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Quarto de despejo – Diário de uma favelada: a escrita como válvula de escape
0Carolina Maria de Jesus, moradora da antiga favela do Canindé, em São Paulo, relatou em seu diário o cotidiano miserável de uma mulher negra, pobre, mãe, escritora e favelada.
Estela Santos, no Homo Literatus
Introdução
Alguns escritores já escreveram sobre o cotidiano miserável das favelas, mas a grande maioria o fez de uma perspectiva de fora, isto é, sem viver, de fato em uma favela. Em Quarto de despejo temos uma perspectiva diferente: quem escreve é alguém que viveu na favela: a perspectiva é de Carolina Maria de Jesus, moradora da, agora, antiga favela do Canindé de São Paulo¹, uma catadora de papel e de outras sucatas, uma mulher negra, pobre, mãe, escritora e favelada.
O diário foi escrito na década de 1950 e conta a dura realidade dos favelados de Canindé e dos seus costumes. Trata-se de um diário relata e denuncia a violência, miséria e fome – bem como a dificuldade para se ter o que comer.
E como Carolina foi descoberta? O jornalista Audálio Dantas foi encarregado de escrever uma matéria sobre uma favela que vinha se expandindo próxima a beira do Rio Tietê, no bairro do Canindé. Em meio a todo rebuliço da favela, Dantas conheceu Carolina e percebeu que ela tinha muito a dizer, e logo desistiu de escrever a matéria.
A negra Carolina escreveu a (sua) história da favela em 20 cadernos encardidos, cadernos que ela encontrou em meio às suas andanças em busca de sustento para seus três filhos: João José, José Carlos e Vera Eunice. Como o próprio jornalista declara: “repórter nenhum, escritor nenhum poderia escrever melhor aquela história – a visão de dentro da favela”.
O livro conserva a escrita de Carolina, sua sintaxe, seu discurso. Audálio Dantas apenas alterou algumas vírgulas e palavras que seriam incompreensíveis aos leitores, também cortou excesso de repetições de certas situações, assim a leitura do diário não se torna exaustiva.
Quarto de despejo é atemporal. Os anos se passaram, mas a situação de quem ainda vive nas favelas e na miséria ainda é muito semelhante à situação de Carolina décadas atrás. Além disso, o livro foi traduzido para 13 línguas, sendo referência para os estudos sociais e culturais brasileiros.
O diário de uma favelada
Primeiramente, pensemos no diário, ou melhor, no que é um diário. Carolina escreveu um diário íntimo, que não é qualquer diário: é o diário de uma favelada, o diário de quem morou em uma das favelas assoladas pela miséria e violência na década de 1950, a Canindé.
O diário íntimo tem como característica central a escrita do eu. Essa escrita marca uma identidade, o que nos remete a pensar em: Quem é a pessoa se escreve? Quem é a pessoa que fala de si? A identidade da narradora, que é Carolina, é basicamente esta: mulher, negra, mãe – que cria seus filhos sozinha nos anos 1950 e 1960 –, escritora, pobre e favelada.
Este diário tem como característica forte a autobiografia “real”. Por que este real entre aspas? Porque não existe uma autobiografia sem elementos ficcionais. Nós não conseguimos representar o real pela escrita sem ficção, uma vez que nem mesmo temos acesso a todo real, de fato (um exemplo de autobiografia “real” é o romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, a diferença está em não ser exatamente Paulo Honório, o personagem principal, o autor da história, sua história ganha vida pelas mãos do escritor Graciliano Ramos).
De forma resumida, o diário de Carolina é uma espécie de literatura-verdade, que relata a cruel e triste vida na favela. Sua linguagem é ao mesmo tempo simples e rebuscada: simples pela forma que escreveu algumas palavras, aproximando-se da linguagem oral (como “iducada”) e rebuscada pelas palavras altamente cultas que utiliza (como “funestas”). Seu diário comove leitores devido a sensibilidade como conta os acontecimentos durante os anos que morou em Canindé. Percebemos que tudo que é narrado, Carolina sentiu, viu, vivenciou.
