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Harry Potter é tema de curso de história na Unicamp para público da terceira idade
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Harry Potter (Foto: Divulgação)
Obra literária da escritora britânica J. K. Rowling é destaque em oficina do programa UniversIDADE, gratuito e aberto a pessoas com mais de 50 anos.
Fernando Evans, no G1
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) oferece, a partir de agosto, um curso de história cujo tema é o clássico literário Harry Potter, da escritora britânica J. K. Rowling. A oficina faz parte do programa UniversIDADE, que desenvolve atividades de extensão gratuita para o público acima dos 50 anos.
Instrutor da oficina, Victor Henrique da Silva Menezes, de 25 anos, conta que foram alunos do curso que ministrou no primeiro semestre deste ano os responsáveis pela incursão no universo de Harry Potter.
“Dei aulas sobre a Roma antiga no cinema, comentando referências históricas nas produções, e alguma vezes usei o Harry Potter como exemplo, para falar da influência na literatura. Para minha surpresa, boa parte da sala conhecia a história e eles sugeriram a obra como tema.”
Aluno do curso de mestrado em história no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, Menezes é fã da série, e acompanha os livros desde os 11 anos de idade. Apesar disso, apronfundou-se nas pesquisas para preparar 17 aulas sobre o tema.
“O Harry Potter é como um fio condutor do curso. Vamos partir da obra, discutir os livros e a história, mas também questões que aparecem ali. Estou desde maio preparando o curso. Tenho lido bastante sobre história contemporânea, da Inglaterra e Europa, livros sobre cultura inglesa. Vamos ler o livro tentando entender o nosso mundo contemporâneo”, explica Menezes.
Para todas as idades
O instrutor lembra que um dos maiores erros de quem não conhece a obra de J. K. Rowling é imaginá-la como literatura infantil. “Há uma ideia de que é um livro para crianças, e não é. Temas importantes são abordados, como o papel da mulher, sexualidade.”
A força dos personagens também é destaque na oficina, que conta com alunos da chamada “melhor idade”.
Sem preconceito
Trabalhar com questões de gênero e sexualidade com um público acima dos 50 anos deixou o instrutor um pouco receoso, mas a reação dos alunos ajudou a quebrar paradigmas e serviu de lição para Menezes.
Para o historiador, a abertura encontrada com o grupo de alunos, com idades entre 51 e 85 anos, serviu para mostrar que o preconceito não tem relação com as visões de diferentes gerações.
“Fiquei um pouco com medo de como seria a reação, e logo na primeira aula do outro curso eles falaram tranquilamente sobre sexualidade, gênero. Às vezes, achamos que determinado público não terá interesse em debater determinado tema. Numa sala de aula, tudo pode ser falado. Esse curso demonstrou bastante isso.”
Entre os temas que Harry Potter levará às salas do UniversIDADE é a homosexualidade. “Nos últimos livros da J. K. Rowling, havia indício que o personagem Dumbledore seria gay. A autora confirmou isso depois. O bacana que isso não precisa ser um rótulo. Ele é importante na história, é o tutor do Harry Potter, e o fato de ser gay não muda nada na história”, comenta.
Entre os personagens de Harry Potter, também haverá destaque para a força da mulher. “É uma característica da autora criar personagens muito fortes, protagonistas”, destaca o instrutor.
Inscrições
O programa UniversIDADE, mantido pela reitoria da Unicamp, oferece cursos de extensão em quatro diferentes áreas para o público que tem acima de 50 anos. “O programa tem um caráter social e é aberto a toda a comunidade da universidade e moradores de Campinas e região”, destaca Katia Stancato, coordenadora do UniversIDADE.
As oficinas estão separadas em quatros áreas: Arte e Cultura, Esportes e Lazer, Saúde física e mental, e Sociocultural e Geração de renda. As inscrições podem ser feitas no site do programa, e funcionarão em duas etapas:
Dias 24 e 25 de julho – Inscrições nas oficinas para os alunos inscritos no programa
Dias 26, 27 e 28 de julho – Inscrições de novos alunos
O curso “Harry Potter: História, Cultura e Relações de Gênero no Mundo Mágico de J. K. Rowling” começa no dia 15 de agosto e vai até 5 de dezembro, com aulas às terças, das 14h às 17h.
