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Alunos italianos elegem “Mein Kampf” de Hitler um dos livros preferidos
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© Fabrizio Bensch / Reuters
Publicado no SIC
O ministro da Educação italiano teve um choque quando recebeu os resultados de um inquérito aos alunos do ensino secundário sobre os livros preferidos. Inesperadamente, “Mein Kampf – A minha luta” de Adolf Hitler figura entre os eleitos.
A sondagem em 140 mil turmas do ensino secundário destinava-se a perceber quais as obras de autores italianos mais populares, mas os estudantes acabaram por introduzir um autor estrangeiro. E não um “autor estrangeiro” qualquer.
“Mein Kampf” é a obra, em parte autobiográfica, em que Hitler formulou e veiculou a sua ideologia e lançou as bases do nazismo. Foi escrita durante os anos de prisão que se seguiram à tentativa de golpe em Munique em 1923 e publicada a 18 de julho de 1925.
Dez turmas em Palermo, Cantanzro (Calabria), Potenza (Basilicata), Tivoli e Gaeta, Udine, Trieste e Piacenza selecionaram o livro de Hitler como um dos seus preferidos.
Um responsável do Ministério da Educação, Alessandro Fusacchia, classificou a escolha “particularmente obscena”. Realçou, no entanto, que o livro não era elegível porque os alunos deviam escolher obras de autores italianos publicadas a partir de 2000.
Em junho desde ano, o jornal italiano Il Giornale causou polêmica ao oferecer aos seus leitores o livro “Mein Kampf”. A ação chocou a comunidade judaica e até o primeiro-ministro, Matteo Renzi.
Por que você deveria ler o livro ‘Minha Luta’ de Hitler
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Thiago Tanji, na Galileu
As fotos em preto e branco e os vídeos borrados dão impressão de que a Segunda Guerra Mundial aconteceu há muito tempo e já está devidamente enterrada no jardim da História. Mas década de 1940 não está tão longe assim de nós: é muito provável que familiares e conhecidos de você, caro leitor, já eram nascidos enquanto o conflito global acontecia. Em termos históricos, somos praticamente contemporâneos das milhões de mortes de soldados e civis, da bomba atômica e do genocídio sistemático de judeus, homossexuais, eslavos, ciganos e outras minorias. O fantasma do nazismo e o horror liderado pelo ditador austríaco Adolf Hitler, infelizmente, ainda nos assombram.
Parece difícil entender como a nação que foi o berço de Johan Bach, Ludwig van Beethoven, Immanuel Kant, Friedrich Hegel e Albert Einstein também tenha abrigado uma ideologia sustentada a partir do ultranacionalismo e de pseudoteorias raciais para empreender perseguições e assassinatos em massa. Mais espantoso ainda é saber que Hitler não chegou ao poder por conta de um golpe de Estado ou de uma conspiração militar: em 1932, ele recebeu mais de 13 milhões de votos durante as eleições presidenciais da Alemanha, ficando na segunda colocação da disputa, e deputados do Partido Nazista conseguiram dezenas de cadeiras no Parlamento – em 1933, com grande respaldo popular, Hitler seria nomeado chanceler alemão até tomar definitivamente o poder no ano seguinte e iniciar a perseguição a opositores políticos.
É verdade que o carisma e o poder da oratória de Hitler contribuíram para esse momento de “transe coletivo” da população alemã, mas a ascensão do Partido Nazista e os fatos que culminaram com a Segunda Guerra Mundial não devem ser entendidos como uma obra exclusiva do ditador.
Afinal, quando Hitler chegou ao poder, a Alemanha passava por um momento de profunda crise política e econômica: as lembranças da derrota na Primeira Guerra Mundial ainda eram muito recentes e as pesadas sanções impostas por França e Inglaterra se refletiam nos altos índices de desemprego e na inflação incontrolável — para ter ideia, durante a década de 1920, um pão de 50 gramas custava o equivalente a 21 bilhões de marcos alemães, com um índice de inflação superior a 1000% ao mês. Para piorar, o sistema político estava fragilizado e a população não confiava em seus representantes: o Partido Social-Democrata, ligado aos trabalhadores, estava no poder na década de 1920, mas não foi capaz de lidar com os anseios das classes populares.
Como momentos difíceis tendem a aprofundar radicalismos, a conjuntura alemã se tornou um terreno fértil para os discursos de um homem que tinha nascido na Áustria, mas lutado pela Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial. Aos 36 anos, em 18 de julho de 1925, Adolf Hitler publicava Minha Luta, escrito durante o período de sua prisão após uma tentativa de rebelião na cidade de Munique, em 1923.
O livro se tornou o guia ideológico utilizado posteriormente pelo Partido Nazista e reunia a exaltação do sentimento nacionalista baseado a partir de conceitos raciais, o revanchismo contra os países vitoriosos na Primeira Guerra e o funcionamento de um Estado totalitário que não permitia a diversidade política ou partidária.