Carolina Maria de Jesus escreveu o diário entre 15 de julho de 1955 à 01 de janeiro de 1960. Não escreveu todos os dias, às vezes passava cerca de três a dez dias sem escrever. Percebemos, porém, que na maioria das vezes era porque estava doente e sentia-se fraca.
A formação educacional e escolar de Carolina
Carolina se mostra uma mulher educada e que se preocupa com a educação de seus filhos; embora não tenha tido estudado muito, relata que se preocupou em formar seu caráter, ser uma pessoa de bem. Através do diário, que possui inúmeras reflexões, fica evidente que ela tem uma imensa preocupação com a sociedade e a política.
Uma autodidata: aprendeu a ler e escrever com os cadernos, revistas e jornais que encontrava pelas ruas. Conforme conta: “Tenho apenas dois anos de grupo escolar” (JESUS, 2007, p.16). Sua mãe sonhava em vê-la professora, mas o destino e a vida de miséria não permitiram.
A escritora dava muito valor à formação escolar e preocupava-se, sobretudo com a formação de seus filhos. Mesmo tendo imenso medo da violência da favela, mandava-os à escola, fazia questão de que eles estudassem.
A fome e a cor da fome
Como citado anteriormente, Carolina coletava papelão e sucatas nas ruas de São Paulo. Esta era a forma como sustentava seus filhos. No entanto, o dinheiro nem sempre era suficiente, muitas vezes não havia nada para comer e ela e os filhos iam dormir com fome.
A fome permeia todo o diário. Carolina mostra a preocupação que tem em alimentar bem seus filhos, todo dinheiro é utilizado para comprar alimentos (ou sapatos para as crianças, pois se preocupava muito com os filhos e sentia pena ao vê-los descalços). O diário nos mostra a escritora contando dinheiro quase todos os dias no intuído de comprar alimentos: quando conseguia comprar arroz, feijão e carne, conforme conta, era um dia de festa, via a felicidade estampada no rosto de cada filho.
Também pegava verduras e legumes, que eram descartados nas feiras, fábricas e mercados. E quando ela e os filhos não tinham nada pra comer e estavam passando fome, comiam alimentos que encontravam no lixo. Às vezes Carolina também pegava ossos em um frigorífico e com eles fazia uma sopa para as crianças.
Carolina trabalhava demais e mesmo assim ainda não dava conta de comprar comida; muitas vezes passava mal, tinha tonturas por causa da fome. Declara que a tontura da fome é pior que a do álcool: “A tontura do álcool nos impede de cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago” (JESUS, 2007, p. 45).
Depois de pegar tudo que encontrou pelas ruas para vender, Carolina ganhou algum dinheiro e resolveu “tomar uma media e comprar um pão”, em seguida fala sobre a cor amarela da fome:
“Que efeito surpreendente faz a comida no nosso organismo! Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos.
… A comida no estômago é como o combustível nas maquinas. Passei a trabalhar mais depressa. O meu corpo deixou de pesar. Comecei a andar mais depressa. Eu tinha impressão que eu deslisava no espaço. Comecei a sorrir como se estivesse presenciando um lindo espetáculo. E haverá espetáculo mais lindo do que ter o que comer? Parece que eu estava comendo pela primeira vez na minha vida” (JESUS, 2007, p.45-46).
A pobre Carolina demonstra nervosismo em vários dias narrados no diário. O(s) motivo(s) era(m) o fato de não ter dinheiro para comprar um pouco de arroz sequer: o medo da fome, o medo da enfermidade e o medo de morrer. Ficava ainda mais nervosa quando o fim de semana chegava e ficaria com os filhos em casa sem ter o que comer o dia inteiro: “Deixei o leito furiosa. Com vontade de quebrar e destruir tudo. Porque eu tinha só feijão e sal. E amanhã é domingo” (JESUS, 2007, p 108).
