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Carioca coordena 2 mil voluntários que gravam livros para cegos
1Atriz Analu Palma é personagem do quadro ‘Os Cariocas’ do RJTV. Veja como se tornar voluntário do projeto Acessibilize-se.
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O quadro “Os Cariocas” do RJTV mostra semanalmente gente do bem que contribui para fazer do Rio uma cidade solidária, boa de se viver. Neste sábado (28), a série mostra o trabalho da atriz Analu Palma, que coordena o projeto Acessibilize-se e, com 2 mil voluntários, grava livros para levar cultura aos deficientes visuais. Analu e os amigos dos cegos são os “ledores” dos livros falados.
A voz da atriz são os olhos de muita gente. Carioca de Inhaúma, ela decidiu partilhar o prazer da leitura com quem não consegue ler, por gosto ou necessidade. O estudante Júlio César Careira, por exemplo, faz faculdade de psicologia. Estuda graças à iniciativa de Analu. De tanto ler no ônibus, ele sofreu um deslocamento de retina e perdeu a visão. As publicações em braile não são suficientes.
“As pessoas que são voluntárias não fazem ideia do quanto nos ajudam”, diz Júlio. “Aqui encontramos todo o necessário para ter um futuro melhor”
A programadora de computador Rita também tem deficiência visual. Para ela, é mais fácil entender de linguagens complicadas e números quase indecifráveis do que simplesmente ter acesso a um livro.
Analu começou o projeto por conta própria. Gravava os livros e publicava na internet. Depois, percebeu que, sozinha. seria difícil ajudar o tanto de gente que precisava.Criou uma metodologia e formou voluntários. “Ledores”, como ela chama. Ao todo, 2 mil já fizeram o curso pelo país todo e mais de 600 títulos já foram gravados.
Os alunos aprendem as partes do livro, a lidar com um programa de computador para gravar a narração e têm aulas de colocação da voz. A psicóloga Monique Leal, é voluntária do projeto há três meses e pretende ficar ainda por muito tempo. Cada minuto livre é usado para gravar os livros. “A gravação faz parte do meu dia a dia”, conta.
A voz e o gesto de Analu vêm corrigindo injustiças. Discreta e serenamente, Analu e sua turma vão espalhando palavras preciosas para quem está ansioso por ouvi-las.
Veja como se tornar voluntário do projeto no site http://www.livrofalado.pro.br. Se você conhece alguém que ajuda a melhorar a vida de quem mora no rio, conte para a gente. Envie sua sugestão para o quadro “Os Cariocas”.
Como Tatiana Belinky e sua biblioteca transformaram um garoto em escritor
1Mônica Cardoso, na Folha de S.Paulo
Quando era criança, David Nordon adorava se perder na enorme biblioteca de sua “tia-avó”, a escritora Tatiana Belinky. Dentre os mais de 5 mil livros, o garoto escolhia o mais grosso e pedia para ela ler, assim como alguns sucessos dela como “O Grande Rabanete” e “O Caso do Tio Onofre”.
Nos últimos anos, a situação se inverteu. Como já não enxergava as letrinhas miúdas por causa de um problema na visão (mácula na retina), era David, hoje com 25 anos, quem lia seus próprios livros para Tatiana. “Ela ficava escutando, fechava os olhos para imaginar e ria junto. Achava que meus contos e crônicas tinham humor e até exagerava, dizendo que eu escrevia melhor do que ela”, conta David.
Sim, porque as leituras de Tatiana mudaram a vida do garotinho curioso. “Acho que ela me influenciou a gostar de ler e fez aflorar minha vontade de escrever. Se não fosse a Tati, não teria o gosto de escrever para crianças.”
Com ela, David aprendeu que literatura infantil não deve subestimar o pequeno leitor. “O livro deve ser simples e inteligente, com algumas palavras complicadas para as crianças ficarem curiosas. E não pode ser chato.”
David lembra quando mostrou seu primeiro livro para Tatiana, há onze anos, que, com todo jeitinho, lhe fez uma crítica. “Ela falou que faltava a grande literatura, com L maiúsculo, que eu deveria ler os grandes clássicos, como Machado de Assis e todos os escritores russos. Na época, fiquei bravo, mas percebi que ela estava certa. Depois, reescrevi o livro inteiro para me aperfeiçoar”, diz. “Ela gostava de todos os escritores russos com T: Tchecov, Tolstoi, Tatiana…”, brinca.
O conselho parece ter dado certo e Tatiana escreveu a contracapa dos três livros infantojuvenis de David, que compõem a coleção Leituras Inesquecíveis: “Poesias e Limeriques”, “Contos de Fadas Modernos” e “Crônicas do País Pernil” (ed. Evoluir Cultural; R$ 29,90 cada volume).
Além das leituras, Tatiana gostava de conversar e contar histórias, algumas bem curiosas, como viu pela primeira vez uma banana, ao chegar da Rússia ao Brasil. Para incentivar as crianças a ler, dava o seguinte conselho: espalhe livros pela casa inteira, até no banheiro.
“Ela errava o abrir e fechar as vogais em português. E tem alguns limeriques que só são entendidos se errar a rima, em vez de falar um ‘o’ fechado, falar de forma aberta.”
E só um segredinho: na verdade, Tatiana e David não eram parentes. Ela era sogra de sua tia. Mas pouco importa, já que a escritora o chamava de “sobrinheto”, uma mistura de sobrinho e neto. E ele retribuía o carinho e lhe tratava como avó.
E para ela, que morreu em 15 de junho, David fez uma homenagem toda especial: um limerique sobre a sua enorme biblioteca, como ele pensa em montar uma igualzinha.
Tati Trança-Rimas
Tatiana é uma garota sapeca,
A palavra é a sua boneca.
Ao céu subiu,
Com muito brio.
E lá montará uma nova biblioteca