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A influência de Sherlock Holmes na cultura pop e na TV
0Ricardo Bonalume Neto, na Folha de S.Paulo
RESUMO Criado no século 19, o personagem de Sherlock Holmes conhece hoje uma nova fama com séries de TV que reencarnam suas histórias e outras, de investigações, baseadas em suas características. Irascível, o investigador de Arthur Conan Doyle influenciou figuras como o doutor House e mesmo o jogo Detetive.
“Você é um psicopata!”
“Sociopata altamente produtivo!”, corrigiu Holmes.
O curto diálogo foi tirado da série britânica de TV “Sherlock”, na qual o ator Benedict Cumberbatch interpreta o clássico detetive inglês Sherlock Holmes, criado pelo escritor escocês Arthur Conan Doyle (1859-1930) no hoje distante século 19. A série, cuja terceira temporada foi ao ar em 2014, adapta as histórias do detetive para o momento atual -todos os episódios estão disponíveis no serviço por assinatura Netflix.
Não existe semelhante diálogo no cânone, isto é, os nove livros de Conan Doyle contendo os 56 contos e quatro romances de Holmes, o “primeiro detetive consultor” da história. Os casos foram apresentados nos livros pelo amigo do detetive, o médico John Watson -interpretado pelo ator Martin Freeman nessa série recente.
O médico Watson tinha servido no Exército britânico na campanha do Afeganistão de 1878-80, onde foi ferido por bala de fuzil. Como a história gosta de se repetir, o Watson vivido por Freeman também era médico do Exército de sua majestade e foi ferido no Afeganistão -na campanha ainda em curso. O novo Watson não publica suas histórias dos casos de Holmes em revistas ou em livros, como o Watson vitoriano. Ele tem um blog.
INSULTOS
Um diálogo semelhante ao do começo deste texto seria plausível nos livros, assim como Holmes se assumir um sociopata. Pois o Holmes de Doyle tem um lado bem irascível. Ele realmente detesta gente burra.
Logo, os Holmes modernos da TV e do cinema agem do mesmo jeito. Não faltam Holmes na recente indústria cultural, ou seus discípulos, mesmo que estejam longe de serem detetives ou policiais -como o médico Gregory House, da série “House” (uma espécie de “detetive médico” baseado no personagem de Conan Doyle -e igualmente ou até mais irascível).
“Cala a boca! Você diminui o QI da rua inteira!”, diz Holmes/Cumberbatch a um desafeto em outro episódio. Irascível, sem dúvida.
Quando surgiu o que hoje tem vários nomes -“romance policial”, de “crime”, de “detetive” ou de “mistério”-, tudo girava basicamente em torno de desvendar uma ocorrência misteriosa como se fosse uma equação matemática, ou um quebra-cabeças.
O detetive -embora ainda sem esse nome-, conhecido como o primeiro de todos, Auguste Dupin, apresentado em 1841 pelo escritor americano Edgar Allan Poe (1809-49), era um cérebro sem grande charme mas capaz de resolver enigmas. Ou melhor, alguém sem grandes maneirismos.
Holmes tornou-se o mestre disso. Não faltam manias na caracterização do mais famoso personagem do romance policial: é recluso e deprimido, toca violino, foi viciado em cocaína, é bom em disfarces, é boxeador e atirador, fuma cachimbo, não tem interesse em mulheres etc. É um homem de intelecto e de ação.
Foi graças a essa paixão por resolver mistérios que surgiram na “era dourada” do romance policial -pós-Conan Doyle/Holmes- os casos de “quartos fechados”. É exatamente o que o jogo de tabuleiro Detetive (originariamente Clue, “pista”, em inglês) procura fazer. Há possíveis criminosos, várias opções de armas do crime (revólver? faca? castiçal?) e cenas aristocraticamente britânicas: a biblioteca, a sala de armas, a sala de jantar. Misture as cartas, jogue os dados e escreva um romance.
A mera ênfase em saber quem cometeu a coisa -a literatura policial do “whodunit”, “quem fez?”- foi um abastardamento do legado de Sherlock Holmes. Mas, como se sabe, apesar de serem autores menores, tiveram grande sucesso de vendas -por exemplo, britânicos como Agatha Christie e Dorothy L. Sayers, ou americanos como S. S. van Dine, John Dickson Carr e Ellery Queen.