Livro polêmico afirma que homossexualidade pode ser definida na gravidez
0Um livro recém-lançado por um neurologista sugere que o estresse na gravidez elevaria as chances de uma criança nascer gay
Publicado na BBC Brasil
Segundo o holandês Dick Frans Swaab, autor de We are our Brains (Spiegel & Grau, 448 páginas) (“Nós somos os nossos cérebros”, em tradução livre), a homossexualidade estaria ligada a uma mudança na composição hormonal e na formação do cérebro.
Nesse sentido, o neurologista acredita que fumar ou ingerir drogas na gravidez pode influenciar na formação da sexualidade do feto.
“Mulheres grávidas que sofram de estresse tem maior chance de darem a luz a bebês homossexuais, porque os níveis elevados do hormônio de estresse cortisol afeta a produção de hormônios sexuais fetais”, escreve Swaab.
A abordagem de Swaab, professor emérito de neurobiologia da Universidade de Amsterdã, parte do pressuposto de que a sexualidade é determinada no útero e não pode ser alterada, contrariando uma visão partilhada por outros especialistas de que a orientação sexual é uma escolha individual.
“Embora seja frequente ouvirmos que o desenvolvimento após o nascimento também afete a orientação sexual, não há absolutamente nenhuma prova científica disso”, vaticina Swaab.
Para exemplificar sua tese, Swaab cita o caso de uma droga prescrita a 2 milhões de mulheres para evitar abortos nas décadas de 40 e 50 que, segundo ele, aumentou as chances de bissexualidade e homossexualidade nos recém-nascidos.
“A exposição à nicotina e à anfetamina durante a gravidez eleva as chances de a mãe gerar uma filha lésbica”, afirma o holandês.
O neurocientista também acredita que as chances de que um bebê se torne homossexual são maiores quando a mãe já gerou filhos homens antes.
“Isso se deve à resposta imunológica da mãe às substâncias masculinas produzidas por bebês do sexo masculino no útero. Essa reação se torna cada vez mais forte durante cada gravidez”, acrescenta Swaab.
Controvérsia
Há mais de cinco décadas pesquisando a anatomia e a fisiologia do cérebro, o holandês, que coleciona diversos prêmios em seu currículo, é um crítico voraz do chamado “livre-arbítrio” humano e muitas de suas teses têm causado polêmica.
O neurologista acredita que o cérebro é pré-programado durante a gravidez, influenciando as decisões de um indivíduo durante toda a sua vida, desde suas experiências emocionais às suas preferências religiosas.
A sua primeira investida no campo da orientação sexual ocorreu na década de 80 e, desde então, Swaab vem provocando reações acaloradas de grupos de defesa dos direitos gays, que afirmam que suas descobertas enquadram a homossexualidade como um “problema médico”.
O neurologista holandês, entretanto, discorda das críticas e afirma que sua tese desconstrói o argumento de entidades ultra-conservadoras que acreditam na chamada “cura gay”.
Além disso, como afirma que a homossexualidade é definida durante a gravidez, Swaab descarta a hipótese de que filhos de pais homossexuais tenham maior chance de se tornarem gays.
“Crianças que cresçam em famílias de pais gays ou lésbicas não têm mais chances de ser homossexuais. Não há qualquer evidência de que a homossexualidade seja um escolha de vida”, afirma.
A tese de Swaab, entretanto, não é inédita. No 21º Encontro da Sociedade Europeia de Neurologia, realizado em 2011, o professor Jerome Goldstein, do Centro de Investigação Clínica de São Francisco, nos Estados Unidos, apresentou dados baseados em tomografias computadorizadas que mostraram a diferença dos cérebros entre homossexuais e heterossexuais.
Segundo Goldstein, “a orientação sexual não é uma opção, ela é essencialmente neurobiológica ao nascimento”.
Cérebro
Mas essa não é a única polêmica do livro de Swaab. Na obra, o neurologista também afirma que o comportamento “irritante” dos adolescentes seria uma evolução natural para evitar o incesto e que partos difíceis seriam, na prática, resultantes da predisposição, nos recém-nascidos, a transtornos mentais como esquizofrenia, autismo ou anorexia.
Além disso, o holandês também defende outras teses, como a de que pessoas inteligentes costumam ser ateias, de que crianças bilíngues tem menos chance de desenvolver Alzheimer ou de que uma desilusão amorosa tem a mesma reação no cérebro do que a abstinência de um viciado.
