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Spotlight: Segredos Revelados chega na Netflix esse mês
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Cristina Danuta
Finalmente o filme ganhador do Oscar de melhor filme em 2016 chegou ao catálogo da Netflix. Spotlight: Segredos Revelados, conta a história de uma equipe de implacáveis repórteres e editores do jornal Boston Globe que começam a investigar diversos casos chocantes de abusos sexuais encobertos pela igreja católica.
O filme foi inspirado no livro, de mesmo nome, que inclusive ganhou o prêmio Pulitzer em 2003. Além de melhor filme, ele também levou o Oscar de melhor roteiro original.
Eu cheguei a ver o filme assim que ele entrou em cartaz nos cinemas. Um filmaço com excelentes atuações.
No Brasil o livro foi publicado pela Editora Vestígio, do Grupo Autêntica. Assista o trailer abaixo:
Spotlight: Segredos Revelados já está disponível na Netflix desde 1º de janeiro de 2019.
9 lições que ‘Spotlight’ te ensina sobre o jornalismo
0Flávia Marreiro, no El País
Não chega a ser uma heresia usar o formato consagrado pelo BuzzFeed, o símbolo do reino da Internet, para falar sobre Spotlight, o indicado ao Oscar de melhor filme em 2016 que já nasce um clássico do jornalismo. O filme é uma homenagem às redações de jornal, esses lugares românticos e duros e tão deliciosamente século 20, mas traz também lições perenes para jornalistas de todas as épocas e para os milhões de ombudsmen da imprensa nas redes sociais. CONTÉM SPOILERS.
1 – É o sistema, estúpido
Chega ao Boston Globe Marty Baron (Liev Schreiber), um diretor de fora com fama de cortador de vagas, e ele poderia ser só isso mesmo. Mas o filme recorda o poder de armas imprescindíveis para o jornalismo: desnaturalização e distanciamento. Quando o editor resolve revisitar um tema com novo ângulo e novos recursos é que a mágica acontece. O maior dos especialistas e cavador de notícias exclusivas vai sempre precisar de alguém para fazer as perguntas básicas e não tão básicas. O “follow the money” (siga o dinheiro), a lição clássica do Todos os Homens do Presidente (1976) para o escândalo que derrubou Richard Nixon, se soma ao “get the system” (mostre os problemas do sistema). Poderia ser mais uma história sobre maçãs podres na Igreja Católica e virou uma reportagem sobre o sistema corrompido da instituição com impacto mundial. Reflita: quem está na cadeia de comando das atrocidades que vemos por aí?
2 – Agradeça a essa gente mal vestida e monotemática
Raramente há grandes reportagens com informações exclusivas – por definição, algo que alguém poderoso não queria que viesse a público – se não há por trás um jornalista que se obcecou por um tema, ficou até mais tarde, provavelmente brigou com familiares e amigos por causa disso, encheu o saco de alguém, talvez o do próprio editor. Enfim, virou monotemático. De quebra, o filme revela ainda outra dura verdade: somos uma classe que se veste mal. Pobre da atriz Rachel McAdams com
essas pantalonas horrendas (descontado o custo fim dos 90, aqui o que New York Times escreveu sobre isso). Seja como for, uma salva de palmas para esses bravos pelo mundo, e uma reflexão da ombudsman da Folha, Vera Guimarães: jornalismo investigativo é o mais caro e o que mais sofre com a crise do modelo de negócios do setor.
3 – Os cínicos não servem para essa profissão
Se você, como eu, saiu do cinema frustrado por nunca ter feito uma reportagem que abalasse a República, console-se pensando que o sol nasce para todos. Há os que veem as árvores, há os que veem as florestas – o jornalismo precisa dos dois. A equipe do Spotlight tinha o Mike Rezendes (Mark Ruffalo) no braço investigativo, mas tinha Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) na rua. Sem ela, sua entrega e seu esforço de empatizar com o entrevistado, faltaria uma peça importante. Pfeiffer lembra, como diria o jornalista polonês Ryszard Kapuscinski, que os cínicos não servem para essa profissão.
4 – Vai mesmo ignorar o doido de redação?
