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Cinco livros que inspiram viagens dentro e fora do Brasil
0Publicado no Bonde
Um bom livro nos faz viajar sem sair do lugar. Alguns dão vontade de ir onde a história se passa, e conhecer cada pedacinho do lugar que é relatado na obra. O blog Da Porta Pra Fora preparou uma lista de livros que se passam em lugares incríveis e famosos. Confira:
1. Jubiabá, de Jorge Amado (Salvador/ Bahia):
Jorge Amado, um dos autores brasileiros mais prestigiados em todo o mundo, contou muitas histórias sobre a Bahia, das fazendas de cacau e da capital. Este se passa em Salvador e conta a história de Antônio Balduíno que nasceu órfão no morro do Capa-Negro, e tinha como grande referência espiritual o centenário feiticeiro e ex-escravo Jubiabá.
Resenha: Depois de uma infância de liberdade e pequenos delitos nas ruas de Salvador, Antônio Balduíno vira malandro, sambista e desordeiro, até ser transformado em boxeador profissional por um empresário italiano. Encerra a carreira muito cedo ao tomar uma surra no ringue numa noite e acaba indo trabalhar nas plantações de fumo do Recôncavo Baiano. Ao longo dessas muitas vidas, choca-se contra o mundo das mais variadas formas, até atingir um vislumbre de compreensão da realidade que o cerca e de seu lugar nela.
2. O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde (Londres / Inglaterra):
Oscar Wilde relata uma Londres lendária, com uma sociedade extremamente conservadora, que vê o belo Dorian Gray tornar-se o centro das atenções, apesar dos mistérios que esconde. A cidade aparece com glamour e todo mundo sonha em conhecê-la.
Resenha: Dorian Gray é o tema de um retrato de corpo inteiro em óleo de Basil Hallward, um artista que está impressionado e encantado com a beleza de Dorian. Ele acredita que a beleza de Dorian é responsável pela nova modalidade em sua arte como pintor. Através de Basil, Dorian conhece Lorde Henry Wotton, e ele logo se encanta com a visão de mundo hedonista do aristocrata: que a beleza e a satisfação são as únicas coisas que valem a pena perseguir na vida.
3. Clarissa, de Érico Veríssimo (Porto Alegre / Rio Grande do Sul)
Uma cidade do começo do século XX é retratada pelo genial Érico Veríssimo, com detalhes típicos de uma jovem mulher. Um livro lindo e uma cidade de sonho.
Resenha: Clarissa é uma jovem de treze anos, filha de fazendeiros, que vai morar na pensão da tia Eufrasina enquanto estuda em Porto Alegre. No pequeno universo da pensão onde mora, a jovem entra em contato com realidades que seu otimismo juvenil não imaginava que existissem. (mais…)
Iscas de leitura
0Em meio à feiura efêmera da política e da violência, podemos seguir outro poeta e lembrar com Drummond: ‘E como ficou chato ser moderno, agora serei eterno’
Ana Maria Machado em O Globo
Fim de ano e de governo, hora de balanços, promessas, esperanças. Uma encruzilhada dos tempos: também começo de ano e de governo. Em meio a tanta notícia ruim, sequestros, tiroteios, assaltos, massacres de escolares, números negativos e escândalos em série, tudo a alimentar nossa apagada e vil tristeza, o ritual de recomeço procura se nutrir de bons sinais aqui e ali . O reatamento de relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos. O encontro de uma canção inédita nos guardados de Dorival Caymmi. A empolgante vitória de Gabriel Medina como campeão mundial de surfe — e a elegância com que os adversários reconheceram sua grandeza.
O Ano Novo recorda a beleza de começos e recomeços. “Belo porque corrompe com sangue novo a anemia”, como já cantou João Cabral em “Morte e vida severina”. Que seja, então. Mas em meio à feiura efêmera da política e da violência, podemos seguir outro poeta e lembrar com Drummond: “E como ficou chato ser moderno, agora serei eterno.”
