Posts tagged Indo
Tico, o coveiro escritor
1Natália Albertoni no jornal Folha de S. Paulo
Título original: Coveiro do cemitério da Consolação já prepara terceiro livro sobre criaturas atormentadas
Francisco Pinto de Campos Neto, 54, o Tico, sepulta cadáveres de dia e concebe personagens ao anoitecer.
De segunda a sexta, das 9h às 16h, é coveiro no cemitério da Consolação, no centro. As horas livres são gastas na produção do seu terceiro livro, que tem o remorso como mote.
Tico já publicou duas coletâneas de contos: “Elas etc.” e “As Núpcias do Escorpião”, cheias de histórias de criaturas atormentadas –como a menina abusada pela tia e o paraplégico apaixonado por um travesti.
Em 1980, Tico passou em letras na USP, mas não terminou a faculdade. Trabalhou como revisor na área e, inquieto, fez de tudo um pouco: assistente de caminhão, porteiro de boate gay, pintor de parede…
A vida foi ficando difícil, e ele acabou indo morar na rua. Tinha 34 anos quando foi internado pela primeira vez, numa instituição particular, por conselho do irmão mais velho –Tico tinha virado um copo de álcool Zulu. “Passava dias bebendo e cheirando pó.”
Foi confinado 20 vezes por causa do vício, em clínicas privadas e públicas. Está sóbrio há dez anos –por força de vontade, não à força pelas intervenções médicas, acredita.
No ano passado, o homem que desde menino sonhava em viver de literatura viu um cartaz da prefeitura: concurso para sepultador. Conseguiu dinheiro emprestado e se inscreveu.
Também em 2012, foi acolhido por Robson Padial, 48 –é dele o Sarau do Binho, projeto itinerante que reúne artistas da periferia paulistana.
Tico conheceu ali a Agência Popular de Fomento à Cultura Solano Trindade, que financiou uma tiragem de 500 exemplares de “As Núpcias” (restam apenas cem cópias).
Livro e resultado do concurso saíram quase ao mesmo tempo. “Encontrei um cantinho para morar e consegui pagar o primeiro aluguel com a venda dos livros”, afirma.
Fernando Pastorelli/Folhapress | ||
![]() | ||
Coveiro do cemitério da Consolação já prepara terceiro livro sobre criaturas atormentadas |
CONHECIMENTO DE CAUSA
Das dez histórias d'”As Núpcias”, quatro se passam em manicômios. A temática rendeu a Tico, em maio, o 5º Prêmio Carrano de Luta Antimanicomial e Direitos Humanos.
A obra trata de abuso de medicamentos, punição e abandono. Nenhum personagem é real, mas o autor escreve com conhecimento de causa.
“O que fazem lá é uma lobotomia química. Me emocionei muito com ‘Bicho de Sete Cabeças’ [filme de 2001 com Rodrigo Santoro]. Daquilo mostrado, só não vivi o choque elétrico.”
Para ele, é necessário batalhar pela luta antimanicomial, mas também ter cuidado com a atual “psiquiatrização” dos sentimentos.
“Você sai de qualquer posto de saúde com [medicação] tarja preta. O Binho costuma falar que qualquer farmácia é uma biqueira [ponto de venda de drogas]. E deve estar dando lucro, porque fica aberta 24 horas.”
O coveiro-escritor acha que “os remédios trazem uma felicidade de plástico que interessa à indústria farmacêutica. Com a cabeça cheia de Rivotril, o cara não questiona nada”.
Até a onda de protestos no país não seria a mesma, diz. “Imagina se esses manifestantes tomassem Lexotan… Eles estariam dando risada.”
Francivaldo Gomes, 45, administrador do cemitério, não sabia que tinha um artista entre os funcionários. “Temos 30 personagens famosos enterrados. Para um lugar que tem tradição em cultura, é ótimo ter um sepultador-escritor.”
