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Autora lança livro com memes usando obras de arte antigas para ilustrar o mansplaining
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Publicado na Glamour
Você já deve ter visto por aí memes usando obras de arte antigas para criar um efeito de ironia – aliás, siga o @ancient_memez para boas risadas. E Nicole Tersigni soube usar essa ferramenta perfeitamente para criar histórias a partir de situações que todas as mulheres sofreram com o mansplaining. O sucesso foi tamanho que virou livro: “Men to Avoid in Art and Life” (Homens para evitar na arte e na vida, em tradução livre), Chronicles Books.
Tudo começou, claro, no Twitter, quando a escritora norte-americana viu um homem explicando para uma mulher a própria piada que ela tinha compartilhado. “Isso já aconteceu comigo tantas vezes”, contou ao The New York Times.
Ela, então, deu um Google em “mulheres cercadas de homens” e encontrou uma pintura à óleo de Jobst Harrich, com uma mulher no centro de vários homens com um seio à mostra. Nicole tuitou a imagem com a legenda: “E se eu colocar o meu seio de fora, será que eles param de explicar as minhas piadas para mim?”. Obviamente, o conteúdo viralizou e ela enxergou uma potência de mensagem, mesclada com ironia, e passou a utilizar a rede social para criar essas situações usando obras de arte dos séculos 17 e 18.
Os números de reposts e comentários se multiplicaram a cada nova postagem – até Busy Philipps e Alyssa Milano estavam entre os perfis que retuitaram Nicole. “Essa thread é genial”, “Talvez essa seja a minha thread preferida da vida”, comentaram. “A partir daí, virou uma bola de neve positiva, porque era um conteúdo muito fácil de se relacionar e dar risada”, comentou a escritora.
Foi assim que Nicole Tersigni chamou a atenção da editora Chronicle Books, que logo entrou em contato com a autora para publicar um compilado dessas histórias. “O homem que faz mansplaining explica as coisas de forma condescendente. Os pensamentos dele não foram solicitados, ninguém pediu a opinião dele”, explica Nicole. “Uma das minhas piadas favoritas, que usei em uma thread e no livro também, é: ‘Deixa eu te explicar a sua experiência de vida para você’.” Impossível não se conectar ou lembrar de alguma situação que você já passou, né?
A faceta literária de Woody Allen
0Bem-sucedido diretor de cinema, Woody Allen usa a literatura para fazer experimentações narrativas.
Sofia Alves, no Homo Literatus
Quando falamos em Woody Allen, pensamos imediatamente em obras de arte sequenciais. Seus filmes são verdadeiros clássicos do cinema mundial que enchem cinemas com um público bastante variado, de senhorinhas que avidamente o assistiam nos anos 70 aos jovens do século XXI que procuram um cinema onde bons roteiros e jazz predominem. Há, porém, um lado pouco conhecido do diretor que merece tanto destaque quanto sua filmografia: sua literatura.
Dono de filmes com diálogos ácidos, mas ao mesmo tempo delicados quanto aos sofrimentos da vida, o diretor possui uma grande capacidade de articulação de ideias com fina amarração, como podemos observar em seus roteiros. Tal talento extrapola o cinema e chega até a literatura. Sua escrita, como dita pelo próprio, é apenas um hobby. É algo para se fazer ao anoitecer, quando a exaustão de filmar seus longas bate e há a necessidade de um frescor que somente as palavras no papel podem trazer.
A maioria dos livros publicados por Woody Allen é de contos. Nas breves histórias que o cineasta conta, podemos observar o seu famoso senso de humor vívido e ácido que também o notabilizou nas telas grandes – apenas como curiosidade, Allen declarou que Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, está entre seus cinco livros preferidos. O diretor manifestou em diversas entrevistas o seu gosto pela literatura, por lhe permitir experimentar antes de levar novas histórias para o cinema. Segundo o próprio, sua notabilidade como cineasta diminui a permissividade com qualquer inovação estética diretamente em seus enredos. Por isso, a literatura tornou-se grande aliada de suas experimentações.
Há, inclusive, alguns fãs do autor que leram seus livros e conseguiram perceber tais experimentações literárias em seu cinema. Em um de seus livros de contos, chamado Que loucura!, Allen escreveu uma história denominada O caso Kugelmass. A curiosidade encontra-se na similaridade entre a história e o enredo do filme Meia Noite em Paris, lançado muitos anos depois. As histórias contêm algumas diferenças pequenas, mas apresentam as mesmas ideias e conteúdo, evidenciando então o poder que Woody delega à literatura quando se trata de tentar algo novo.
A fugacidade do cinema de Woody Allen não passa despercebida em sua literatura. Seus livros são recheados de histórias gostosas que permitem que voltemos atrás algumas páginas para saborearmos novamente tal genialidade, coisa que o timing cinematográfico muitas vezes não permite. Seja nas telas, nas páginas ou nas trilhas sonoras, Woody Allen é um gênio das palavras ditas e implícitas.
Livro e exposição resgatam pioneiros da edição artesanal no país
0Raquel Cozer, na Folha de S.Paulo
Se hoje editoras artesanais como a carioca A Bolha e a paulista Mínimas são vedetes, com seus livros cuidadosamente trabalhados, no extenso cenário de casas independentes do país, devem isso a nomes como os dos poetas João Cabral de Melo Neto, Geir Campos e Thiago de Mello, que nos anos 50 mostraram que livros podem ser obras de arte –sem custar uma fortuna.
Numa época em que o apuro gráfico não era uma preocupação de editores, atentos apenas ao conteúdo –à exceção de pioneiros como José Olympio, no cenário não artesanal–, eles e alguns poucos colegas abriram as portas para edições em pequena escala, com atenção especial para o papel escolhido, a tipologia, a diagramação e a capa.
Um recorte desse movimento foi realizado pela produtora editorial Gisela Creni, da Companhia das Letras, como dissertação de mestrado em história na USP, nos anos 1990, e ganha agora edição caprichada em livro, com apoio da Fundação Biblioteca Nacional, pela editora Autêntica. Com a parceria, foi possível disponibilizar o livro, todo colorido, por R$ 39,90.