O filme redime um personagem típico: o doido da redação. Todo veículo enfrenta milhares de telefonemas e e-mails prometendo o furo (a notícia exclusiva) do milênio, assim como ativistas e especialistas (verdadeiros e fakes) nos mais variados temas. O filme prova que o Boston Globe errou ao ignorar o insistente Phil Saviano e sua pequena associação das vítimas de abuso. Jornalismo requer paciência e curiosidade, mesmo quando isso é um desafio.
5 – Há mudanças e mudanças
Já no final do filme, os jornalistas comemoram poder publicar na Internet a cópia dos documentos sobre os casos de abusos e pedofilia e o efeito multiplicador que isso teria. É um índice do que a Internet ofereceria ao jornalismo já naquele longínquo 2001. Além de bagunçar o modelo de negócios do jornalismo do século 20, a rede trouxe muito mais gente para a conversa, novos formatos e possibilidades. Há temas que, não adianta torcer o nariz, vão ficar melhor em listas tipo BuzzFeed: dos dez mandamentos às melhores cenas de gatos. E para outros não há como escapar da reportagem. Marty Baron, o diretor do jornal filme, agora comanda mudanças no Washington Post.
6 – Que notícia você leu sobre a Assembleia de São Paulo?
Exibido nos cinemas, o trailer alternativo é uma meta-homenagem: diretores e atores comentam da importância do jornalismo para a democracia, comentam que o Boston Globe é apenas metade do que era em 2001 e falam do perigo da morte dos jornais locais nos EUA, que fazem um tipo de jornalismo insubstituível. Pense com eles: qual a foi a última notícia que você leu sobre a Assembleia de São Paulo?
7 – O charuto, às vezes, é apenas um charuto
É tarefa do leitor saber o que está lendo, onde está lendo e como as características políticas e ideológicas de quem publica pode influenciar o material. Dito isto, um título que você achou um acinte ou a ausência daquela pauta que ninguém viu, só você diferentão, podem ser apenas produto de um mau dia de um jornalista ou incompetência mesmo. Como diria Freud, o charuto às vezes, é só um charuto. A cara do personagem de Michael Keaton quando descobre que ele mesmo deixou a pauta dos abusos sistêmicos passar sob seu nariz quando era editor é desoladora (e reveladora).
8 – Bom repórter tem sorte
Alguém alguma vez me disse que bom repórter tem sorte. Se você for obcecado e persistente, você multiplica as chances de sorte, de a fonte amolecer e resolver te contar algo, como em algum momento o ótimo advogado faz com o repórter interpretado por Mark Ruffalo. De acordo. Mas, às vezes, sorte é sorte mesmo. Você disse a palavra certa, na hora certa, estava no lugar certo e fica se sentindo tocado pelo deus do jornalismo.
9 – Independência é melhor que engajamento
O editor Baron vai até ao poderoso cardeal da Igreja em Boston e diz: é melhor para o jornal ser independente do que seguir na relação de compadrio com a instituição. Deveria ser o básico, mas não é, especialmente em uma época em que muitos leitores cobram adesão às mais diversas causas e partidos e estrilam quando confrontados com qualquer abordagem crítica se o assunto em questão for o de sua predileção.
Livro mostra bastidores da investigação que inspirou “Spotlight”
0Obra traz detalhes da série de reportagens do The Boston Globo que revela os abusos sexuais por parte de padres
Paulo Lannes, no Metrópoles
No dia 28 de fevereiro, o filme “Spotlight: Segredos Revelados” surpreendeu ao levar o troféu de melhor filme durante a cerimônia do Oscar. A história é baseada na apuração feita em 2002 pela equipe do jornal The Boston Globe sobre casos de abuso sexual de crianças por líderes católicos. Essa série de matérias, que também ganhou o Prêmio Pulitzer na época em que foi publicada, foi transformada em um livro (R$ 39,90, Editora Autêntica), que leva o mesmo nome da obra cinematográfica.
Mais do que apresentar as reportagens do caso revelado pelo jornal norte-americano, a obra literária visa também dar detalhes sobre o passo-a-passo dos jornalistas. Os capítulos explicam de maneira bem didática os jargões e as técnicas utilizadas pela equipe do The Boston Globe enquanto eles vâo à caça de provas dos atos criminosos.
Também estão lá alguns dos milhares de documentos que provaram as denúncias, relatos de padres, depoimentos dos repórteres e até um prefácio assinado por Tom McCarthy, diretor do filme laureado com o Oscar. Uma boa leitura para quem busca compreender os bastidores de uma redação de jornal.