IMBATÍVEL
Holmes era bem mais fascinante. O caso a ser revolvido e o método para resolvê-lo eram importantes, claro, mas o caráter do personagem e do seu auxiliar, o doutor Watson, eram fundamentais. Mais do que o quebra-cabeça, a história é o que importava no cânone holmesiano.
“As histórias de Holmes deviam seu imenso sucesso aos talentos de Doyle como um contador de contos”, afirmou o também autor de romances policiais britânico Julian Symons (1912-94) em uma pequena biografia do escritor (“Conan Doyle – Portrait of an Artist”). O enigma nos contos nem sempre é muito enigmático, lembra Symons. Há mesmo erros factuais. Mas a maneira como Sherlock Holmes deduz fatos a partir de pequenas pistas que estão na frente de todos é algo único.
DA POLTRONA
O padrão detetive irascível, cheio de manias e brilhante continuou a existir na literatura em personagens que descendem de Holmes em suas habilidades de detecção e dedução, como Nero Wolfe, criado pelo americano Rex Stout (1886-1975). Wolfe é o clássico “detetive de poltrona”, que nunca sai de casa para resolver os crimes. Protagonizou mais de 50 livros de 1934 a 1975.
Nero Wolfe nasceu em Montenegro, nos Balcãs; coleciona milhares de orquídeas, é muito, muito, genioso, gosta de comer (pesa algo entre 130 e 140 kg), detesta mulheres (assim como Holmes, é assexuado, não homossexual). Seria mais um detetive inverossímil que soluciona mistérios se não tivesse o assistente Archie Goodwin, versão jovem e atlética de Watson, para coletar fatos na rua.
Por “detetive inverossímil” leia-se um monte de velhinhas, padres, jornalistas, aristocratas “blasés”. Um séquito de amadores criados para resolver crimes da tradição do “whodunit”, enquanto na vida dita real quem costuma fazer isso são os detetives das forças policiais estatais -ou, em casos bem mais raros, detetives particulares.
O comissário Salvo Montalbano é um bom exemplo do detetive verossímil -ele de fato é um policial. Criado pelo italiano Andrea Camilleri, mora na Sicília e reúne traços de Holmes e de Wolfe: também é irritadiço e aprecia culinária. Mas tem namorada e é fiel a ela.
Além dos aspectos de personalidade, a figura física de Sherlock Holmes foi muito caracterizada em imagem -no papel, no cinema ou na televisão. Conan Doyle tem parte da “culpa”, pois avalizou as ilustrações que acompanhavam seus contos publicados na revista popular “Strand”.
Ou seja: o Holmes de que todos se lembram é o sujeito magro e alto desenhado por Sidney Paget na “Strand”. Paget acrescentou detalhes importantes no visual: a capa de “tweed”, o boné de pano de caçador de veado, o cachimbo curvo -elementos que aparecem muito pouco nos textos.
Apesar do longilíneo perfil consagrado, o investigador britânico foi interpretado por mais de 70 atores no cinema e na TV, tão diferentes como os britânicos Michael Caine ou Roger Moore (que também fez James Bond, outro ícone clássico da cultura pop britânica). Graças a Paget, o ator Basil Rathbone -versão perfeita em carne e osso das ilustrações- deu vida ao personagem em filmes das décadas de 1930 e 1940.
Os filmes com Rathbone também levaram Holmes à atualidade da época das produções. Neles o detetive, que o cânone informa ter se aposentado nos anos 1920 para criar abelhas, combate nazistas décadas mais tarde.
VICIADO
“Eu sou um viciado, não um acadêmico; e este é um registro de entusiasmo e de desapontamento ocasional, não um catálogo”, escreveu Julian Symons na introdução de seu clássico livro sobre o romance policial “Bloody Murder – From the Detective Story to the Crime Novel” (assassinato sangrento – da história de detetive ao romance policial). Holmes e Doyle eram dois dos vícios do escritor Symons.
Em seu “registro de entusiasmo”, ele deixa claro como a imagem que ficou do personagem é descolada do texto canônico: “Se a concepção original de Conan Doyle tivesse sido totalmente realizada, teríamos um personagem mais durão e menos intelectual em aparência. Era a combinação, em Holmes, do grande pensador com o homem de ação que apelava aos seus primeiros leitores”.
