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Professor de Harvard revela os preceitos para a ‘boa escrita’
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Rose Lincoln/Harvard University
Professor de Harvard e especialista em linguagem fala sobre as razões por trás da proliferação de textos ruins e aponta preceitos para a boa escrita
Thais Paiva, no Carta Educação
A ideia de que as novas mídias estão deteriorando o uso da língua não é só falsa como nociva. Quem diz é o cientista canadense Steven Pinker, professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Harvard e especialista em linguagem. Para ele, hoje as pessoas estão escrevendo mais e a oferta de boa escrita é cada vez mais vasta. “Quando foi a última vez que você ouviu alguém reclamar ‘não há nada de bom para ler na internet?’”, provoca.
No entanto, ainda são muitos os que apresentam dificuldade para escrever textos claros e coesos. Segundo Pinker, o texto mal escrito não é necessariamente resultado da falta de conhecimento. Pelo contrário, pode ser fruto do que ele chama de “maldição do conhecimento”, isto é, especialistas que pressupõem que seus leitores já sabem o que eles sabem e não se preocupam em explicar.
Em entrevista ao Carta Educação, o professor falou sobre seu livro Guia de Escrita: como conceber um texto com clareza, precisão e elegância (Ed. Contexto), no qual elenca princípios que devem nortear o autor para uma produção textual de qualidade e esclarece as relações entre as ciências da mente e o funcionamento da linguagem.
Por que as pessoas têm tanta dificuldade para escrever?
Primeiramente, escrever é uma tarefa artificial, que nós não nascemos para fazer. Como escreveu Charles Darwin, “o homem tem uma tendência instintiva para falar, como podemos ver no balbuciar das crianças pequenas, enquanto que nenhuma criança mostra uma tendência instintiva para assar, fermentar ou escrever”. Quando você fala, você conhece o ouvinte pessoalmente e pode prever o que ele já sabe. Quando escreve, o leitor é um estranho; você tem que adivinhar o que ele sabe e o que não sabe. Além disso, com o discurso, você pode monitorar a reação do ouvinte – vê-lo concordando com a cabeça ou franzindo a testa em perplexidade. Quando escreve, você tem que adivinhar – e provavelmente estará errado.
Em seu livro, o sr. diz que a ideia de que o uso da língua está se deteriorando é falsa. As pessoas estão escrevendo mais do que nunca por conta das novas mídias. Mas estão escrevendo com qualidade?
Há bilhões de pessoas escrevendo! Alguns textos são ruins – e sempre foram. É um erro apontar a escrita de má qualidade que vemos hoje e alegar que ela é consequência do fato da escrita estar piorando. As pessoas se esquecem de todos os textos ruins do passado. E há uma vasta oferta de bons textos atualmente. Quando foi a última vez que você ouviu alguém reclamar “não há nada de bom para ler na internet?”.
O sr. também diz que o texto mal escrito não é necessariamente resultado da falta de conhecimento. Pelo contrário, quanto mais especializada uma pessoa for em um tema, maiores as chances desse autor usar uma linguagem hermética e distante e se comunicar mal. Por que isso acontece?
A razão pela qual os especialistas têm dificuldade para se comunicar é que eles estão sujeitos à “maldição do conhecimento” – a dificuldade de entender como é não saber algo que eles sabem. Como resultado disso, autores usam abreviações e jargões ou falham em descrever o concreto, detalhes visuais de uma cena; eles pressupõem que seus leitores já sabem o que eles sabem e não se preocupam em explicar. Há inúmeras maneiras de evitar a maldição do conhecimento. A primeira é estar ciente dela, perguntar a si mesmo “o que meu leitor já sabe sobre o que eu estou escrevendo?”. Boa escrita requer empatia. A segunda coisa é colocar o texto de lado por um tempo e voltar para ele depois quando ele já não é familiar para você. Você se verá dizendo “o que eu quis dizer com isso?”. A melhor estratégia de todas é mostrar um rascunho para um leitor representativo e ver o que ele entende. Você se surpreenderá ao ver que o óbvio para você não é óbvio para todo mundo.
Podemos falar em “erro” quando se trata de língua, algo que sabemos estar em constante mudança? Se sim, deveríamos dar tanta importância para eles?
O erro é definido em relação às expectativas de determinado conjunto de leitores – um grupo de pessoas alfabetizadas que se importam com a escrita e esperam que determinadas convenções sejam seguidas. As línguas mudam, mas isso não acontece de terça para quarta-feira. Se sim, ninguém poderia compreender o outro e se você pegasse um jornal do ano anterior não entenderia nada.