Alimentado pelos séculos de preconceito e perseguição da religião judaica na Europa, o antissemitismo se tornou uma ferramenta utilizada por Hitler para apontar quem seriam os “grandes inimigos” da Alemanha, justificando a perseguição sistemática aos judeus. Estava montado o espetáculo de horrores que se concretizaria entre as décadas de 1930 e 1940.
Após a chegada de Hitler ao poder, os direitos autorais de Minha Luta foram transferidos para o estado da Baviera, que abriga a cidade de Munique. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha iniciou uma campanha para destruir a herança nazista e impedir que iniciativas desse tipo voltassem a acontecer – até hoje, o Estado alemão se mantém distante de qualquer tipo de evocação política aos sentimentos nacionalistas. Durante 70 anos, o estado da Baviera proibiu que Minha Luta fosse reeditado e vendido, mas ao final de 2015 a obra caiu em domínio público e foi impressa por editoras de todo o mundo. Veja como foi a repercussão no Brasil.
É compreensível e justa a preocupação alemã em não permitir que os ideais de Adolf Hitler e do Partido Nazista entrassem em contato com as novas gerações. Mas a leitura de Minha Luta pode, justamente, ser uma importante ferramenta para que os horrores passados não voltem a se repetir: em um momento global de crise econômica e desencanto com a política, não faltam discursos inflamados de pessoas que prometem respostas fáceis para questões complexas, estimulando o nacionalismo e o discurso de ódio contra aqueles que têm um pensamento diferente.
O conhecimento, então, se torna a arma fundamental para que a humanidade não enfrente outros pesadelos como aqueles vividos no século 20. Nesse caso, a História é ferramenta essencial para analisar o passado, entender o presente e transformar o futuro para melhor.
Escrito por Hitler, “Mein Kampf” fica esgotado na Feira do Livro de Lisboa
0Publicado no UOL
Os exemplares de “Mein Kampf” (“Minha luta”, em português), obra que contém o ideal político de Adolf Hitler, foram esgotados na Feira do Livro de Lisboa, segundo confirmou a editora lusitana que publica a obra, Guerra & Paz.
A publicação do livro, considerado um guia ideológico do nazismo, era proibida há até alguns meses e agora a obra está sendo reeditada no mundo inteiro.
Em Portugal, a obra já vai para a segunda edição —com o texto integral e a análise de um especialista português— e avançará com uma terceira reimpressão, após se transformar em sucesso de vendas para a editora.
Grande parte destas vendas se concentraram na Feira do Livro de Lisboa, que terminou na segunda-feira, onde foram vendidas centenas de exemplares.
As vendas de “Mein Kampf” representaram 20% das alcançadas com a trilogia dos livros que estão na base das grandes tragédias do século 20, que inclui a obra de Hitler, o “Manifesto Comunista”, de Marx e Engels, e “O Livro Vermelho”, de Mao Tsé-Tung.
A primeira edição de “Mein Kampf” foi publicada em 1924 e, até a queda do Terceiro Reich, foram impressos cerca de 12 milhões de exemplares.
Até o início deste ano não havia novas edições porque os direitos de propriedade intelectual estavam em mãos do Estado da Baviera. No entanto, a obra era acessível tanto em edições em inglês como em livrarias antigas, já que sua venda nunca esteve estritamente proibida.
“Há perigo em muitos livros, até na Bíblia”, diz editor que publicará Hitler
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Luiz Fernando Emediato, da Geração Editorial, comenta a polêmica sobre o relançamento da obra ‘Minha Luta’, ícone nazista
Nataly Costa, na Veja SP
Após setenta anos sob os cuidados do Estado da Baviera, na Alemanha, a autobiografia do ditador nazista Adolf Hitler, Minha Luta, caiu em domínio público no primeiro dia de 2016. Três editoras, todas de São Paulo, se interessaram em publicar a obra, o que gerou um amplo debate. Afinal, o livro tem valor histórico e deve estar disponível nas livrarias ou é um texto de pura incitação ao ódio, capaz de influenciar negativamente e disseminar ideias criminosas?
A Edipro, com sede na Bela Vista, abandonou a ideia logo após anunciá-la. “Muitos leitores ligaram afirmando que a publicação poderia ser irresponsável. Ficamos preocupados”, disse a coordenadora administrativa Maira Micales. A Centauro já tinha o texto pronto – entre 2001 e 2006, imprimiu uma edição não autorizada pelo governo alemão, que solicitou o recolhimento dos livros. Expirados os direitos autorais, a editora mandou rodar mais 5 000 cópias, mas foi proibida pela Justiça carioca de vender naquele estado. Em São Paulo, é possível encontrar sua edição na livraria Martins Fontes, na Avenida Paulista.