O assistente Watson também foi modificado pelo cinema. Nos filmes protagonizados por Rathbone ele aparece como um colaborador bobão, sempre assombrado pelos poderes de dedução do amigo. Culpa do ator Nigel Bruce, perfeito no papel de bobalhão.
Quem conta um conto aumenta um ponto -ou mais. Nunca constou do cânone o “elementar, meu caro Watson!”. Há “elementar, Watson”; e “meu caro Watson”; mas nenhum “elementar, meu caro Watson”. Isso surgiu depois, no cinema e em outros autores.
O detetive mais “puro” está na série de TV britânica “Sherlock Holmes”, filmada entre 1984 e 1994 com o ator Jeremy Brett (1933-95). Watson não é um paspalho. Holmes é (mais…)
Harry Potter continua rendendo livros fantásticos
0Carol Botelho, no Portal It
As criaturas fantásticas dos livros e dos filmes do bruxinho inglês Harry Potter ainda estão rendendo pano pra manga, ou melhor, páginas de livros. E não somente para J.K. Rowling, a criadora do bruxo mais famoso do cinema e da literatura, mas também para outros escritores que, de tão aficcionados pelas histórias, acabaram resolvendo eles mesmos escrever seus próprios livros inspirados em Harry.
O Livro das Criaturas de Harry Potter, de Jody Revensen (208 páginas, R$ 65,84, Editora Galera Record), lançado mês passado, sem dúvida deve atiçar a curiosidade dos fãs do bruxinho que aprendeu truques de magia na Escola Hogwarts.
Elfos domésticos, assustadores dementadores, dragões, lobisomens, sereias nada convencionais, corujas, hipogrifos (seres metade cavalo, metade pássaros). Impossível esquecer desses personagens, criaturas mágicas que, principalmente nos filmes, onde foram materializadas em terceira dimensão, faziam das aventuras de Harry, Hermione e Rony algo muito mais fantástico.
A obra traz perfis detalhados de várias criaturas, ilustrações, fotografias de bastidores e segredos cinematográficos para tornar possível retirar do papel as criações de Rowling. Com capa dura e belas fotografias e ilustrações, o livro ainda traz um pôster com todas as criaturas, além de um catálogo interativo do Empório das Corujas. Publicação indispensável para qualquer fã que se preze, e ainda uma leitura relax para os dias de dolce far niente da galera geek.
Na telona, está sendo esperado para 2016 o próximo filme inspirado no universo do bruxinho: Animais Fantásticos e Onde Habitam. Que bom que vem mais por aí. Esperamos que chegue ao Brasil com a velocidade de uma potente vassoura Nimbus!
28 livros que são diamantes para o cérebro de crianças e adolescentes
2Euler de França Belém, no Jornal Opção
Bons livros para crianças e adolescentes — a chamada literatura infanto-juvenil — são eternos e, mais, podem ser lidos por adultos com igual prazer. Muitos livros, mesmo de qualidade mediana, se tornaram clássicos. As obras de Monteiro Lobato, Alexandre Dumas, Irmãos Grimm, Ruth Rocha, Lygia Bojunga, Ana Maria Machado, H. C. Andersen não morrem jamais. São para sempre. “Meninos da Rua Paulo”, de Ferenc Mólnar, para ficar num exemplo, é um clássico universal e atemporal.
“O que me diz, Louise?”, de Slade Morrison e Toni Morrison
Nobel de Literatura, a americana Toni Morrison é uma escritora notável. O livrinho “O Que Me Diz, Louise?” é uma celebração da leitura, da cultura, do aprendizado. Sobretudo, do prazer e não da obrigação de ler. Mesmo num dia chuvoso, Louise sai de casa em busca de um refúgio quase secreto: a biblioteca, espécie de porta aberta para todas as coisas do mundo. A biblioteca, com seus vários livros, transforma os seres humanos e, daí, o mundo. Ah, o livro nada tem de chato. (Globinho, 32 páginas, tradução de José Rubens Siqueira, ilustração de Shadra Strickland)
“O Pequeno Nicolau”, de Sempé-Goscinny
Com ilustrações de Jean-Jacques Sempé, o livrinho aparentemente despretensioso escrito pelo francês René Goscinny, criador de Asterix, que viveu em Buenos Aires durante a infância e parte da juventude, narra em primeira pessoa as aventuras do menino Nicolau. Contando suas experiências na escola, em casa com os pais e com os amigos, Nicolau diverte e ao mesmo tempo apresenta uma narrativa de como uma criança percebe o mundo ao seu redor. Para os interessados pela língua francesa, vale a pena ler o livro no original. A prosa da obra é fluente, precisa e acessível (Martins Fontes, 136 páginas).