17 livros picantes para adolescentes
0Temática amorosa e pitadas de erotismo podem aproximar adolescente da boa literatura

Aproveite os hormônios fervilhantes dos adolescentes para incentivar a leitura (Foto: Nana Sieviers)
Ava Freitas, no Educar para Crescer
Fomentar o gosto pela leitura tem de começar na infância, mas como lidar com o adolescente que não adquiriu esse hábito quando criança? Um bom recurso pode ser apresentá-lo a bons títulos da literatura brasileira e mundial com pitadas de erotismo.
“Relações amorosas e sexo são temas que fervilham na cabeça do adolescente. Toda vez que usei, em sala de aula, livros que tocam de alguma forma na questão do amor, foi sucesso total. Com passagens mais picantes, então, gerava muita discussão boa”, afirma Claudio Bazzoni, professor de literatura do Colégio Santa Cruz, em São Paulo, e assessor de língua portuguesa da Prefeitura de São Paulo.
João Luís Ceccantini, professor de literatura da Unesp (Universidade Estadual Paulista), no campus da cidade de Assis (SP), também endossa essa tese. “Só que é importante a atuação dos pais, de um professor ou bibliotecário para apresentar o título para o jovem.”
A sugestão de leitura do mediador é, claro, tem de passar pela avaliação da maturidade do adolescente, pontua João Luís Ceccantini.
A convite do EDUCAR PARA CRESCER, o professor Bazzoni elaborou uma lista em que mesclou sugestões mais “light” com outras com sexualidade mais explícita. Confira!
1. Dom Casmurro
Autor: Machado de Assis
Clássico da literatura brasileira, a obra gira em torno do romance de Bentinho – narrador da história – e Capitu e o ciúme doentio que decorre desse amor. O professor Claudio Bazzoni destaca o capítulo A Mão de Sancha, em que Bentinho se pega desejando loucamente a mulher do melhor amigo, Escobar. O sentimento o faz a começar a duvidar da sua fidelidade e a dos outros.
2. Missa do Galo
Autor: Machado de Assis
No conto, o sr. Nogueira, já adulto, relata um acontecimento de quando tinha 17 anos. Morando na casa do senhor Meneses para estudar, o jovem se vê seduzido pela mulher de seu protetor, dona Conceição. Sabidamente traída pelo marido, ela premedita um encontro com o adolescente na noite da Missa do Galo. “É um texto carregado de sensualidade”, comenta Bazzoni.
3. Uns Braços
Autor: Machado de Assis
Com o mesmo tom de Missa do Galo, nesse conto, Inácio, um garoto de 15 anos, fica fascinado pelos braços de dona Severina, mulher de seu padrinho. Em conflito com o desejo proibido, um dia na rede, o adolescente sente a aproximação de sua amada e deixa os leitores na dúvida se a beijou ou não.
4. As Ligações Perigosas
Autor: Choderlos de Laclos
Na sociedade aristocrática de antes da Revolução Francesa, a marquesa de Merteuil e o visconde de Valmont, ex-amantes, mostram por meio de uma intensa troca de cartas que seus passatempos favoritos são manipular pessoas e colecionar aventuras sexuais.
5. Na Alcova – Três Histórias Licenciosas
Autores: Denon e Guilleragues e Crébillon
O livro reúne três novelas de ficção escritas – todas com um tom sensual – por três autores franceses diferentes. O professor Bazzoni destaca Por uma Noite, na qual uma mulher adúltera leva seu amante para a “câmara secreta de prazeres” na propriedade rural de seu marido.
6. Vestida de Preto
Autor: Mário de Andrade
O conto está no livro Contos Novos. Nele, Juca relembra o clima de descoberta das primeiras experiências amorosas com a prima Maria e a frustração de ter sido interrompido por Tia Velha. Os personagens voltam a se encontrar na maturidade.
7. Vestido de Noiva
Autor: Nelson Rodrigues
Peça de teatro que se desenrola em três planos: realidade, alucinação e memória. Alaíde é atropelada e está entre a vida e a morte. Enquanto os médicos tentam salvá-la, ela entabula uma conversa com Madame Clessi, sua heroína, que foi assassinada vestida de noiva. Alaíde rememora uma discussão que teve com a irmã, Lúcia, no dia em que se casou com Pedro. Lúcia a acusa de roubar seu amor. Apesar da concretização do casamento, Alaíde descobre que é vítima de uma conspiração de Pedro e Lúcia, que querem matá-la para ficarem juntos. “Ao explicitar desejos reprimidos dos personagens, o texto provoca no leitor afetos intensos”, diz Bazzoni.
