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10 livros fundamentais de escritoras brasileiras
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A Bula reuniu em uma lista obras-primas de escritoras brasileiras que são leituras obrigatórias. A seleção contempla autoras de diferentes gerações e gêneros literários. Entre elas, estão Maria Firmina dos Reis, autora de “Úrsula (1859), o primeiro romance escrito por uma mulher no país; Lygia Fagundes Teles, que construiu uma narrativa surpreendente a partir de pontos de vista femininos nos contos de “A Estrutura da Bolha de Sabão” (1991); e Cecília Meireles, que narra, por meio de versos — e do ponto de vista dos derrotados —, a história da Inconfidência Mineira.
Úrsula, de Maria Firmina dos Reis
“Úrsula” é apontado como o primeiro romance escrito por uma mulher publicado no Brasil. Durante anos, a autora assinou a obra com o pseudônimo “Uma Maranhense”, em referência ao estado em que nasceu. Negra e bastarda, ela construiu uma narrativa comum para a época: um triângulo amoroso entre uma jovem humilde, um homem rico e um vilão. Contudo, havia um grande diferencial, a história era contada sob o ponto de vista de três personagens negros.
As Três Marias, de Rachel de Queiroz
Embora a obra prima de Rachel de Queiroz seja “O Quinze”, “As Três Marias” é um dos livros em que a autora mais destacou os papeis impostos às mulheres na sociedade. A trama é iniciada em um colégio de freiras, onde Maria Augusta, Maria da Glória e Maria José se tornam amigas. Com o passar dos anos, cada uma toma um rumo distinto. Maria da Glória se casa e se torna uma mãe atenciosa, Maria José decide se dedicar totalmente a religião, e Maria Augusta parte em busca de sua independência.
A Estrutura da Bolha de Sabão, de Lygia Fagundes Telles
“A Estrutura da Bolha de Sabão” é o conto mais conhecido de Lygia Fagundes Telles. Ele e outros sete estão reunidos no livro homônimo, publicado pela primeira vez em 1978, com o título “Filhos Pródigos”. As protagonistas das histórias, todas mulheres, estão envoltas por conflitos profundos com as pessoas próximas, o lugar em que vivem, e até elas mesmas. Os contos são narrados ora por descrição objetiva, ora por discurso indireto e fluxo de consciência, atestando a excelência da prosa da autora.
Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de Carolina de Jesus
O livro de Carolina Maria de Jesus foi traduzido para 15 idiomas. Nascida em uma comunidade rural de Minas Gerais, a autora migrou para São Paulo, mais especificamente para a favela do Canindé, onde permaneceu a maior parte da vida. Negra e marginalizada, ela trabalhava como catadora de material reciclável e usava os cadernos que encontrava no lixo para escrever. Em sua obra, a escritora reflete sobre desigualdade e injustiça a partir de acontecimentos do seu cotidiano.
O Leopardo é um Animal Delicado, de Marina Colasanti
“O Leopardo é um Animal Delicado” é uma coletânea de contos da escritora Marina Colasanti, traduzida para várias línguas. Protagonizado por mulheres, o livro aborda a condição feminina em diferentes aspectos da vida em sociedade, mas principalmente no que diz respeito à sexualidade. Embora o título pareça despretensioso em um primeiro momento, se trata de uma ode à liberdade sexual e ao desejo, explícito em uma das narrativas mais impactantes e, literalmente, delirantes da obra.
A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector
A narrativa banal, e por isso dotada de genialidade, aborda os pensamentos de G.H., uma mulher comum que despede a empregada doméstica e decide fazer uma faxina no quarto de serviço. A protagonista se frustra ao encontrar o local limpo e arrumado, ao contrário do que imaginava, mas a insatisfação é interrompida quando ela se depara com uma barata. Depois de esmagar o inseto, G.H. decide provar a massa branca que surge de suas entranhas, e o episódio faz com que ela tenha uma grande revelação.
Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles
“Romanceiro da Inconfidência” é considerado o livro mais importante de Cecília Meireles. A obra é o resultado de uma longa pesquisa histórica da autora, que construiu um retrato impressionante da Inconfidência Mineira em forma de versos. A narrativa é contada do ponto de vista dos derrotados, e denuncia as mazelas do sistema imperial, que vigorava à época. Ela aborda acontecimentos como a descoberta do ouro, a chegada dos mineradores e a morte de Tiradentes.
