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A revolução de Gutenberg e as reformas brasileiras
0Roberto Luis Troster no Observatório da Imprenssa
Amanhã [terça-feira, 23/4] é comemorada uma das criações mais importantes da humanidade: o livro. A festa foi oficializada em 1930, em homenagem a Miguel de Cervantes e a William Shakespeare, que coincidentemente passaram para a imortalidade em abril de 1616. Entretanto, o maior mérito por sua popularização foi de um não escritor: Johannes Gutenberg.
Até o século 15, os livros eram caros, copiados a mão, feitos por encomenda e com muitos erros e diferenças de transcrição – alguns textos de Aristóteles chegam a ter oito versões diferentes. Havia uma seleção conveniente do que deveria ser produzido e muitas das reproduções eram alteradas. Serviam para preservar sistemas de poder e evitar mudanças nas relações sociais.
A inovação do uso de tipos móveis de impressão por Gutenberg objetivava apenas baratear os livros: estima-se que conseguiu um preço final 30 vezes menor que o do exemplar copiado a mão, além de oferecer um produto de melhor qualidade. Mas a inovação fez muito mais do que isso.
O uso da imprensa pode ser considerado como o marco de início do mundo moderno. O acesso a mais informação com livros mais baratos aumentou exponencialmente a alfabetização da classe média europeia e fez com que novas ideias se propagassem pelo mundo. Uma análise estritamente quantitativa mostra uma elevação considerável e sustentada das taxas de crescimento econômico mundial a partir de então.
Capital humano
Os livros impressos quebraram o monopólio da aristocracia e da igreja na difusão do conhecimento. Dessa forma, detonaram uma série de revoluções no mundo: econômicas, políticas, religiosas e científicas. Decretaram o fim do geocentrismo e do absolutismo e o início da rotação de culturas na agricultura e das grandes navegações. Foram fundamentais para a transição entre a Idade Média e o mundo moderno.
Outra mudança radical provocada pela inovação de Gutenberg foi a Reforma Protestante. Ao conseguir imprimir milhares de cópias de suas 95 teses e distribuí-las por toda a Europa, Lutero difundiu sua mensagem e granjeou seguidores.
As revoluções políticas na Europa e na América e a industrial na Inglaterra ilustram a força transformadora das ideias. Coincidentemente, os países que se ajustaram mais rapidamente foram os que mais cresceram. Há muitos paralelos entre a revolução de Gutenberg e o momento atual.
A transformação radical em razão da tecnologia e da globalização antecipa uma economia baseada no conhecimento e em cadeias produtivas globais. A questão central é a adequação das pessoas, empresas e países. Alguns, como a China, estão levando vantagem.
No Brasil, observa-se um crescimento menor do PIB e um encolhimento maior do setor industrial em relação ao resto da América Latina e do mundo. As explicações incluem a política educacional capenga, o protecionismo, reservas de mercado e o foco nos lucros de curto prazo. Vive-se uma realidade que exige um novo paradigma, com outras noções de tecnologia, tributação, logística, políticas macroeconômicas, velocidade de adaptação e de acesso ao conhecimento.
Sempre leia o original
0Bibliotecas, físicas ou virtuais, são democráticas, aceitam todas as classes sociais e etnias. Aceitam curiosos de todas as idades, sete dias por semana.
Stephen Kanitz, no Artigos Para Se Pensar
Uma greve geral dos professores alguns anos atrás teve uma consequência interessante.
Reintroduziu, para milhares de estudantes, o valor esquecido das bibliotecas.
Os melhores alunos readquiriram uma competência essencial para o mundo moderno – voltaram a aprender sozinhos, como antigamente.
Muitos descobriram que alguns professores nem fazem tanta falta assim.
Descobriram também que nas bibliotecas estão os livros originais, as obras que seus professores usavam para dar as aulas, os grandes clássicos, os autores que fizeram suas ciências famosas.
Muitos professores se limitam a elaborar resumos malfeitos dos grandes livros.
Quantas vezes você já assistiu a uma aula em que o professor parecia estar lendo o material?
Seria bem mais motivador e eficiente deixar que os próprios alunos lessem os livros. Os professores serviriam para tirar as dúvidas, que fatalmente surgiriam.
Hoje, muitas bibliotecas vivem vazias. Pergunte a seu filho quantos livros ele tomou emprestado da biblioteca neste ano.
Alguns nem saberão onde ela fica. Talvez devêssemos pensar em construir mais bibliotecas antes de contratar mais professores. Ou colocar os nossos livros na internet.
Um professor universitário, ganhando 4.000 reais por mês ao longo de trinta anos (mais os cerca de vinte da aposentadoria), permitiria ao Estado comprar em torno de 130.000 livros, o suficiente para criar 130 bibliotecas.
Seiscentos professores poderiam financiar 5.000 bibliotecas de 10.000 livros cada uma, uma por município do país.
Universidades são, por definição, elitistas, para a alegria dos cursinhos.
Bibliotecas são democráticas, aceitam todas as classes sociais e etnias. Aceitam curiosos de todas as idades, sete dias por semana, doze meses por ano.
Bibliotecas permitem ao aluno depender menos do professor e o ajudam a confiar mais em si.
Nunca esqueço minha primeira visita a uma grande biblioteca, e a sensação de pegar nas mãos um livro escrito pelo próprio Einstein, e logo em seguida o de cálculo de Newton.
Na época, eu queria ser físico nuclear.
Infelizmente, livros nunca entram em greve para alertar sobre o total abandono em que se encontram nem protestam contra a enorme falta de bibliotecas no Brasil.