8. Livro das Mil e Uma Noites
A tradução feita a partir dos originais pelo arabista brasileiro Mamede Mustafa Jarouche, para a Editora Globo, sepulta a ideia comum de que este é um livro para criança. A obra – que tem quatro volumes – começa contando a história de dois príncipes irmãos. Depois de um tempo separados, um deles resolve deixar seu reino e viajar para visitar o outro. No meio do caminho, o príncipe que viajou sente muita saudade da mulher e volta para casa. Ao retornar, encontra-a com o amante e a mata. O jovem, então, retoma a viagem para o reino do irmão. Este, por sua vez, para alegrá-lo, organiza uma caçada. O visitante decide não ir e presencia uma orgia da cunhada com os empregados do castelo. Tudo isso antes de chegar na história de Sheherazade que para evitar ser morta emenda uma história na outra, o que justifica as mil e uma noites do título.
9. Laila & Majnum
Autor: Nizami
A história do amor proibido dos jovens Laila e Majnun é considerada o Romeu e Julieta do mundo Persa. O livro trata do sentimento avassalador entre os dois personagens e tudo o que conspira para que ele não se realize.
10. O Banquete
Autor: Platão
Antes de torcer o nariz para esse título, é preciso contextualizar para o jovem que leitor que a obra nada mais é do que a discussão sobre como o amor é gerado, na qual cada convidado do encontro coloca a sua visão do sentimento. Aristófanes, por exemplo, fala do amor heterossexual e homossexual.
11. Cem Anos de Solidão
Autor: Gabriel Garcia Marquez
Considerada uma das obras-primas da literatura latino-americana moderna, o livro narra a história de Macondo, uma cidade mítica, e a dos descendentes de seu fundador, José Arcadio Buendía, durante cem anos. “O livro tem passagens muito sensuais e eróticas”, comenta o professor Claudio Bazzoni.
12. Máscaras
Autor: Menotti delPicchia
No poema lírico escrito em forma de peça, a Colombina está apaixonada pelo Arlequim, enquanto este, na verdade, está obcecado por roubar dela um beijo. Para completar o triângulo amoroso, o Pierrot sofre por não ser correspondido pela Colombina.
13. Amor Natural
Autor: Carlos Drummond de Andrade
“É um conjunto de poemas de tirar o fôlego”, diz o professor Claudio Bazzoni. Entre as poesias, títulos como “A Língua Lambe”, “O Chão é Cama” e “A Bunda, que Engraçada”, carregados de descrições minuciosas de partes do corpo e do ato sexual.
14. A Casa dos Budas Ditosos
Autor: João Ubaldo Ribeiro
CLB, uma mulher de 68 anos, conta com detalhes sua intensa e longa vida sexual. A história foi transformada em peça de teatro de sucesso tendo Fernanda Torres como protagonista.
15. Porcos com Asas
Autores: Marco L. Radice e Lidia Ravera
O professor Claudio Bazzoni classifica como “explosivo” o começo desse livro em que são citados um sem número de nomes para os órgãos reprodutores masculino e feminino. O fio condutor é a história de amor de dois adolescentes e a descoberta da sexualidade.
16. Noite na Taverna
Autor: Álvares de Azevedo
Reunidos em uma taverna, um grupo de amigos conversa sobre noites passadas em estado de embriagues e no meio de orgias, com histórias surreais como atos sexuais com cadáveres. Publicada após a morte de seu autor, em 1855, em dois volumes, a obra é representante da escola byroniana do Romantismo no Brasil.
17. Decamerão
Autor: Giovanni Boccaccio
Para fugir da peste negra, no ano de 1348, sete moças e três rapazes resolvem fugir de Florença, na Itália, em direção de um castelo. Para passar o tempo, eles inventaram uma brincadeira que, a cada dia, um deles seria rei ou rainha e teria de contar dez contos. Nas histórias, com um tom de comédia, temas como violência e sexo.
’50 Tons’ para homens: editoras agora investem no ‘daddy porn’
0Bruno Astuto, na Revista Época
O mercado está desesperado para encontrar uma “resposta” ao fenômeno 50 Tons de Cinza. A palavra de ordem nas editoras inglesas é descobrir quem será o próximo ou a próxima E.L. James com seus milhões e milhões de livros eróticos vendidos em todo o mundo. Uma autora contou recentemente a um tabloide que desistiu de oferecer seu romance infanto-juvenil, meio magia à la Harry Potter, meio vampiresco à la Crepúsculo, porque estava cansada de lhe “bateram a porta na cara”. Segundo ela, os editores avisavam que a prioridade agora eram os romances adultos, de cunho erótico, os chamados ‘mummy porn’.