Quem mais encampou a briga pelo direito de publicar o volume, porém, foi a Geração Editorial, na Lapa, Zona Oeste. O dono, Luiz Fernando Emediato, preparou uma edição crítica (a exemplo do que foi feito na Alemanha), com 400 páginas de comentários de historiadores, apêndices, contestações e notas de tradução.
A tiragem inicial é de 5 000 exemplares e as vendas começam em março. Confira a entrevista com o editor:
Quando a Geração Editorial começou a cogitar a publicação de Minha Luta?
Há uns quinze anos, quando li um artigo do professor da USP Nelson Jahar Garcia, morto em 2002, no qual ele afirmava que “Minha Luta (Mein Kampf) foi a melhor obra já escrita contra o nazismo”. Ele mesmo colocou uma tradução do livro para consulta pública no site da Unicamp. Está lá ainda hoje. Lembro que a obra não está proibida em Israel e que no Brasil vários líderes judeus já se manifestaram a favor da publicação de uma edição crítica e comentada.
Uma das críticas à edição é sobre a capa, que trará uma imagem de Hitler. Essa capa se mantém? Se sim, por que a editora achou importante colocar a foto do ditador na capa?
Essas críticas foram sobre um layout de capa que vazou. Essa capa não será usada (a nova versão, no entanto, também traz a figura do ditador). Mas a crítica é absurda: desde a derrota de Hitler, quase todos os filmes, livros e peças sobre a II Guerra e o nazismo usam imagens do ditador e os símbolos do movimento. A imagem de Hitler é tão icônica quanto as de Jesus Cristo, Stalin, Trotsky, Lenin, Mao Tse Tung, Che Guevara e o Carlitos, de Chaplin.
Qual sua opinião sobre o posicionamento de livrarias como Saraiva e Cultura (as lojas afirmaram que não venderão o livro)?
Creio que mudarão de ideia quando conhecerem nossa edição. Mas se não mudarem de ideia não tem problema, é um direito delas vender ou não.
Como será a edição crítica e comentada? Além dos textos de introdução, cada página terá notas de rodapé, os comentários serão por capítulo?
As notas, comentários, apêndices (há comentários que ocupam várias páginas) não estarão nos rodapés, mas entremeando o texto de Hitler, corrigindo erros históricos e mentiras, comentando e contestando ideias equivocadas e contextualizando e atualizando fatos, como por exemplo o Holocausto. São 278 comentários de dez historiadores norte-americanos para uma edição já fora do mercado, de 1939, além de 48 notas de um historiador brasileiro que atualizou e contextualizou essas notas antigas, mais 28 notas do tradutor, totalizando 354 notas, que ocuparam mais de 400 páginas.
Quem é contra a publicação do livro sustenta que a obra é medíocre como literatura e somente dissemina ideias de ódio contra minorias (judeus, negros, gays, deficientes). O que você acha?
O livro de Hitler não é elegante, nem pode ser considerado literatura. É um panfleto de propaganda política e racista raivosa, ressentida, violenta e equivocada, mas é um livro histórico que não pode ser ignorado, pela tragédia que causou. Hitler registrou neste livro todo o seu ódio, disse que faria o que estava ali escrito e fez, com apoio das elites alemãs que temiam o comunismo e depois de todo o povo, que se considerava humilhado e passou a ver nele quase um deus. A obra de um homem assim merece ser conhecida. Crime pela lei brasileira é fazer propaganda do racismo, da violência e do ódio. Nossa edição faz o contrário: critica as ideias de Hitler, alerta para o perigo delas e contesta uma por uma. Trata-se de uma edição antinazista, antiracista e antiviolência.
Outra crítica é que, como documento histórico, o livro não é imprescindível – temos amplo material sobre Hitler e o nazismo sem precisar recorrer ao “diário” do ditador. O que você acha?
Não há livros prescindíveis e imprescindíveis. Há livros que, pelo bem ou pelo mal que causam, precisam ser lidos. Quem defende tal ideia é autoritário como Hitler e a ele se iguala. Existem perigos em muitos livros, até na Bíblia – que autoriza sacrificar filhos e apedrejar adúlteras – e no Alcorão – que manda decapitar infiéis. Prega-se violência armada nos livros de Che Guevara. E contra a propriedade privada na literatura marxista. Nem por isso esses livros devem ser proibidos.
Também diz-se que Mein Kampf poderia figurar em prateleiras de bibliotecas, mas não de livrarias. Qual sua opinião sobre isso?
Visão elitista e autoritária de quem considera o leitor um idiota cujo acesso à leitura deve ser controlado.
A editora está enfrentando batalhas judiciais aqui em São Paulo contra a publicação do livro?
Nenhuma. Existe uma decisão preliminar da Justiça do Rio, que proíbe a venda apenas lá, mas essa decisão deve cair, porque é inconstitucional.
Você acha que a polêmica aguça a curiosidade em relação ao livro?
Nossa intenção é fazer uma edição de apenas 5 000 exemplares, mas se com uma repercussão imprevista os leitores pedirem mais, reimprimiremos.