‘SEM FRESCURICE’
“É um livro sem embromação nenhuma. Não é sofisticado, fantasioso… Vai direto ao ponto. Uma obra que interessa a quem realmente gosta de ler, quer saber algo sobre o cotidiano, sobre a cidade. Fiquei realmente preso a tudo que se refere a São Paulo, principalmente ao centro, que o autor descreve muito bem, sem “frescurice”. É um título que merece muito respeito dos leitores. Eu daria nota 8,5 para o escritor. E olha que sou muito rigoroso com notas. Para chegar a 10 tem que ser Edgar Allan Poe.” José Mojica Marins, o Zé do Caixão
Para comprar o livro, escreva para [email protected].
Um leitor nunca dorme sozinho
0Publicado por Joaquim Livraria & Sebo
Ano passado escrevemos um post bacana sobre campanhas criativas de incentivo à leitura pelo mundo afora. Tornar a leitura algo interessante e atividade atrativa em meio à tanta velocidade de dados, imagens e sons não é uma tarefa tão simples como parece, mas tem muita gente que leva isso a sério e transforma a criatividade da publicidade – normalmente voltada à produtos de maior consumo – em grande aliada à campanhas inspiradoras.
E nessa onda de inspirar leitores, a cadeia de livrarias israelita – considerada a maior e mais antiga do país – Steimatzky resolveu apostar numa criativa campanha de incentivo à leitura. Com o lema “The Right Book Will Always Keep You Company.” [O livro certo sempre lhe manterá em companhia] a campanha traz desde personagens clássicos como Dom Quixote e Sancho Pança, passando por Sherlock Holmes e indo até Gandalf, do Senhor dos Anéis que adormeceram ao lado de leitores com os respectivos livros em mãos.
Que leitor nunca dormiu com livros ao lado ou acabou sonhando com as histórias e personagens de livros? Um livro nunca nos torna impunes ao seu enredo e personagens e mais ainda, muito bacana ver campanhas de leitura que ultrapassam ele como um produto, tornando o livro antes de tudo, parte cotidiana de nossas vidas.
dica do Matheus Wondracek
Paula Pimenta, a escritora brasileira que tá pirando a cabeça das meninas
0Ela já derrubou a barreira da centena de milhares de livros vendidos e volta e meia pinta na lista dos 10 mais da Veja. Paula conversou um pouco com a gente, falou de seus últimos lançamentos e projetos em outras mídias 🙂
Tayra Vasconcelos, no Judão
Mineira de Belo Horizonte, Paula Pimenta tem aquele jeito doce e tranquilo que já caracteriza o povo nascido em Minas, e conta que desde criança levava jeito para a escrita, o que a levou a prestar vestibular para Jornalismo. E mesmo sempre tendo produzido muita coisa, foi há pouco mais de dez anos que o público pode conhecer seu talento, quando saiu seu primeiro livro Confissão, uma coletânea de poemas, em 2001. Mas o reconhecimento veio mesmo alguns anos depois, quando em 2008 ela lançou Fazendo meu filme 1 – A estreia de Fani, pela editora Gutenberg. O livro conta a história de Fani, uma adolescente que adora suas melhores amigas, está sempre preocupada com as notas, e vive às voltas com os amores de adolescência, mas o seu principal diferencial é sua paixão pelo cinema. Em 2009 e 2010 as continuações da história da Fani chegaram às livrarias, e o público pode acompanhar a protagonista indo fazer intercâmbio e terminar o colégio na Inglaterra e depois voltar ao Brasil, além do desenrolar de um romance pelo qual todas as leitoras torceram desde o primeiro livro.
Já consagrada como autora voltada para o público jovem, em 2011 Paula decidiu lançar uma nova série de livros, protagonizada por uma das personagens secundárias de Fazendo meu filme, e assim os leitores foram presenteados com Minha vida fora de série. Nela conhecemos a história de Priscila, uma menina que acabou de se mudar de São Paulo pra Belo Horizonte, e está detestando a ideia. Ela tem que se adaptar à nova cidade, começar um outro círculo de amigos e ainda ter que lidar com todo aquele turbilhão que acontece na adolescência e para fugir um pouco dos seus problemas, Priscila mergulha no universo dos seriados de televisão. O enredo do livro se passa três anos antes da história de Fazendo meu filme 1, o que faz com que o público tenha a chance de acompanhar o começo da história de alguns personagens conhecidos anteriormente.