“20 mil léguas submarinas”, de Júlio Verne
A edição contém o texto integral e 30 ilustrações originais. Um dos criadores da ficção científica, Júlio (Jules) Verne é uma espécie de Nostradamus da literatura e, mesmo, da ciência. Invenções às quais não teve acesso, pois morreu em 1905, foram anunciadas em seus livros. Prisioneiro do capitão Nemo, o professor Aronnax e Ned Land vivem a bordo do submarino Náutilus. Sem o didatismo de alguns autores, privilegiando a imaginação, a sua e a dos leitores, Verne mostra a riqueza do mundo marinho. (Zahar, 472 páginas, tradução de André Telles)
“O Jardim Secreto”, de Frances Rodgson Burnett
O romance “O Jardim Secreto”, de Frances Rodgson Burnett, é sobre o encontro entre uma menina e um menino, sobretudo é uma celebração da amizade entre dois seres e a descoberta, por assim dizer, do mundo. O garoto vive numa cama, mais morto do que vivo, até a chegada de uma menina esperta que injeta vida em seu ser e o retira do quarto. Juntos, descobrem um jardim secreto e uma história, que, como o belo jardim, não pode mas é devassada. (Há duas traduções de qualidade pela Editora 34, de Marcos Maffei, e pela Companhia das Letras/Penguin, de Sônia Moreira. Há uma bela edição, em pop art, da Publifolha)
“4 Contos”, de e. e. cummings
Não estranhe: é assim mesmo — e. e. cummings. É como o poeta assinava seus livros, com minúsculas. Todos conhecem cummings como um poeta extraordinário, traduzido no Brasil por Augusto de Campos. No seu único livro para crianças, o bardo mostra que tem a imaginação adequada. Os contos versam sobre nascimento, amor. Quem aprecia Tolkien não se espantará com o elfo criado pelo vate americano. Imagine um elefante que tem carinho por uma borboleta e uma casa, meio solitária, que se declara apaixonada por um passarinho. Há duas meninas, Eu e Você. Lúdico e inteligente. (Cosac Naify, 48 páginas, tradução de Cláudio Alves Marcondes, ilustrações de Eloar Guazzelli)
“Vozes no Parque”, de Anthony Browne
Anthony Browne ganhou o prêmio Hans Christian Andersen, o Nobel da literatura infanto-juvenil. O livro convida o leitor para pensar sobre a diversidade do mundo, sobre a interpretação dos fatos. Um passeio, feito num parque, é relatado por quatro vozes diferentes, com suas nuances. Resulta que um passeio pode ser muitos passeios, ao incorporar vozes diversas. “Um convite para nos colocarmos no lugar do outro, para ampliarmos nosso horizonte e para pensarmos sobre algumas questões como o isolamento, a amizade e as coisas estranhas em meio ao familiar”, segundo a editora. Atente-se para as ilustrações. (Zahar, 32 páginas, tradução de Clarice Duque-Estrada)
“Huckleberry Finn”, de Mark Twain
Pense em Mark Twain como o Monteiro Lobato dos Estados Unidos, com uma pitada a mais de humor. O menino Huck Finn é esperto, inteligente e até malandrinho. Suas histórias divertidas sempre levam o leitor a sorrir. É quase um romance de formação, preciso e enxuto. O menino amadurece durante suas peripécias. Fica-se com a impressão, às vezes, de que Huck Finn é um menino-adulto ou um adulto-menino. É o mais importante livro da literatura juvenil (ou infanto-juvenil) dos Estados Unidos, inclusive adaptado para o cinema. (L&PM, 320 páginas, tradução de Rosaura Eichenberg. Há outra edição. A leitura em inglês talvez seja mais proveitosa)
“As aventuras de Robin Hood”, de Alexandre Dumas
Robin Hood é um clássico da literatura universal (poucas pessoas não sabem quem é). As histórias estabelecidas por Alexandre Dumas são as mais bem cuidadas e são ambientadas nos séculos 12 e 13, sob o reinado de Ricardo Coração de Leão. O criminoso que rouba dos ricos para doar aos pobres é admirador do rei Ricardo e batalha para que volte ao trono. Nas matas de Sherwood e Barnsdale, Robin Hood e seus aliados, como João Pequeno, lutam contra o xerife de Nottingham e os soldados do rei usurpador. Há também a bela Lady Marian, paixão de Robin Hood, e o frei Tuck, seu aliado. (Zahar, 472 páginas, tradução de Jorge Bastos)