É interessante essa evolução dos fenômenos editoriais nos últimos anos. As cifras espetaculares começaram com Dan Brown e seu Código da Vinci, uma ficção policialesca que tentava decifrar e dessacralizar os dogmas cristãos, evidenciando a religião como instrumento de controle. Em seguida, como se tivéssemos nascido de novo, veio Harry Potter e seu mundo mágico de bruxaria. Um menino bem ao estilo Avenida Brasil; educado durante toda a adolescência para vingar a morte dos pais pelo feiticeiro malvado, alternando momentos de inocência dignos de Rita/Nina e o caráter duvidoso de Carminha. Seguiu-se a saga Crepúsculo, com seus vampiros, lobos e zumbis açucarados e apaixonados, que freavam os ímpetos de morder o pescoço alheio em nome do coração. E foi a partir dela que E.L. James cunhou seus 50 Tons de Cinza, soltando, na base do chicote, a franga e a repressão sexual.
Durante o império do Código, muitos tentaram — sem sucesso — criar fábulas de mistérios religiosos almejando as listas dos livros mais vendidos. Enquanto Harry Potter voava em sua vassoura, nenhum outro herói infantil conseguiu roubar-lhe a vedete. Aberrações vampirescas também sobravam, empoeiradas, nas livrarias ao passo que as sequências de Crepúsculo desapareciam delas. De onde se deduz que a febre sadomasô de 50 Tons também tende a morrer com ele.
Mas há os que ainda tentam, caso da reedição da trilogia The Hand Reared Boy, de Brian W. Adliss. Para quem não conhece os livros, eles foram os 50 tons de toda uma geração de garotos sexualmente reprimidos do início dos anos 70. Trata-se da saga de um menino, Horatio Stubbs, durante a descoberta de sua sexualidade. A editora alardeia o relançamento como a “resposta masculina à trilogia de E.L. James”. O herói passa boa parte do tempo se masturbando, procurando mulheres em série, comendo o mundo inteiro. Até que vai para a guerra, perde as ilusões da juventude e se torna um homem mais consciente – embora não menos tarado. Tudo é descrito à maneira crua masculina, sem o requinte ou a frieza de Christian Grey, herói de 50 Tons. Horatio é um homem como todos os outros, que tenta, até o último momento, alimentar o garoto que existe dentro de si.
Nos 50 Tons, a protagonista encontra o amor à sua maneira; em The Hand Reared Boy, Horatio é até um pouco patético em suas desventuras sexuais. Ele não é sexy, não é um herói do coito. Na verdade, desperta até uma certa piedade diante de seu drama para levar as mulheres para a cama. É o anti-herói erótico, que se parece com a maioria dos homens da vida real. Talvez, por isso, os leitores masculinos possam até se identificar com ele.
Mas o mundo mudou, e não estamos mais no início dos anos 70 quando os garotos tinham que bolar peripécias para ver a vizinha pelada ou conseguir uma revista masculina que aliviasse seus hormônios em ebulição. O sexo está hoje escancarado em toda parte; nas novelas, nos filmes, nos comerciais e, sobretudo, na Internet. Garotos que sonhavam com os seios das atrizes de cinema hoje os encontram com uma banalidade frugal. As divas sexuais não estão trancadas nos dancings ou nos teatros de revista; elas estão, de biquíni, nos reality-shows da TV, rebolando o enorme patrimônio calipígio para todas as idades.
Muito mais excitáveis por estímulos visuais do que por palavras da literatura erótica, qualquer homem hoje em dia achará The Hand Reared Boy um conto de Chapeuzinho Vermelho. Não haverá, portanto, um ‘50 tons’ masculino ou um ‘daddy porn’. Você, aliás, conhece um único homem que tenha gostado do livro? A imaginação sexual dos adolescentes morre quando eles descobrem a senha do pay-per-view do pai ou encontram no YouTube o banho caudaloso de Viviane Araújo na Fazenda. Por isso, quem sabe, Christian Grey esteja fazendo tanto sucesso com as mulheres. Ele sabe manipular o Viagra que mais funciona com elas: a fantasia.