A favela: violência e alcoolismo
A favela do Canindé, como a própria Carolina relata, é extremamente violenta: homens batem em suas mulheres que, às vezes, saem correndo nuas de seus barracos, o que, para os favelados, é um espetáculo e não um absurdo; mulheres brigam por inúmeros motivos, inclusive por coisas banais; homens brigam com vizinhos também por inúmeros motivos; homens desafiam crianças. Tudo é motivo de briga.
A violência é muitas vezes causada pelo álcool. Carolina não bebe, diz que beber é um gasto desnecessário, que o vício no álcool gera violência e que prefere gastar seu dinheiro, conseguido com tanto esforço, comprando alimentos para seus filhos. Pais e mães bebiam na favela, o que acabava por causar mal aos seus filhos diretamente e indiretamente. Veja este relato:
“Assustei quando ouvi meus filhos gritar. Conheci a voz de Vera. Vim ver o que havia. Era Joãozinho, filho da Deolinda, que estava com um chicote na mão e atirando pedra nas crianças. Corri e arrebatei-lhe o chicote das mãos. Senti o cheiro de alcool. Pensei: ele está bêbado porque ele nunca fez isto. Um menino de nove anos. O padrasto bebe, a mãe bebe e a avó bebe. E ele é quem vai comprar pinga. E vem bebendo pelo caminho.
Quando chega, a mãe pergunta admirada:
— Só isto? Como os negociantes são ladrões!” (JESUS, 2007, p.109)
Como podemos observar no trecho acima, um menino de 9 anos, já é influenciado pelo costume de seus familiares, isto é, desde cedo bebe pinga e já pratica atos de violência, algo extremamente recorrente na favela, e ninguém se dá conta (ou não se importa), a não ser ela, Carolina. Esta costumava sempre separar brigas na favela ou chamar a polícia, e por essa razão era chamada de intrometida pelos vizinhos. Ela detestava violência e não queria aquelas cenas violentas na favela, cenas que as crianças viam e aplaudiam. Contudo, a violência em Canindé era pública, uma espécie de espetáculo ao ar livre que todos paravam pra assistir.
Relacionamentos amorosos
A moradora do Canindé dizia que não queria se casar, que preferia criar seus filhos sozinha, que não precisava de homem para criá-los. Além disso, fazia uma comparação com as mulheres da favela que apanhavam de seus homens/maridos: do quê adiantava não ser sozinha e apanhar de um homem (principalmente quando bebem)?
Durante o período do diário, passam pela vida da escritora dois homens: Manoel e Raimundo. Manoel um homem distinto, trabalhador e que insiste em casar com ela. Raimundo, um cigano, belo e sedutor. Mas Carolina não fica com nenhum dos dois, tem alguns envolvimentos, nada além. Sempre quis ficar sozinha, não queria um homem na casa em que vivia com seus filhos.
Questões políticas e sociais
A escritora sempre lia revistas e jornais, procurava sempre estar a par das questões políticas e sociais do país. Lembrando que em 1950 vivia-se no governo Juscelino Kubitschek (1955-1960), época do progresso, da expansão do país, período do “50 anos em 5”. Nesta época, Brasília era construída, o símbolo do desenvolvimento do Brasil, que representava a ideologia da época. E realmente foi um período de desenvolvimento no que fiz respeito a infraestrutura do país: grandes obras foram construídas; avenidas foram alargadas; pontes foram construídas; túneis foram feitos – tudo isto aumentou ainda mais a circulação de automóveis.