Convido então a buscar um pouco dessa beleza eterna. Para muita gente, verão é também tempo de férias, a oportunidade de mergulhar em leituras. Não vou sugerir novidades, isso já foi feito à exaustão nas páginas pré-natalinas. Mas proponho um passeio por começos instigantes. Hoje muita gente só compra livros pela internet, perdendo a oportunidade de folheá-los numa livraria. Então trago ao espaço comum de nosso jornal algumas frases iniciais de bons livros, iscas de romances. Talvez você reconheça algumas, talvez tenha saudades de outra e resolva reler. Pode também se deixar fisgar por uma desconhecida e então a busque para conferir. Os livros virão identificados ao final da coluna. Nenhum é novidade. Mas creio que, sem exceção, cada um poderá dar prazer e ajudar a pensar sobre o mundo que nos cerca — razão pela qual faço questão de trazê-los a esta página de opinião.
A — Em meus anos mais jovens e mais vulneráveis, meu pai me deu um conselho que, desde então, tenho feito virar e revirar em minha mente. “Sempre que tiver vontade de criticar alguém”, disse, “lembre-se de que nem todo mundo teve as vantagens que você teve.”
B — Alguém deve ter dito mentiras sobre Joseph K., pois, sem ter feito nada de errado, certa manhã ele foi preso.
C — No dia em que o matariam, Santiago Nazar levantou-se às 5h30m da manhã para esperar o navio em que chegava o bispo. Tinha sonhado que atravessava um bosque de grandes figueiras onde caía uma chuva branca, e por um instante foi feliz no sonho, mas ao acordar sentiu-se completamente salpicado de cagada de pássaros.
D — O homem me pede fogo. Ergo para ele o isqueiro aceso e noto contrariado que minha mão treme um pouco. Seus olhos cor de zinco se fixam nos meus dedos. Nervoso? Sacudo a cabeça negativamente, odiando-o como se pode odiar a pessoa que nos descobre o segredo que mais queremos ocultar.
E — Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.
F — Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que meus pais faziam antes que eu nascesse, e toda essa lengalenga tipo David Copperfield.
G — Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou. Que ninguém se engane. Só consigo a simplicidade através de muito trabalho.
H —Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.
I — Ela ficou, mas a gota de sangue que pingou na minha luva, a gota de sangue veio comigo.
J — Foi um número errado que começou tudo, o telefone tocando três vezes, altas horas da noite, e a voz do outro lado chamando alguém que não morava ali.
K — Ai, me dá vontade até de morrer. Veja a boquinha dela como está pedindo beijo — beijo de virgem é mordida de bicho-cabeludo. Você grita vinte e quatro horas e desmaia feliz.
L — Foi no verão de 1998 que meu vizinho Coleman Silk — que, antes de se aposentar dois anos antes, tinha sido catedrático de literatura clássica no vizinho Athena College durante mais de vinte anos, além de acumular mais dezesseis como decano da universidade – me confidenciou que, aos 71 anos de idade, estava tendo um caso com uma faxineira que trabalhava na faculdade.
Graças a Scott Fitzgerald (“O Grande Gatsby”), Franz Kafka (“O processo”), Garcia Marquez (“Crônica de uma morte anunciada”), Erico Veríssimo (“Saga”), Machado de Assis (“Memórias póstumas de Brás Cubas”), J. D. Salinger (“O apanhador no campo de centeio”), Clarice Lispector (“A hora da estrela”), Leon Tolstoi (“Ana Karenina”), Lygia Fagundes Telles (“A noite escura e mais eu”), Paul Auster (“Trilogia de Nova Iorque”), Dalton Trevisan (“O vampiro de Curitiba”), Philip Roth (“A nódoa humana”).
Boas leituras.
