personagem Hitler, o réu. Mas é bom lembrar que sou um pesquisador, não sou um nazista ou neonazista. Eu venho assim para deixar o trabalho mais caracterizado”. Durante o julgamento, o professor arranca risadas dos ‘advogados’ e dos outros alunos que assistem aos debates ao fazer sinal de negativo quando os promotores o acusam, interagindo com o que os alunos falam.
Trabalho didático-pedagógico
Em diversos momentos do julgamento, o professor procura deixar claro que este é um trabalho didático-pedagógico. “É um trabalho didático-pedagógico, eu sempre falo para eles, mas é um trabalho interno, escolar, e não para se exibir como nazista no meio da rua”, diz.
Paulo diz que além dos alunos gostarem do julgamento, o trabalho também auxilia na formação deles. “Ajuda a ensinar a pesquisa, o trabalho em equipe, o discernimento da verdade e da história. Qual é a verdade histórica? É aquela que o estudioso, que o pesquisador vai atrás. Então não existe uma verdade só e é isso que eu tento mostrar para eles”, reitera.
No entanto, segundo o professor, ainda há quem julgue de maneira errada o trabalho. “Esse tema é um tabu. Entre os alunos nunca houve quem não gostasse. Os alunos acham a ideia maravilhosa e diferente porque eles estavam acostumados com um padrão de aula tradicional”, diz. “Muitos pais, muitas pessoas religiosas acham que meu trabalho é um absurdo. Porque, como pode alguém, defender Adolf Hitler? Então eu já fui muito criticado inclusive por isso”, lamenta. “As pessoas têm que entender que é um trabalho escolar crítico, de um personagem histórico”, justifica.
“Eu sempre digo que o trabalho é um debate. Não tem vencedor. É um trabalho didático, então um grupo vai acabar se saindo melhor do que o outro. É isso que a gente quer: na hora de trabalhar, na hora de se expressar, na pesquisa é que o aluno acaba tendo um pouquinho de crescimento. Esse é o nosso objetivo, fazer o aluno crescer”, acredita.
Uma carreira promissória
0Gabriel Perissé no Observatório da Imprensa
Em seu livro Conversas com um professor de literatura (Rocco, 2013), Gustavo Bernardo (UERJ) explica que um dos motivos para os baixos salários docentes é uma visão negativa, compartilhada por muitos, com relação à profissão (“coitado, ele é professor”), embora todos concordemos sobre a importância da educação.
O professor é visto como menos capacitado do que outros profissionais “porque se conforma em não produzir conhecimento para apenas reproduzi-lo”, escreve Gustavo. A sociedade deseja educação de qualidade, no entanto, considera (implicitamente) que os professores já recebem a remuneração adequada, ou, pelo menos, o equivalente à de outros subempregados. É por isso que as greves dos professores incomodam, mas não comovem a população. Greve é notícia lateral na imprensa, com maior ênfase apenas se houver manifestação nas ruas e pancadaria.
Sem dúvida, houve e sempre haverá, na cabeça de cada um de nós, aqueles poucos professores especiais, idealizados, formadores, e não apenas “aulistas” que exigem decoreba. Os heróis se destacam de um grupo maior, marcado pela rotina e abnegação. Os heróis brilham na mídia vez por outra, romanticamente apresentados, referências eternas do que é ser um verdadeiro educador. Professores heróis não reivindicam melhorias salariais…
Brilhando pela ausência
Na edição 186 (novembro – 2013) da Revista Você S/A, são divulgadas informações atualizadas sobre os salários que as empresas estão pagando agora e o que pretendem pagar em 2014 para duzentos cargos em oito áreas profissionais diferentes. A palavra “salário” sobressai na capa dourada. Como era de se prever, o miolo não menciona a profissão docente.
As áreas contempladas são tecnologia, finanças e contabilidade, recursos humanos, seguros, advocacia, marketing e vendas, engenharia e mercado financeiro. Na área tecnológica, por exemplo, um analista de negócios em início de carreira recebe em média 5 mil reais por mês. Um engenheiro experiente atuando como gerente de logística ganha 10 mil reais por mês, em média. Todos trabalhando 40 horas por semana. Talvez um pouco mais, como tem acontecido com todo mundo.
Por lei, o soldo de um professor iniciante, com curso superior, por uma jornada de 40 horas, não pode ser inferior a R$ 1.567. Na rede estadual de São Paulo o valor oficial é de R$ 2.415,89. Na maior parte dos estados brasileiros é sempre inferior a isso.
Quanto realmente os nossos professores recebem é difícil calcular. As variações regionais são grandes. E pensemos naqueles que trabalham na rede pública um período do dia e, outro, na rede particular. De qualquer modo, é fato consabido que um professor de nível superior, trabalhando na educação básica, ganha, em média, 50% do que recebem outros profissionais de mesmo nível e grau de experiência. (O caso dos professores universitários não é menos degradante: faculdades particulares da capital de São Paulo podem pagar a fortuna de 30 reais pela hora/aula de um profissional com doutorado.)
O Plano Nacional de Educação 2011-2020 (ainda não aprovado!) previa a equiparação do salário dos docentes com o de profissionais de escolaridade semelhante para o ano de 2017. Como o PNE continua travado em infinitas discussões, o cumprimento dessa meta ficou para 2020, se tivermos sorte.
Advogados do saber
O professor brilha pela ausência na matéria da Você S/A. Ninguém, em sã consciência, há de desejar tal carreira promissória (e nada promissora). A menos que sua condição financeira desfavorável encontre na docência algum tipo de ascensão social.
Digamos que 2013 fosse 2020. Que o PNE já foi aprovado e o discurso unânime a favor da educação se transformou em ações coerentes de valorização docente. O salário é um dos itens dessa valorização. Como analogia, pensemos no salário fixo de um advogado. Um advogado júnior, hoje, num escritório médio, atuando na área do contencioso tributário, ganha (sem falar em bônus) algo em torno de 5 mil reais por mês. Está de bom tamanho para um recém-formado!
Analogamente, portanto, esbocemos uma tabela de salários justos para a profissão docente. Um “advogado” do saber merece remuneração condizente com sua função social, estratégica para o futuro do país. Um professor júnior (com graduação obrigatória) ganharia 5 mil reais (jornada de 40 horas, sendo um terço destinado à preparação de aulas, pesquisa, tempo para a formação continuada etc.). Um professor pleno (com pós-graduação lato sensu) ganharia no mínimo 8 mil reais. Um professor sênior (com mestrado ou doutorado) receberia seus 10 e 12 mil reais, respectivamente.
Esta tabela teria algumas implicações. Esses valores seriam igualmente vigentes para professores da educação infantil ou do ensino superior. Talvez fosse o caso de ainda acrescentar um bônus permanente para os professores da alfabetização/letramento, base decisiva para os níveis posteriores. Os professores ganhariam o mesmo, estivessem eles no sul ou no nordeste, em Roraima ou em Brasília. O professor não precisaria acumular empregos. Estaria vinculado e compromissado com uma só instituição de cada vez. Outra exigência: a tabela valendo para instituições públicas e privadas. Isonomia.
E um sistema de avaliação docente decente, para que os professores se preocupassem em manter-se à altura do seu salário.
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Gabriel Perissé é professor e escritor; www.perisse.com.br