Visitei no ano passado uma escola secundária de Phillips Exeter, quando meu filho Roberto Kanitz, fez um curso de verão. (Tirou 3 As numa das melhores escolas preparatórias para Harvard do EUA, para a alegria do pai.)
Phillips Exeter fica numa cidade americana de 30.000 habitantes, no desconhecido Estado de New Hampshire.
O Roberto me mostrou com orgulho a biblioteca da escola, de NOVE andares, com mais de 145.000 obras. A Biblioteca Mário de Andrade, da cidade de São Paulo, tem 350.000. A bibliotecária americana ganhava mais do que alguns dos professores, ao contrário do que ocorre no Brasil, o que demonstra o enorme valor que se dá às bibliotecas nos Estados Unidos.
Não quero parecer injusto com os milhares de professores que incentivam os alunos a ler livros e a frequentar bibliotecas.
Nem quero que sejam substituídos, pois são na realidade facilitadores do aprendizado, motivam e estimulam os alunos a estudar, como acontece com a maioria dos professores do primário e do colegial.
Mas estes estão ficando cada vez mais raros, a ponto de se tornarem assunto de filme, como ocorre em Sociedade dos Poetas Mortos, com Robin Williams.
Na próxima aula em que seu professor fizer o resumo de um livro só, ou lhe entregar uma apostila mal escrita, levante-se discretamente e vá direto para a biblioteca.
Pegue um livro original de qualquer área, sente-se numa cadeira confortável e leia, como se fazia 500 anos atrás. Você terá um relato apaixonado, aguçado, com os melhores argumentos possíveis, de um brilhante pensador. Você vai ler alguém que tinha de convencer toda a humanidade a mudar uma forma de pensar.
Um autor destemido e corajoso que estava colocando sua reputação, e muitas vezes seu pescoço, em risco. Alguém que estava escrevendo apaixonadamente para convencer uma pessoa bastante especial:
Você.
dica do Rodrigo Cavalcanti
‘Inferno’, de Dan Brown, marca volta de personagem de ‘Código da Vinci’
1Publicado por Pop & Arte
Livro foi anunciado para 14 de maio nos EUA com tiragem de 4 milhões.
Autor diz que história com Robert Langdon é ‘paisagem de códigos’.
O novo romance do autor de “Código Da Vinci” Dan Brown será publicado em 14 de maio nos EUA, informou sua editora Doubleday nesta terça-feira (15), depois que um quebra-cabeça nas mídias sociais digno do escritor ajudou a revelar o título. A data de lançamento no Brasil não foi anunciada.
“Inferno” apresenta o retorno do famoso simbologista de Harvard e protagonista de “Código Da Vinci” Robert Langdon, e se passa na Itália, centrando-se na obra literária “Inferno de Dante”, informou a Doubleday. A tiragem inicial é de 4 milhões de cópias.
“Embora eu tenha estudado Inferno de Dante quando era estudante, foi só recentemente, enquanto pesquisava em Florença, que eu passei a apreciar a influência duradoura da obra de Dante sobre o mundo moderno”, disse Brown em seu website.
“Com este novo romance, estou animado em levar os leitores a uma viagem profunda a este reino misterioso… Uma paisagem de códigos, símbolos, e mais do que algumas passagens secretas”, acrescentou.
“O Código Da Vinci”, misterioso romance com temática religiosa e repleto de códigos, chaves, conspirações e outros símbolos enigmáticos, foi publicado em 2003 e foi transformado em um filme de sucesso estrelado por Tom Hanks. O livro ficou mais de um ano no topo da lista dos mais vendidos do New York Times. “O símbolo perdido”, o livro seguinte, foi lançado em 2009.
Em sintonia com o amor de Brown por quebra-cabeças, o título do livro foi revelado em seu site enquanto fãs e outras pessoas publicavam itens nas mídias sociais que faziam link para um mosaico no site. Conforme as mensagens eram colocadas, peças do mosaico eram reveladas, acabando por desvendar o título.
Livro infantil se inspira em Baudelaire; leia crítica de Luiz Felipe Pondé
0Luiz Felipe Pondé, na Folhinha
A literatura infantil sempre trabalhou a figura do patinho feio como o “diferente” que sofre na escola. Apesar de com frequência se falar das crianças como anjos, a verdade não é bem essa: a vida infantil, e a escola como seu palco central, é um drama intenso de insegurança, dor, alegria e medo, que exige da criança muita coragem e a sorte de encontrar amigos.
“Charles na Escola de Dragões” não foge à regra de ser um livro sobre um patinho feio obrigado a descobrir “sua diferença” para sobreviver. Mas, ao contrário de um bicho bonitinho, o livro fala de dragões e, com isso, defende a diferença de forma clara: dragões também podem ser fofinhos e sofrer como patinhos.
Charles, o pequeno dragão, tem asas muito grandes e pés enormes e, por isso, quase desiste de ser um dragão “normal”.
Além do mais, é poeta e sofre com isso. O livro é inspirado em “Albatroz”, poema do francês Charles Baudelaire, considerado rebelde por chocar a sociedade do seu tempo (século 19) com textos que traziam sua melancolia e descrença no mundo moderno; vale lembrar que “Albatroz” faz parte da sua obra máxima, “Flores do Mal”… O nome já diz tudo…
Mas, diferentemente da ave de Baudelaire, que acaba por sobre o chão, imersa num mundo onde a poesia não vale nada, Charles terá final feliz. Baudelaire para crianças, claro, não pode ser Baudelaire até o fim.