Em sua narrativa, Carolina dá um tom de sensibilidade ética no que diz respeito à política. Falava das condições de vida das pessoas pobres, falava da miséria, da fome, da falta de educação e instrução, da divisão de classes, exclusão social e ideologia da época. Carolina comparava a cidade como uma espécie de sala de visitas e favela, por sua vez, era o quarto de despejo:
“… As oito e meia da noite eu ja estava na favela respirando o odor dos excrementos que mescla com o barro podre. Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de viludos, almofadas de sitim. E quando estou na favela tenha a impressão que sou um objeto fora do uso, digno de estar num quarto de despejo” (JESUS, 2007, p.38).
Se de um lado o país crescia, sobretudo a cidade de São Paulo, por outro mais pessoas iam para os quartos de despejo, repletos de miséria e violência. O motivo é: o governo e as grandes empresas, visando o progresso e o lucro, tomavam conta das terras onde havia as favelas, o que gerava ainda mais despejos, ainda mais exclusão social.
Breve conclusão (ou: por que Carolina escrevia todos quase todos os dias, afinal?)
Como consta no título deste modesto ensaio, em Quarto de despejo a escrita é uma “válvula de escape”. Uma forma de fuga da realidade. E qual seria esta realidade? A realidade vivida por Carolina é permeada pela miséria, pela fome, pela violência, pela tristeza e por poucos momentos de felicidade.
Em entrevista, a escritora Carolina Maria de Jesus conta o que a motivava escrever:
“Quando eu não tinha nada o que comer, em vez de xingar, eu escrevia. Tem pessoas que, quando estão nervosas, xingam ou pensam na morte como solução. Eu escrevia o meu diário” (JESUS, 2007, p. 195).
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¹ Em 1960, Canindé foi extinta para a construção da Marginal do Tietê.
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Dicas musicais:
Uma música dos anos 50, época em que se passa parte do Diário: Saudosa Maloca, de Adoniram Barbosa.
Ainda sobre a fome: Ronco da Cuíca, de João Bosco.
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Referências
BENEVENUTO, Silvana José. Quarto de despejo: A escrita como arma e conforto à fome. Revista online do Grupo de Pesquisa e Estudos em Cinema e Literatura. Disponível em: <http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/baleianarede/article/viewFile/1359/1184> Acesso em: 29 de set. 2014.
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: Diário de uma favelada. 9ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2007, (Sinal Aberto).
Quadrinista uruguaio faz ‘poesia gráfica’ com cotidiano
0Douglas Gravas, na Folha de S.Paulo
Nos desenhos de Gervasio Troche, 37, maestros regem cruzamentos para controlar o trânsito de notas musicais, homens se equilibram na linha do horizonte —e não estranhe se uma árvore resolver brincar de balanço.
O uruguaio é integrante de uma safra de quadrinistas latino-americanos, como os argentinos Ricardo Liniers e Pablo “Kioskerman” Holmberg, que se preocupam em publicar obras mais autorais.
Ele lança no Brasil “Desenhos Invisíveis”, coletânea de quadrinhos publicados entre 2009 e 2012 em seu blog (portroche.blogspot.com).
O artista veio ao país para uma série de encontros viabilizados por meio de um financiamento coletivo criado pela editora no site Catarse.
Em 45 dias, mais de 300 pessoas contribuíram com um total de cerca de R$ 18 mil, para custear os eventos em quatro cidades. Ele já esteve em São Paulo e no Rio, estará em Curitiba nesta segunda (29), às 19h, na Itiban Comic Shop (av. Silva Jardim, 845; tel. 41-3232-5367) e no Recife, na quinta e na sexta (2 e 3).
Suas histórias não têm diálogo e muitas vezes se resolvem em uma imagem, como “poemas gráficos” que revelam perspectivas inusitadas e mais gentis do cotidiano.
“Nos desenhos, tento atingir alguém que pensa como eu, mas que não conheço. Acho que tento ser compreendido pelo outro, me inspirar naquilo que nos faz humanos”, diz Troche.
Filho de artistas militantes do grupo de esquerda Tupamaros, Troche nasceu na Argentina nos anos 1970, após seus pais deixarem o Uruguai, então sob uma ditadura que se arrastaria por quase 12 anos.