No ano passado, foi a vez do desfecho da história da Fani em Fazendo meu filme 4 – Fani em busca do final feliz e de Apaixonada por palavras, uma coletânea de crônicas. E agora, em 2013, ela chegou com um “2-hit combo”, porque foi a vez de Minha vida fora de série – 2ª temporada e O livro das princesas, onde é co-autora ao lado de bambambans como Meg Cabot, Lauren Kate e Patrícia Barboza. E para contar um pouco dessa história toda e dos últimos lançamentos, Paula Pimenta responde ao nosso 8P!, confira… 😉
01Como você começou a escrever e descobriu que era isso que você queria para a sua vida?
Paula Pimenta ~ Português sempre foi minha matéria preferida no colégio, eu adorava fazer redações… Na época do vestibular, resolvi fazer Jornalismo, para profissionalizar esse amor pela escrita. Mas logo no começo do curso, eu vi que não era bem aquilo que eu imaginava. Descobri que eu não queria relatar os fatos imparcialmente e, sim, colocar emoção nas linhas. Os meus professores, ao lerem as minhas matérias jornalísticas, perguntavam se eram crônicas. Foi quando eu descobri que era aquilo que eu queria, me colocar dentro da história, opinar, criar. E, por isso, acabei me transferindo de curso, para poder ser mais criativa. Me formei em Publicidade e Propaganda. Mas foi com Fazendo meu filme que eu realmente descobri que o que eu mais gosto de escrever são romances.
02O brasileiro ainda tem uma média muito baixa de leitura. O que você acha que falta para que as pessoas passem a ser leitoras habituais?
Paula Pimenta ~ Acho que o incentivo à leitura tem que começar desde cedo. Não é depois de adulto que a pessoa vai tomar esse gosto e resolver a ler de uma hora pra outra, esse hábito da leitura tem que ser cultivado desde a infância e adolescência. Acho que os pais e professores tem que indicar os clássicos, mas também livros de entretenimento, para desvincular aquela imagem de que ler é obrigatório… Eu tenho amigos que me dizem que desde a época do colégio não leram mais nada, liam apenas porque valia nota e com isso ficaram com aquela imagem de que ler é chato… Por isso que eu acho que tem que mesclar a literatura clássica com livros com os quais os adolescentes possam se identificar, que tenham a ver com a realidade deles.
03Além de ler pouco, geralmente, a maioria dos leitores do Brasil prefere se dedicar à leitura contemporânea estrangeira. Você acha que isso se deve ao fato de ter pouca coisa sendo produzida por aqui para o público jovem?
Paula Pimenta ~ Acho que isso é uma discussão muito mais profunda, que vem do preconceito que os próprios brasileiros têm com o “produto nacional”. Aqui nós somos acostumados a pensar que o que é importado é melhor, então realmente é difícil um escritor nacional, iniciante, conseguir se destacar no mercado literário e, por isso mesmo, poucos se aventuram… Tem também a barreira das editoras, que custam a dar uma chance para escritores desconhecidos. E quando um escritor consegue ter o livro publicado, vem o público, que não “veste a camisa” dos autores nacionais… Isso está mudando aos poucos, acho que os brasileiros têm percebido que aqui temos autores (e profissionais de qualquer setor) tão bons quanto os estrangeiros.
04Você já teve uma protagonista apaixonada por filmes, a segunda é fissurada em séries e já mencionou que pretende fazer uma próxima que seja doida por livros. Já pensou em fazer alguma que seja ligada ao universo de HQs, games ou até mesmo música (que acaba sendo o caso mais recorrente na juventude)?
Paula Pimenta ~ Tenho planos de escrever uma série para uma das minhas personagens, que é exatamente apaixonada por música. E a série Fazendo meu filme vai virar história em quadrinhos! Ainda não sei quando sai o primeiro “episódio”, mas talvez esse ano ainda!