Rútilos, de Hilda Hilst
“Rútilos” reúne duas obras conhecidas e aclamadas da autora: “Rútilo Nada” e “Pequenos Discursos”. Na primeira — que lhe rendeu o prêmio Jabuti em 1993 —, ela narra o amor trágico entre um homem e o namorado de sua filha, destacando as duras amarras da vida amorosa e familiar. Na mesma linha de pensamento, a segunda obra guia o leitor por um duro descortinamento dos moldes rígidos e opressores do convívio em sociedade.
Bagagem, de Adélia Prado
A obra é uma coletânea dos poemas de Adélia Prado, que escrevia desde os 14 anos, mas só teve a primeira obra publicada aos 40, devido a uma profunda autocrítica. O livro, lírico e irônico, mescla temas como profano e religioso, e morte e a alegria — a partir das vivências de Adélia Prado como mulher e mãe de cinco filhos. A obra se consagrou rapidamente entre a crítica e o público, fazendo-a despontar como uma das escritoras brasileiras de maior relevância no século 20.
A Teus Pés, Ana Cristina Cesar
“A Teus Pés” é a única publicação comercial de Ana Cristina Cesar, que morreu precocemente, aos 31 anos. Ela é considerada uma das escritoras brasileiras mais marcantes da década de 1970. O livro reúne poemas originais e aqueles publicados de forma independente em “Cenas de abril” (1979), “Correspondência completa” (1979) e “Luvas de pelica” (1980). A autora foi homenageada na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), de 2017, no Rio de Janeiro.
Fonte: R7.com
Autora Carolina Maria de Jesus é celebrada em feiras e relançamentos
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Carolina Maria de Jesus em 1958 na favela do Canindé, às margens do rio Tietê, onde viveu até lançar ‘Quarto de Despejo’ (foto: Divulgação/Audalio Dantas)
Karla Monteiro, na Folha de S.Paulo
Aos 60 anos, a professora Vera Eunice de Jesus Lima está descobrindo, “estupefata”, como ela gosta de dizer, a “força e a poesia” de sua mãe, Carolina Maria de Jesus (1914-1977).
Até então, Vera se via apenas como personagem de uma fábula de miséria e glória, que começa em 1958, na favela do Canindé, nos arredores do estádio da Portuguesa, em São Paulo, e termina silenciosa em um sítio em Parelheiros, zona sul da cidade.
“Não tinha dimensão da importância dela. Só agora, com este rebuliço, é que fui reler tudo o que ela escreveu. É como se eu estivesse conhecendo a minha mãe agora”, diz, sentada na sala do apartamento de dois quartos, em condomínio de Interlagos.
O “rebuliço” tem razão de ser: uma série de eventos marcam o centenário da escritora negra, favelada, semianalfabeta, nome acidental e revolucionário da literatura brasileira, que desapareceu das estantes das livrarias.
Carolina Maria de Jesus será a homenageada da edição deste ano da Flink Sampa, festival de literatura negra que acontece neste sábado (22) e domingo (23), no Memorial da América Latina. Haverá o relançamento de dois de seus livros: “Quarto de Despejo” (Ática, 200 págs., R$ 34,90) e “Diário de Bitita” (Sesi-SP, 216 págs., preço a definir).
Ela é também a homenageada da Balada Literária, com eventos que vão até domingo em SP. E no Rio, foi a estrela da Flupp (Festa Literária Internacional das Periferias), na semana passada.
Na segunda (17), foi lançado, na Câmara Municipal de SP, o livro “Onde Estaes Felicidade?”, com dois contos inéditos e apoio do MinC.
“Para o grande público, é um resgate de Carolina”, diz Uelinton Farias Alves, professor de literatura brasileira da Universidade Zumbi dos Palmares e curador da Flink.
“Hoje há muitos autores de periferia, como o Paulo Lins. Ela é a precursora. Abriu um precedente na literatura”.
CONFIRA DESTAQUES DA FLINK SAMPA
Sábado (22)
14h – Mesa Carolina Maria de Jesus, com Audálio Dantas, Vera Eunice e Elzira Perpétua
16h – Conversa com as misses negras Deise Nunes, Yitayish Ayenew (Israel) e Leila Lopes (Angola) e Paulo Borges
Domingo (23)
14h – Lançamento do livro “O Leito do Silêncio”, da escritora angolana Isabel Ferreira
16h – Palestra com a ativista Graça Machel, viúva de Nelson Mandela, em defesa das mulheres e crianças
FLINKSAMPA
QUANDO sab. (22) e dom. (23), das 9h às 19h
ONDE Memorial da América Latina, av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda, tel. (11) 3823-4600
QUANTO grátis
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