Ele passou a infância no México e na França, até a família voltar ao Uruguai, onde ele se naturalizou e ainda vive.
“Como era criança, amava todos os lugares em que vivi. Aquele exílio era dos meus pais. Pude entendê-los quando a família voltou para o Uruguai, perder raízes é difícil para qualquer um”, diz.
Exilada de olhares banais, sua obra capta profundidade em cenas singelas: o sol que se esconde debaixo da água após o poente, a sombra do astronauta refletindo o universo, a felicidade de se observar as estrelas.
“É difícil poder ver inteiramente o universo. Meus desenhos são como pequenos pontos de um mundo particular.”
DESENHOS INVISÍVEIS
AUTOR Gervásio Troche
EDITORA Lote 42
QUANTO R$ 29,90 (160 págs.)
Sobrinha-neta de Tarsila do Amaral diz que ‘Abaporu’ nasceu de autorretrato
0Tarsilinha expõe sua tese no livro ‘Abaporu: Uma Obra de Amor’, que será lançado em breve
Edison Veiga, no Estadão
Um autorretrato ousado. Um presente cheio de paixão. Quase 90 anos após ter sido pintada, Abaporu, a tela brasileira mais valorizada da história, ganha uma nova interpretação. Deve sair nos próximos meses o livro Abaporu: Uma Obra de Amor, escrito por Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta e responsável pelos direitos da obra da pintora modernista. (Leia trecho aqui.)
O livro foi a maneira encontrada por Tarsilinha para tornar público o insight que a acompanha há alguns anos: que o quadro mais famoso de sua tia – e um dos mais importantes da arte brasileira – foi, na verdade, um autorretrato de Tarsila, possivelmente nua, em frente a um espelho, feito para impressionar sua grande paixão, na época, o escritor Oswald de Andrade.
Foi por sugestão de uma amiga que Tarsilinha aventou essa hipótese pela primeira vez. Em 2011, resolveu fazer um inusitado teste – para “tirar a prova” de tal versão. Ela lançou a possibilidade de que o quadro fosse a reprodução de uma imagem refletida num espelho, um espelho que estivesse levemente inclinado, criando a deformação que caracteriza a obra.
Aproveitando-se da semelhança física com a tia-avó ilustre, Tarsilinha posou para um espelho inclinado – de forma similar à foto que aparece nesta página. “Ou seja, procurei imitar a provável pose que a artista teria assumido quando pensava no quadro que faria, naquele longínquo dia de 1928”, diz ela, em trecho do livro. “A mágica se completou: a imagem que vi no espelho lembrava de maneira impressionante a figura do Abaporu, como se de repente tivéssemos nos deslocado no tempo e no espaço e, por um encantamento, encontrássemos a resposta de um enigma, uma chave nova para compreender uma obra por si tão cheia de mistério.”
Tarsilinha recorreu a fotos e memórias de família para comprovar ainda mais fortemente sua interpretação. De acordo com uma sobrinha da pintora, Helena do Amaral Galvão Bueno, na casa onde Tarsila vivia com Oswald em 1928 havia um enorme espelho inclinado, apenas encostado na parede, justamente no corredor anexo ao quarto-ateliê que ela dividia com o escritor.
“Outra semelhança entre a pintura e a pintora está no pé. Assim como o Abaporu, familiares acreditam que Tarsila também tinha o segundo pododáctilo maior do que o primeiro, o hálux”, conta Tarsilinha. “Este detalhe anatômico teria sido percebido, na infância, por uma das sobrinhas-netas da pintora, Marília Estanislau do Amaral Powers – ela própria também dotada dessa característica, o que, por ser hereditária, só reforça a tese. Irmão de Tarsila, Milton Estanislau do Amaral, era outro da família que tinha os dedos dos pés assim.”