Imagem do livro ‘Editores Artesanais Brasileiros’ (Autêntica), de Gisela Greni, que deu origem a mostra na Biblioteca Mindlin (Divulgação)
“Editores Artesanais Brasileiros” investiga a produção caseira de João Cabral de Melo Neto (sob o selo O Livro Inconsútil), Manuel Segalá (Philobiblion), Geir Campos e Thiago de Mello (Hipocampo), Pedro Moacir Maia (Dinamene), Gastão de Holanda (O Gráfico Amador, Mini Graf e Fontana) e Cleber Teixeira (Noa Noa).
EXPOSIÇÃO
A obra originou exposição homônima, sob curadoria de Cristina Antunes, em cartaz na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na Cidade Universitária da USP, cujo acervo foi usado para a pesquisa de Gisela Creni.
“A ideia surgiu quando trabalhei com [o poeta e editor] Augusto Massi na antologia Artes e Ofícios da Poesia [Secretaria Municipal de Cultura/Artes e Ofícios, 1991]. Comecei a entrar em contato com esses nomes e percebi que todos tinham uma característica em comum: todos se autopublicavam e trabalhavam com esmero as próprias edições”, ela conta.
Todos também se preocupavam em editar autores da mais alta qualidade, especialmente nomes que ainda não eram tão reconhecidos como hoje, como Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles.
“O próprio Thiago de Mello se autopublicou, o João Cabral, e ambos vieram a ser reconhecidos como grandes escritores. Só depois alguns desses livros hoje centrais para a literatura brasileira ganharam edições comerciais”, diz Gisela.
Cada capítulo inclui um levantamento inédito da produção de cada um desses editores, além de, na maior parte do caso, vir acompanhado de depoimentos dos retratados, que contam suas visões pessoais dessa história.
‘CROWDFUNDING’
Há curiosidades como o modelo de financiamento trabalhado por editoras como a Hipocampo, que antecipou o modelo hoje conhecido como “crowdfunding”, com obras sendo produzidas a partir de um pagamento prévio dos interessados.
A autora não pôde falar com todos os editores –João Cabral, por exemplo, à época da pesquisa, informou não ter condições de dar entrevista (viria a morrer em 1999)–, mas conseguiu depoimentos emocionados como o de Thiago de Mello, que explicitou o orgulho do serviço prestado como editor, do qual não tinha a dimensão na época.
Para Gisela, esse trabalho pioneiro inferferiu não só na produção de casas artesanais hoje como na das maiores editoras do país, inclusive a própria Companhia das Letras onde ela trabalha, já que o bom acabamento passou a ser dissociado da ideia de uma edição cara demais.
“Além de terem sido responsáveis por um salto na qualidade da produção editorial no país, essa é uma história intimamente ligada à história da poesia brasileira”, ela conclui.