“Os Meninos da Rua Paulo”, de Ferenc Molnár
O húngaro Ferenc Molnár escreveu um dos mais belos livros juvenis (que todo adulto lê com prazer). Paulo Rónai, húngaro que veio para o Brasil fugindo do nazismo, é o exímio tradutor desta obra-prima. Ele escreveu o prefácio e o poeta e tradutor Nelson Ascher é autor do posfácio e das notas. Brigas de meninos, nas ruas de Budapeste, no século 19, poderiam render uma reportagem de jornal. Nas mãos de Ferenc Molnár resultaram num romance delicioso, escrito com graça e grande compreensão do universo dos garotos. (Cosac Naify, 70 páginas)
“Os três mosqueteiros”, de Alexandre Dumas
Uma das graças do livro do escritor francês Alexandre Dumas é saber que os três mosqueteiros são, na verdade, quatro — Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan. O romance de capa e espada se tornou universal. A versão brasileira, integral, contém mais de 100 ilustrações originais. A editora disponibiliza duas edições — uma mais barata e outra mais sofisticada. Os quatro heróis permanecem encantando os leitores. Não só. A história, levada ao cinema, encanta os espectadores. (Zahar, 688 páginas, tradução de André Telles e Rodrigo Lacerda)
“O Pequeno Príncipe”, Saint-Exupéry
Há um preconceito intelectual contra este belo livro, sobretudo no Brasil. Crianças e adolescentes (se não tiverem absorvido a ranzinzice dos adultos) podem lê-lo com proveito. As mensagens podem soar piegas, num mundo feito de racionalismo consumista e sempre apressado, mas a história, com suas frases (dizem que moralistas), é bonita. Vale ler a tradução, mais madura e precisa, de Ferreira Gullar. O livro, na pena do maior poeta brasileiro vivo, ficou mais adulto. (Agir, 96 páginas)
“Grande Sertão: Veredas”/graphic novel, de Guimarães Rosa
“Grande Sertão: Veredas, dirão, não é romance para crianças e adolescentes. De fato, não é. Porém, “Grande Sertão: Veredas”/graphic novel, de tão bem adaptado e, até, facilitado, pode ser lido por jovens atentos. O roteiro é de Eloar Guazzelli e a arte, de Rodrigo Rosa. O livro de Guimarães Rosa é uma das obras realmente imperdíveis da literatura brasileira. (Globo Livros, 180 páginas. O único problema é o preço: 199,90 reais)
“Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato
O Brasil está cada vez mais urbano, com espaço cada vez menor para a área rural. Crianças, adolescentes e mesmo adultos sabem cada vez menos sobre assuntos que tenham a ver com o campo. O belo “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, se torna, portanto, mais interessante do que nunca. Porque põe seus leitores em contato com a natureza, com um garoto que inventa coisas para se divertir. Hoje, tirar uma criança das teclas de computadores e smartphones não é fácil. Monteiro Lobato, com sua rica imaginação, às vezes pecando por certo didatismo, provavelmente ainda consegue encantar as crianças e, até, os adolescentes. (Globinho, 72 páginas)
“O Menino e o Tuim”, de Rubem Braga
O cronista Rubem Braga prova que sabe escrever para crianças com a história “O Menino e o Tuim”. O livro mostra a relação de uma criança com um passarinho. “Além de todo encantamento e alegria de ter um bichinho, o menino é forçado a lidar com as obrigações, necessidades e dilemas que vêm junto com o animalzinho quando ele é domesticado. Com uma linguagem sensível e poética, Rubem Braga capta toda a emoção de uma amizade pura e sincera e outras experiências transformadoras da infância”, sintetiza a editora. (Galerinha Record, 24 páginas)
“Andira”, de Rachel de Queiroz
Andira é uma criança? Não, Andira é uma andorinha-criança, quer dizer, um filhote. Pequena, e como não sabe voar, as demais andorinhas, que se preparam para migrar no inverno, deixam-na para trás. Como muitas andorinhas, Andira nasceu numa igreja e, na ausência dos parentes, é criada por morcegos. Estes se tornam seus mestres. (José Olympio, 64 páginas, ilustrações de Cláudio Martins)