O sr. diz que a boa escrita é aquela que faz com que o leitor se sinta um gênio. No entanto, a escrita ruim é aquela que faz com que o leitor se sinta um estúpido. Parte do problema que vemos hoje com a proliferação de textos ruins não está ligada ao fato de que muitos autores querem se sentir superiores aos seus leitores?
Isso pode ser parte do problema, mas um maior está no fato dos autores se preocuparem que seus colegas de profissão/área pensem que são inferiores, então eles tentam antecipar todas as objeções e críticas possíveis e evitam a linguagem simples porque isso talvez revele que são ignorantes. Em outras palavras, um autor ruim não está tentando ser superior aos seus leitores, está tentando não ser inferior às pessoas que ele acredita que estão julgando-o, isto é, os experts em seu campo de atuação. Mas escrever de forma defensiva e tentando provar que não é ignorante só irá fazer sua prosa difícil e hesitante para a grande maioria dos leitores.
A ordem com que os pensamentos surgem na nossa mente é diferente daquela em que os argumentos são mais facilmente entendidos pelo leitor? Como alinhar essas duas dimensões?
Os pensamentos ocorrem ao autor por meio de associações – uma ideia te lembra outra que te leva a uma terceira ideia. Em seguida, você se lembra que você quis dizer três coisas diferentes e que acabou omitindo-as. Aí você antecipa uma objeção e responde à essa objeção e assim por diante. Mas o fluxo da consciência de um autor não corresponde ao modo como o leitor consegue absorver uma informação. O mais importante princípio na hora de apresentar ideias é “dado, agora algo novo” – comece cada sentença com aquilo que o leitor já está pensando, então apresente a informação nova para o leitor no final da frase.
7 dicas de Steven Pinker para escrever melhor
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Bruno Vaiano na Galileu
Psicólogo rockstar”. É assim que a Forbes define Steven Pinker, professor do departamento de psicologia da Universidade Harvard, gênio das ciências cognitivas e da linguística, dono de um simpático cabelo cacheado, agora grisalho, e autor de livros de divulgação científica impecáveis – que deixam pulgas atrás da orelha em vez de dúvidas.
Pinker é um cara tão legal, diga-se de passagem, que quando o mundo parou para decidir de qual cor era o agora célebre vestido azul e preto – ou será branco e dourado? –, ele se prontificou e deu a explicação. Mas isso é assunto para outro post.
O fato é que ele é um cara muito bom em uma coisa que interessa a muita gente: colocar informação no papel. E em 2014 decidiu compartilhar sua cartola de truques com o livro Sense of Style – que agora chega ao Brasil como Guia de Escrita (Editora Contexto, R$ 49,90). A GALILEU separou algumas dicas valiosas – e o livro está cheio de muitas outras.
1. Esqueça essa história de que antigamente as pessoas escreviam melhor.
Se uma pessoa está na face da Terra há muito tempo, é natural que se incomode com mudanças culturais. Mas você não pode deixar suas tradições e opiniões transformarem seu texto em um autêntico José de Alencar. A verdade é que a língua muda rápido, e desde que o mundo é mundo professores e acadêmicos estão reclamando da decadência moral e linguística. Pinker faz até uma coletânea de exemplos de várias épocas. Em 1478 o tipógrafo William Caxton afirmou que “nossa língua tal como é usada hoje difere de longe daquela que era usada e falada quando eu nasci”. Já um anônimo de 1917 foi categórico: “Nossos calouros não sabem soletrar, não sabem pontuar. Todos os colégios estão desesperados, porque os alunos desconhecem os rudimentos básicos”.
2. Fuja do jargão de sua área do conhecimento. Rápido.
Já tentou ler um texto jurídico? Ou o manual de instruções para a instação de um roteador em casa? Ou mesmo um dos artigos científicos que a GALILEU lê todos os dias para te atualizar? Pois é, a redação é indecifrável em grande parte dos casos. Pinker afirma que é difícil para uma pessoa saber como é para outra pessoa não saber o que ela sabe. Em outras palavras, quando você entende tudo de um assunto, tem a impressão de que todo entende pelo menos um pouquinho. A consequência é o que ele denomina “maldição de conhecimento”. Em resumo: evita abstrações demais, e use palavras que todo mundo conhece. Não vai doer nada, e vai te ajudar a enviar sua mensagem ao maior número possível de pessoas.