Ciente da importância de Abaporu para a arte brasileira, bem como da potência das interpretações consagradas acerca do significado do quadro, Tarsilinha não pretende que essa sua conclusão se sobreponha ao sentido mais amplo e metafórico que a tela atingiu. “Com este livro, não quero mudar a brilhante ideia que Oswald de Andrade teve ao achar que o Abaporu era o homem plantado na terra. O importante é que fique também clara a inspiração da obra, a perspicácia de Tarsila do Amaral – sua capacidade de transformar uma cena do cotidiano, do acaso, no mais famoso quadro brasileiro de todos os tempos.” Ou seja: ela lança um novo olhar à obra da tia-avó e reconhece que, para artistas geniais, a simplicidade do cotidiano é o bastante para impulsionar a criação.
A SAGA DE UM QUADRO
1928
Tarsila pinta o Abaporu e dá o quadro de presente de aniversário para Oswald de Andrade
1930
O casal se separa. Na divisão dos bens, Oswald leva O Enigma de Um Dia, de Giorgio de Chirico, e deixa o Abaporu
Anos 1960
Tarsila vende o quadro para o colecionador Pietro Maria Bardi. Um mês depois, Bardi repassa a obra para o colecionador Érico Stickel.
1984
Stickel vendeu a obra para Forbes, por US$ 250 mil – recorde na época para um quadro brasileiro
1995
Em leilão na casa Christie’s, em Nova York, o empresário argentino Eduardo Constantini paga US$ 1,5 milhão pelo quadro, o preço mais alto já pago por uma tela brasileira. Hoje, o quadro está no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires
Concurso Cultural Literário (21)
24Neste livro, o célebre frasista e escritor Dirceu Ferreira, colaborador do antológico Pasquim, reúne suas mais divertidas e engraçadas frases sobre o cotidiano brasileiro. Com humor sutil e por vezes ácido, é um brilhante cronista da realidade nacional, já que, ao retratar cenas do dia a dia em suas frases hilariantes e contundentes, consegue promover, ao mesmo tempo, uma reflexão e uma risada. Suas centenas de máximas são acompanhadas de ilustrações do cartunista Nani. Além das frases e das charges, há no livro alguns fac-símiles de cartas e bilhetes de figuras importantes do cenário cultural brasileiro que influenciaram Dirceu e ao mesmo tempo foram influenciadas por seu trabalho, como Carlos Drummond de Andrade, Ziraldo, Henfil, Zuenir Ventura e até mesmo o jogador de futebol Tostão, que assina o prefácio da obra.
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Dirceu era admirado por Millôr, Jaguar e Henfil, que se inspirou nele para criar o personagem Ubaldo, o paranoico. Seus trocadilhos não são meros jogos de palavras.
Zuenir VenturaDirceu faz mais de cem frases por dia. Como qualquer ser humano normal. Todas engraçadas, eis a diferença.
ZiraldoRelaxe e aproveite o mundo imaginário e engraçado de Dirceu. Você vai adorar!
TostãoO humor de Dirceu faz pensar fazendo rir.
Zuenir VenturaAs frases do Dirceu são humoradas e inteligentemente percucientes, bem afiadas e, como diz Ariano Suassuna, “com memória de cachorro vingativo”.
Mário Sérgio Cortella
Chegando mais um Concurso Cultural Literário!
Para participar é só responder: Qual é a sua máxima favorita no cotidiano? Quem responder concorrerá a 3 exemplares de Máximas do Dirceu. A resposta deve ser de até 2 linhas.
Se for participar pelo Facebook, por gentileza colocar um email de contato.
O resultado será divulgado no dia 25/10, às 17h30 nesse post e também em nosso perfil do twitter: @livrosepessoas.
Boa sorte!
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Parabéns: Beatriz Santos, Mario Marcio Felix e Luciana Estevam.
Por gentileza enviar seus dados completos para [email protected] em até 48 horas.