Ana Maria Machado é escritora
Centro cultural reunirá acervo literário de Erico Verissimo em Porto Alegre
0Cerca de 3 mil itens como originais de livros, cartas e desenhos ficarão à disposição do público para visitação e pela internet

Imagem de computador mostra como deverá ficar o espaço destinado a exibir espólio do autor gaúcho
Foto: Centro Cultural Erico Verissimo / Divulgação
Marcelo Gonzatto, no Zero Hora
Inaugurado em 2002, o Centro Cultural CEEE Erico Verissimo finalmente começa a cumprir sua ambição original: tornar-se um centro de referência para público e pesquisadores sobre a vida e a obra do escritor gaúcho.
Entre o final de agosto e o início de setembro, cerca de 3 mil itens do autor de O Tempo e o Vento – incluindo originais, cartas e desenhos – serão disponibilizados para visitação e também para consulta pela internet.
O projeto, patrocinado pelo Grupo Gerdau e pela CEEE, combina duas coleções diferentes, que pertenciam ao doutor em Letras Flávio Loureiro Chaves e à família do jornalista e bibliófilo Mário de Almeida Lima, morto em 2003 – ambos amigos de Erico. O espólio reúne preciosidades como os originais de várias obras, incluindo trechos inéditos do livro de memórias Solo de Clarineta II e mais de mil páginas datilografadas e corrigidas à mão de O Retrato, segunda parte da trilogia O Tempo e o Vento.
– O Erico tinha um hábito de presentear amigos com originais ao terminar de escrever um livro, então esse material estava com o Flávio e a família do Mário Lima, entre outras coisas como cartas, desenhos – conta a diretora sociocultural do Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (CCCEV), Regina Ungaretti.
A exibição desse acervo recém adquirido, que ocupará o sexto andar da instituição localizada na Rua da Praia, na Capital, ameniza o vácuo deixado pelo envio de outra parte da herança literária do escritor para o Rio de Janeiro. Em 2009, originais e outros documentos sob responsabilidade da família de Erico, mantidos pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), foram remetidos para o Instituto Moreira Salles sob o argumento de que a instituição tinha à época as melhores condições de preservar o material. A remessa foi feita sob regime de comodato com prazo de 10 anos. Agora, com o lançamento do novo espaço, a família Verissimo já admite transferir de volta os cerca de 10 mil itens do acervo localizado no Rio ao final do contrato, em 2019 – o que ampliaria ainda mais a importância do centro gaúcho.
– O material que está no Rio pode vir para o CCCEV no fim do contrato, dadas as novas condições técnicas para sua conservação por aqui – diz Luis Fernando Verissimo, que participa nesta quinta-feira do talk-show Encontros com o Professor no próprio CCCEV.
No terceiro andar do prédio, haverá ainda uma exposição destinada a contextualizar a vida e a obra do escritor, com textos de apresentação de seus principais livros e espaço para crianças. A iniciativa, sob a curadoria do bibliófilo Waldemar Torres e da doutora em Teoria Literária Márcia Ivana de Lima e Silva, foi viabilizada pelo CCCEV e pela CEEE com apoio da Lei de Incentivo à Cultura (LIC).
– É importante destacar que o acervo foi digitalizado e será oferecido pela internet, com exceção dos livros, protegidos por direito autoral – afirma Alvaro Franco, diretor da empresa Backstage, responsável pela produção cultural da iniciativa.
Confira destaques do acervo
> Original de O Retrato (1951), segunda parte da trilogia O Tempo e o Vento. São mais de mil páginas datilografadas com emendas manuscritas.
> Folhas inéditas de pesquisa para escrever O Tempo e o Vento.
> 94 páginas originais, datilografadas ou manuscritas, de Solo de Clarineta II (1976) – memórias do escritor cuja transcrição e organização são de Flávio Loureiro Chaves, pois foram lançadas após a morte de Erico.
> Inéditos de Solo de Clarineta II: 12 páginas originais não foram incluídas pelo organizador no volume impresso das memórias do autor.
> Página pertencente à primeira redação de Incidente em Antares (1971), com anotações e desenhos do autor. Texto inédito que ficou fora da edição definitiva.
> Original de uma sinopse para o cinema de O Resto é Silêncio (1943).
dica do Jarbas Aragão