3. Evite transformar verbos em substantivos.
O fechamento brusco da peça pode ocasionar a quebra de suas dobradiças. Não é difícil topar com um aviso como esse na caixa de um produto qualquer. Soa péssimo, e o pecado está em não assumir as ações. Por que usar “ocasionar a quebra” se “quebrar” é tão mais simples? Pinker chama esse tipo de substantivo de “zumbi”, e dá uma boa sugestão: trazer todos de volta à vida verbal: Fechar a peça bruscamente pode quebrar suas dobradiças.
4. Diminua a distância entre palavras relacionadas entre si.
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas… De um povo heróico o brado retumbante.
Que tal colocar na ordem? As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico. Ufa! Vamos do hino nacional a Os Lusíadas, de Camões.
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
O sujeito são “as armas e os barões assinalados”. O verbo, “cantando”.
Você não viu o verbo na estrofe acima? Pois é. A não ser que você seja Camões, separar os dois dessa maneira não é uma boa maneira de escrever um e-mail para seu chefe. À proposito, ele está destacado na estrofe abaixo, 14 versos depois.
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis, que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
5. Use as vozes passiva e ativa para dirigir o olhar do leitor para o que interessa.
A voz passiva é considerada por alguns gramáticos e revisores uma grande inimiga de uma boa redação. Não seja tão radical. Como você pode perceber pela frase anterior — que está em voz passiva — começar uma frase por seu objeto é um ótimo jeito de chamar a atenção do leitor para o que realmente interessa. O contrário pode até dar certo: Alguns gramáticos e revisores consideram a voz passiva uma grande … Mas tiraria o foco do assunto da frase.
Pinker também lembra que ela pode tirar do caminho sujeitos que não interessam para quem lerá a frase. Em helicópteros foram levados ao local do incêndio, o ouvinte não precisa saber quem são os pilotos. Políticos e jornalistas sabem muito bem disso, e podem usar a passiva para omitir o sujeito quando, na verdade, ele é de interesse público, como em R$ 25 milhões foram desviados de uma empresa estatal em vez de João da Silva desviou R$ 25 milhões de empresa estatal.
6. Use sinônimos para não repetir palavras, mas não exagere na dose.
Não é uma boa ideia repetir uma palavra vezes demais. João é legal. João foi à escola. Lá, João falou com seus amigos. É por isso que no gênero jornalístico uma instrução comum é não repetir palavras essenciais para a matéria na mesma página. Buscar sinônimos, porém, pode te levar a construções desconfortáveis.
Isso acontece, em primeiro lugar, porque não há tantos sinônimos assim: gato pode ser trocado por bichano ou felino, mas seu nome científico, Felis catus, já seria um exagero fora de um texto especializado. Outro é que é preciso tomar cuidado para usar palavras na sua ordem de abragência. Dá para dizer O ônibus acelerou. As pessoas caíram dentro do veículo. Já O veículo acelerou. As pessoas caíram dentro do ônibus não deixa claro que o veículo em questão é um ônibus. A categoria “veículo” engloba muitas coisas, entre elas, ônibus.
7. Tome cuidado com ambiguidades sintáticas.
A polícia cercou o ladrão do banco na rua Santos. Afinal, o ladrão do banco da rua Santos foi cercado em um lugar qualquer ou o ladrão de um banco qualquer foi cercado na rua Santos? Quando conhecemos uma história, o significado de uma frase parece óbvio. Tão óbvio que não temos o costume de revisar para ver se alguém poderia entender algo completamente diferente.
Jovens de hoje não escrevem pior, garante o linguista Steven Pinker
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Steven Arthur Pinker é um psicólogo, linguista e neurocientista canadense da Universidade de Harvard (Foto: Rebecca Goldstein/Divulgação)
Raul Juste Lores, na Folha de S.Paulo
A internet não piora a maneira como escrevemos, nem os jovens de hoje têm menor domínio de redação que seus antepassados.
No best-seller “The Sense of Style” (o senso de estilo), o psicólogo, linguista e neurocientista Steven Pinker, 60, critica o conservadorismo dos manuais de redação, ataca regrinhas-clichê do escrever bem e defende uma escrita mais “clara, concisa, precisa, com tom e cadência”.
Professor de Harvard que combina prestígio acadêmico com linguagem cristalina e nada empolada, Pinker diz que escreveu seu manual não por saudosismo dos bons tempos, mas porque “estilo ainda importa”.