“Marcelo, Marmelo e Martelo”, de Ruth Rocha
Ruth Rocha conhece como poucos o que se passa pela cabeça das crianças e adolescentes. Ela escreve com uma clareza impressionante e não subestima seus leitores. Por isso seus livros são tão lidos e adorados. Em “Marcelo, Marmelo e Martelo”, a escritora explora a vida de meninos que moram na cidade. São garotos espertos e ativos. Marcelo é um criador de palavras novas. Nas livrarias podem ser encontradas as belas e precisas adaptações que Ruth Rocha fez para a “Ilíada” e a “Odisseia”, de Homero”, e “Tom Sawyer”, de Mark Twain. Crianças ganham, muito, se lerem as adaptações. (Salamandra, 64 páginas, ilustrações de Mariana Massarani)
“A História de Emília”, de Monteiro Lobato
Talvez seja possível dizer que Monteiro Lobato inventou a literatura infantil e infanto-juvenil no Brasil. Suas histórias não perdem vitalidade e permanecem modernas, ou, diria Carlos Drummond de Andrade, eternas. O escritor era um homem sisudo, mas tinha uma capacidade de imaginação imensa e, principalmente, não menosprezava a capacidade de entendimento de crianças e adolescentes. A história de Emília, uma boneca falante, é uma de suas principais criações Mexe com a percepção criadora das crianças. O curioso é que a personagem, com sua irreverência, agrada tanto meninas quanto meninos. É tão moleca, esperta e divertida quanto qualquer criança. (Globinho, 32 páginas)
“Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos
O romance “Meu Pé de Laranja Lima” não deixa de ser piegas e, em alguns momentos, até primário. A exploração do sentimentalismo ganharia se incluísse, de modo mais incisivo, o humor, o riso (o mundo infantil raramente é tão lamentoso). Mas uma coisa é certa: José Mauro de Vasconcelos sabe comover crianças, pelo menos as do meu tempo de menino (entre as décadas de 1960 e 1970). A história do menino e do Portuga tem um quê de Mark Twain? Um quê, no caso, significa uns 20%. (Melhoramentos, 192 páginas)
“O estribo de prata”, de Graciliano Ramos
“Vidas Secas” é, claro, um romance adulto. Mas a história de Fabiano e da cachorra Baleia pode ser lida com proveito por jovens perceptivos. “O Estribo de Prata” é, ao contrário, um livro mesmo para garotos. Trata-se de um causo contado por Alexandre, um misto de caçador e vaqueiro. Simples, direto e muito bem escrito. Menos seco que a prosa tradicional de Graciliano Ramos. Há, por assim dizer, um pouco mais de emoção. (Galerinha Record, 24 páginas, ilustrações de Simone Matias)
“A Menina Cláudia e o Rinoceronte”, de Ferreira Gullar
Ao criar colagens, o poeta Ferreira Gullar decidiu escrever “A Menina Cláudia e o Rinoceronte”. A garota, brincando com papel picado, “cria um rinoceronte. Ela toma gosto e logo faz vários outros, um de cada cor, era muita alegria inventar todo aquele novo e fantástico universo. Até que sua própria criação a surpreende obrigando a menina a embarcar numa incrível jornada e tanto pelos recortes de papel. Toda a história é contada por Gullar através de poemas leves e divertidos. Um livro lindo, uma verdadeira obra de arte visual com texto sensível e envolvente”, anota a editora. (José Olympio, 48 páginas)
“Raul da Ferrugem Azul”, de Ana Maria Machado
Ganhadora do Prêmio Hans Christian Andersen, Ana Maria Machado é autora de livros de alta qualidade, como “Raul da Ferrugem Azul”, “História Meio ao Contrário?” e “Bisa Bia Bisa Bel”. Raul aparece com manchas azuis em todo o corpo. Depois de se lavar, usando xampu, álcool e detergente, conclui que tem ferrugem azul. A escritora conta a história com graça e sempre levando em consideração que o leitor é inteligente e perspicaz. (Salamandra, 64 páginas, ilustrações de Rosana Faria)
“A Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga
Lygia Bojunga é uma escritora de livros infanto-juvenis? Consagrou-se assim. Acima de tudo, é uma grande escritora. Em conflito com a família e consigo mesma, uma menina esconde na sua bolsa “três grandes vontades”: “a de crescer, a de ser garoto e a de se tornar escritora”. Afinal, criança tem vontade ou sua vontade é a dos adultos? A garota relata como é seu cotidiano, intercambiando o mundo real, no qual vive com a família, e seu próprio mundo, no terreno da imaginação. (Casa Lygia Bojunga, 134 páginas)
“Histórias da Velha Totônia”, de José Lins do Rego
José Lins do Rego tem livros magníficos sobre a infância. “Menino de Engenho”, às vezes subestimado, é um belíssimo romance. O escritor paraibano escreve muito bem sobre meninos. “Quisera que todos eles (os meninos) me ouvissem com a ansiedade e o prazer com que eu escutava a velha Totônia do meu engenho”, disse o autor paraibano. A linguagem coloquial, oralizada, torna o livro extremamente acessível, divertido e delicioso. (José Olympio, 120 páginas)
“17 É Tov!”, de Tatiana Belinky
Tatiana Belinky nasceu na Rússia e veio cedo para o Brasil. Traduziu para o português Gógol e Tchekhov, sempre com mestria. Ao mesmo tempo, escreveu belos livros no campo infanto-juvenil — com a percepção de que a criança e o adolescente são inteligentes e dispensam didatismos excessivos. “Em ‘17 É Tov!’ ela descreve os primeiros 17 anos em São Paulo, por meio de crônicas divertidas e bem-humoradas. Desde a chegada no bairro paulistano de Higienópolis até o casamento de seu irmão com uma prima, a autora narra casos que marcaram sua vida e sua experiência em um novo país”. Suas memórias, escritas com leveza, são divertidas e atentas. (Cia das Letrinhas, 88 páginas, ilustrações de Maria Eugênia)
“A Árvore dos Desejos”, de William Faulkner
O escritor americano William Faulkner é mais conhecido por seus romances mais complexos, como “O Som e a Fúria”, “Luz em Agosto”, “Absalão, Absalão” e “Enquanto Agonizo”. “A Árvore dos Desejos”, ao contrário dos chamados livrões, é escrito numa prosa mais simples e acessível. O menino Maurice convida a garota Dulcie para saírem em busca da Árvore dos Desejos. Eles vão para a floresta, ao lado de outras crianças. O Nobel de Literatura manipula bem o entrelaçamento entre o real e o fantástico. (Cosac Naify, 56 páginas, tradução de Leonardo Fróes, ilustrações de Eloar Guazzelli)
“Os Gatos de Copenhague”, de James Joyce
O autor de “Ulysses”, James Joyce, escrevendo para crianças? Sim e, melhor, o faz muito bem. “Os Gatos de Copenhague”, com qualificada tradução de Dirce Waltrick do Amarante, é divertido. O autor de “Ulysses” envia, da Dinamarca, uma carta para seu neto Stephen Joyce, na qual conta a história de que não há gatos em Copenhague. Que o leitor não se assuste: a história é simples, sem as firulas experimentais dos outros textos do escritor irlandês. (Iluminuras, 24 páginas, ilustrações de Michaella Pivetti)
“Discurso do urso”, de Júlio Cortázar
O escritor argentino Julio Cortázar é mais conhecido por “O Jogo da Amarelinha”, romance para adultos. O conto poético “O Discurso do Urso”, seu primeiro texto infantil, versa “sobre a vida e os seres humanos, vistos através dos olhos de um ursinho que vive passeando pelos canos dos prédios. Neste vai e vem ele ouve conversa e explora” o “cotidiano” das pessoas — “e suas qualidade e imperfeições — com curiosidade, deslumbre e audácia”, ressalta a editora. (Galerinha Record, 28 páginas, tradução de Léo Cunha)
“Caninos Brancos”, de Jack London