05É cada vez mais frequente a adaptação de livros para o cinema, existe alguma proposta pra transformar algum dos seus livros em filme?
Paula Pimenta ~ Sim, já vendi os direitos do Fazendo meu filme 1 para o cinema. Fiquei meio relutante, pois tenho a maior birra daqueles filmes que estragam os livros, nunca acho que fazem uma adaptação a altura. Mas as minhas leitoras me pediam tanto que isso acontecesse, que acabei cedendo. Recebi propostas de várias produtoras, mas optei por uma menor, mas que me deu autonomia para acompanhar todas as fases da produção. Tem uma cláusula no contrato que diz que posso inclusive vetar o roteiro se eu não concordar com alguma coisa. Então, quando o filme sair (descobri que é um processo muito lento, acho que a estreia deve acontecer só em 2015), pelo menos vai ser fiel ao livro, e isso é o que importa para mim.
06Agora você está lançando O livro das Princesas, onde é co-autora numa releitura dos contos de fadas junto com outros grandes nomes de literatura juvenil, dentre eles a consagradíssima Meg Cabot. Como surgiu o convite e como foi essa empreitada para você? E como foi a escolha da princesa que cada uma re-escreveria?
Paula Pimenta ~ A editora da Galera Record me convidou para esse projeto, por saber que eu adoro contos de fada, Disney, etc… Quando eu soube que estaria no mesmo livro que a Meg Cabot, me senti honradíssima, pois ela foi uma das responsáveis por eu querer me tornar escritora também. Além da Meg, o livro tem a Lauren Kate e a Patrícia Barboza. Cada uma de nós teve que escolher uma das princesas para fazer uma releitura contemporânea, como se a história estivesse se passando nos dias atuais.
Eu na verdade tive muita dúvida, pois adoro todas as princesas! Fiquei muito indecisa entre a Cinderela, a Branca de Neve e a Ariel, mas acabei optando pela Cinderela, porque a história começou a aparecer antes na minha mente, os caminhos que eu poderia seguir para criar essa versão contemporânea. Acho que consegui criar uma personagem diferente das outras Cinderelas que já existem. Minha princesa é uma DJ e não é bem um sapatinho de cristal que ela perde…
07Você demonstra nos seus livros que é romântica, tanto pelos romances quando pelas crônicas e que tem uma visão mais clássica do amor. Como você consegue encaixar o universo das princesas nesse mundo contemporâneo, com todo movimento girl-power que renega esse lado?
Paula Pimenta ~ Acho que toda menina tem um lado romântico. A princesa que eu criei é exatamente assim. Ela é forte por fora, acha que tem domínio completo da situação, mas quando se descobre apaixonada, acaba percebendo que não existe mal nenhum no romantismo, muito pelo contrário…
08 A Disney tem resgatado e fortalecido cada vez mais esse universo mágico que toda criança sonha e idealiza. Princesas clássicas como Branca de Neve, Cinderela, Bela Adormecida entre outras tem uma imagem mais forte e divulgada hoje do que na nossa infância. Ao mesmo tempo, eles tem aberto cada vez mais o leque de princesas e heroínas, englobando diferentes padrões de beleza, realidades, etnias e objetivos, onde podemos ver princesas guerreiras como Mulan e Mérida (que é Pixar, mas não deixa de ser Disney), empreendedoras como Tiana, e até mesmo a clássica Rapunzel ganhou um ar mais moderno e combativo. Como você vê esse resgate e ao mesmo tempo nova postura diante desse universo?
Paula Pimenta ~ Acho que é exatamente uma tentativa de trazer esse universo das princesas para os dias atuais. Antigamente as mulheres ficavam mesmo esperando um príncipe bater à sua porta. Atualmente nós mesmas vamos buscar esse príncipe ou então nem fazemos questão dele… Por isso esses filmes e novas versões estão tentando atualizar as princesas, para gerar identificação nas meninas de hoje em dia.