Imagem do livro ‘Editores Artesanais Brasileiros’ (Autêntica), de Gisela Greni, que deu origem a mostra na Biblioteca Mindlin (Divulgação)

Imagem do livro ‘Editores Artesanais Brasileiros’ (Autêntica), de Gisela Greni, que deu origem a mostra na Biblioteca Mindlin (Divulgação)

Imagem do livro ‘Editores Artesanais Brasileiros’ (Autêntica), de Gisela Greni, que deu origem a mostra na Biblioteca Mindlin (Divulgação)

Imagem do livro ‘Editores Artesanais Brasileiros’ (Autêntica), de Gisela Greni, que deu origem a mostra na Biblioteca Mindlin (Divulgação)

Imagem do livro ‘Editores Artesanais Brasileiros’ (Autêntica), de Gisela Greni, que deu origem a mostra na Biblioteca Mindlin (Divulgação)

Imagem do livro ‘Editores Artesanais Brasileiros’ (Autêntica), de Gisela Greni, que deu origem a mostra na Biblioteca Mindlin (Divulgação)
EDITORES ARTESANAIS BRASILEIROS
AUTORA Gisela Creni
EDITORA Autêntica
QUANTO R$ 39,90 (160 págs.)
EXPOSIÇÃO em cartaz na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na Cidade Universitária da USP; de seg. a sex., das 9h30 às 18h30, e sáb., das 9h às 13h
“‘Guernica’ é o despertar de um transe”, diz o historiador T.J. Clark na Flip
0A partir de fotografias, britânico explica processo criativo do pintor espanhol Pablo Picasso
Aline Viana, no Último Segundo
O crítico e historiador britânico T.J. Clark deu uma aula sobre o processo criativo do pintor espanhol Pablo Picasso nesta quinta-feira (4) na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Durante sua fala na mesa “Olhando de novo para ‘Guernica’, de Picasso”, o historiador apoiou sua análise nas fotografias que a mulher do pintor, Dora Maar, tirou do quadro durante todas as fases de sua execução.
A obra, que tem dimensões de 7,82m x 3,50m e representa o bombardeio sofrido pela cidade espanhola de Guernica em abril de 1937, foi elaborada e concluída em pouco mais de um mês e se tornou uma das principais obras de arte do século 20.
“Os três anos que precederam ‘Guernica’ são complexos e difíceis para Picasso. Ele ficou meses sem pintar nada, fazendo gravuras, jogando todas as suas energias numa poesia esquisita e, ao meu ver, muito ruim. ‘Guernica’ é o despertar a esse transe”, revelou Clark.
Para Clark, Picasso impôs vários desafios a si mesmo durante a execução do quadro. “[A obra] teria que ser retratada isolando os indivíduos como o terror isola as pessoas, mas em num espaço comum. A privacidade havia sido dilacerada. A sala dava lugar à rua. As pessoas teriam que estar de fato caindo pelas janelas, gritando. Havia o imperativo de tornar a dor pública. Significa situar isto no mundo exterior, encarnar a dor, torná-la real, material. São imperativos (criativos) nobres e a necessidade eventual do quadro de responder a esses imperativos é o que lhe dá vida tão longa”, analisou o historiador.
A opção por organizar a obra em um padrão hexagonal em um padrão de luz e sombras foi decidida no meio da produção. “Sempre houve críticos que detestaram a geometria de ‘Guernica’, que a consideravam acadêmica. Penso que Picasso queria produzir uma atividade tonal pesada, que contrabalançasse a luz e sombra. ‘Guernica’ sofre imensamente o preço da fama”, concluiu o historiador.