Jack London é um escritor brilhante, porém, como pouco dado a firulas experimentais, às vezes é sugerido como do segundo time. O autor de “O Chamado Selvagem” é responsável, em larga medida, pela formação e ampliação do número de leitores. Sua prosa é de qualidade, densa e, ao mesmo tempo, simples. Pode ser lida, com igual prazer, por crianças, adolescentes e adultos. “Caninos Brancos” é um de seus mais belos romances. Um lobo do Yukon, aprisionado, é utilizado como puxador de trenó e como cão de rinha. Resgatado por um homem “não-selvagem”, readquire, por assim dizer, sua “dignidade” e, aos poucos, volta à natureza. As relações homem-natureza são mostradas com rara felicidade por Jack London. A história foi adaptada para o cinema, mas nada substitui a leveza contagiante do texto do escritor americano (há pelo menos duas traduções de qualidade. Sônia Moreira é responsável pela da Companha das Letras/Penguin, com 296 páginas, e Rosaura Eichenberg fez a da L&PM, com 232 páginas)
Passado de Snape é tema da nova história de Harry Potter publicada por J.K. Rowling
0Autora britânica promete divulgar um novo conto por dia até a véspera de Natal
Mariana Vieira, no Divirta-se [ via Correio Brasiliense]
Mesmo crescidos, os fãs de Harry Potter continuam órfãos desde o fim da franquia de livros e filmes. Ou melhor, continuavam. A escritora britânica J.K Rowling publicou nesta sexta-feira, 12, a primeiro de uma série de 12 narrativas inéditas sobre o universo do bruxo. Todas as histórias serão postadas no site Pottermore
A história se passa em Cokeworth, cidade onde a mãe de Harry, Lilly, foi criada junto com a irmã Petúnia e o mestre em poções Severo Snape. É, ainda, onde o bruxinho passa a noite com os tios antes de ser resgatado por Hagrid, no primeiro volume da série, Harry Pottter e a pedra filosofal.
Para ter acesso à história, os fãs devem responder a uma charada no site e desbloquear o conteúdo. Em comparação com o que já foi publicado, este conto, sobre a cidade onde Snape é visitado por Bellatrix e Narcisa Malfoy em ‘O príncipe mestiço’, é bastante curto; apenas 3 parágrafos. Mas os fãs podem esperar mais novidades nas comemorações de natal em Pottermore, que seguem até o dia 23 de dezembro.
Anteriormente, Rowling havia escrito sobre a repórter enxerida Rita Skitter, sobre a vilã Dolores Umbridge e também sobre Rony, Hermione e Harry já crescidos. Uma história sobre Draco Malfoy estaria nos planos futuros.
Série baseada em romance policial de JK Rowling será produzida pela BBC
0Roteiro será inspirado em ‘O chamado do cuco’ e ‘O bicho de seda’
Publicado em O Globo
RIO — Os livros lançados por JK Rowling sob pseudônimo de Robert Galbraith serão adaptados para uma série de TV produzida pela BBC. O primeiro livro, “O chamado do cuco” (2013), e sua continuação, “O bicho de seda” (2014), serão base do roteiro centrado na vida do do veterano de guerra e detetive Cormoran Strike, que conta com a ajuda de sua assistente Robin Ellacott para tentar solucionar o brutal assassinato de um escritor.
Os detalhes sobre início das filmagens, elenco e direção ainda não foram divulgados, nem a previsão de estreia.
A emissora, em parceria com a HBO, vai exibir, a partir de fevereiro, uma minissérie de três episódios baseada em “Morte súbida”, lançado pela autora em 2012. Este foi o primeiro livro lançado por Rowling após o final da saga “Harry Potter”. A história se passa na pequena Pagford e acompanha das diversas disputas existentes na aparentemente tranquila cidade. O livro vendeu mais de seis milhões de cópias em todo o mundo. A autora assina a produção executiva da série. O roteiro será de Sarah Phelps e a direção de Jonny Campbell.
O disfarce da autora foi descoberto pelo jornal “Sunday Times”, em 2013, depois que um escritório de advocacia britânico deixou a informação vazar. Após o segredo ser revelado, o livro pulou para o topo de todas lista dos mais vendidos ao redor do mundo. A escritora justificou ainda a razão de ter usado um pseudônimo depois de “Harry Potter”. Ela temia que recepção dos livros fosse baseada em sua reputação.
J. K. Rowling afirmou que deseja escrever mais do que sete livros da sua trama policial. O segundo livro do personagem (“O bicho de seda”) ficou no topo da lista dos mais vendidos do “Sunday Times” em junho.