“Pode acontecer uma morte na estrada por um sinal mal escrito ou termos um coração partido por uma frase mal colocada naquela mensagem bem-intencionada”, diz à Folha.
“Governos e grandes empresas descobriram que pequenas melhorias na clareza podem evitar vastas quantidades de erros, frustrações e desperdícios, e muitos países têm feito da clareza a lei suprema.”
Ele diz que um dos maiores problemas em qualquer texto hoje é a “maldição do conhecimento” –quando o autor sabe demais e não tem ideia de que nem todo mundo sabe o mesmo que ele.
“Muitos profissionais buscam a cura para o seu academiquês, burocratês, corporatês, legalês, medicalês ou oficialês”, brinca. Vários dos conselhos do livro tentam exterminar o palavreado pomposo.
Para ele, o antídoto é supor que os leitores “sejam tão inteligentes quanto você, mas que por acaso não saibam alguma coisa que você sabe”.
“Conheço vários acadêmicos que não têm nada a esconder nem necessidade de impressionar. Eles fazem trabalhos revolucionários em assuntos importantes, raciocinam bem sobre ideias claras e são honestos, gente com os pés no chão, com quem você gostaria de tomar uma cerveja”, justifica. “Ainda assim, a escrita deles é horrenda.”
O livro esbanja bons e maus exemplos, de textos acadêmicos a romances clássicos, de quadrinhos à cultura pop, para defender a concisão e a elegância.
ESCREVER MAIS
Pinker explica que a vontade de escrever seu próprio manual (ele é um consumidor assumido de manuais) também tem relação com o presente, no qual todo mundo é escritor de vez em quando.
“Pesquisas têm demonstrado que os universitários de hoje estão escrevendo bastante mais que seus congêneres de gerações passadas, e que eles não cometem mais erros por página escrita”, diz.
“Não estamos escrevendo pior que antigamente. As pessoas confundem seu envelhecimento com o declínio do mundo ao seu redor. É a chamada ilusão dos bons velhos tempos”, explica.
“Coloquei no livro vários textos de 1889, 1833, 1785 em que os autores se queixavam da “juventude de hoje” que não sabia escrever. Nas tábuas de argila da Suméria antiga já havia reclamações de que os jovens estavam destruindo o idioma”, ri.
Apesar de a obra ter capítulos inteiros sobre a gramática do inglês, onde Pinker defende neologismos e expressões antes condenadas por linguistas, o autor diz que muitas de suas ideias de redação são universais.
“Mesmo em uma cultura que valorize mais a forma indireta e a polidez que nos EUA, como parece ser no português, uma descrição clara, concreta e vívida será mais eficiente que uma vaga, abstrata, oca e turva. É uma discussão relevante em português ou em inglês”, diz.
“Usamos a forma indireta, eufemismos e insinuações quando discutimos temas sensíveis, como sexo, mas muita má escrita, especialmente de acadêmicos, advogados e burocratas, vêm de inaptidão mais que de polidez.”
Segundo livro escolhido por Mark Zuckerberg trata da diminuição da violência no mundo
0Marcos Vinicius Brasil, na Info
O cofundador do Facebook continua mantendo sua resolução de ano novo, de ler um livro a cada duas semanas. E o segundo título escolhido por ele foi Os anjos bons da nossa natureza – Por que a violência diminuiu, de Steven Pinker. O livro, lançado no Brasil pela Companhia das Letras, trata de como a violência diminuiu na sociedade global ao longo da história, e como essa tendência pode ser sustentada.
Eventos recentes podem fazer parecer que a violência e o terrorismo são mais comuns do que nunca, então vale a pena entender que toda a violência, incluindo o terrorismo, na verdade está diminuindo com o passar do tempo, escreveu Zuckerberg. Se entendermos como estamos conseguindo isso, podemos continuar nossa trajetória em direção à paz.
Zuckerberg também convidou quem quiser acompanhá-lo na leitura a discutir o livro na página A Year of Books, uma espécie de clube do livro que ele criou dentro do Facebook.
No começo do ano, o cofundador do Facebook divulgou que leria um novo livro a cada duas semanas, como sua resolução de ano novo, escolhida a partir de sugestões enviadas por usuários da rede social.
O primeiro livro escolhido por ele foi O fim do poder, de Moisés Naím. O título chegou a se esgotar na Amazon americana.