Posts tagged Tesouro
Robinson Crusoé e outros clássicos de aventura serão relançados no Brasil
0Cesar Gaglioni, no Jovem Nerd
A editora Nova Fronteira anunciou um box que relançará três clássicos da aventura no Brasil: Robinson Crusoé, de Daniel Defoe; Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson; e As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift.
Robinson Crusoé conta a história de um náufrago que passou 28 anos em uma ilha deserta. Lá, ele conhece Sexta-Feira, um nativo a qual acaba se afeiçoando. O livro se tornou tão importante e icônico que criou um gênero completo, denominado academicamente de Robinsonade. Exemplos de obras que se encaixam nesse formato são Náufrago, com Tom Hanks; Perdido em Marte; e Perdidos no Espaço (qual o sobrenome da família protagonista? Isso mesmo, Robinson).
As Viagens de Gulliver gira em torno do cirurgião Lemuel Gulliver, que roda o mundo em busca de países e culturas exóticas (e acaba encontrando, claro!). A trama de Ilha do Tesouro acompanha a busca por um antigo tesouro que está enterrado numa ilha (você não esperava por essa, né?) — o livro se tornou um clássico imediato. Uma curiosidade interessante é que foi nele que surgiu o conceito de um mapa do tesouro que possui um grande X vermelho na localização do baú. O romance também ajudou a popularizar a imagem do pirata com tapa-olho, perna de pau e um papagaio no ombro.
O box chega às lojas ainda em abril.
Milionário excêntrico esconde tesouro de US$ 2 milhões e deixa 9 pistas em poema
0Publicado no UOL
Centenas de objetos de ouro incrustados com rubis, oito esmeraldas, duas safiras do Ceilão, muitos diamantes, duas antigas esculturas chinesas de jade e pulseiras de ouro pré-colombiano.
É assim que o comerciante de arte e ex-piloto Forrest Fenn descreve o tesouro que ele diz ter escondido nas montanhas do condado de Santa Fé, no Estado americano do Novo México.
Fenn, que tem 82 anos e fama de excêntrico, afirma que os objetos podem valer até US$ 2 milhões (R$ 6,4 milhões) e que as nove pistas para encontrá-los estão em um poema de 24 versos publicado em seu livro de memórias.
Fenn calcula que, nos últimos cinco anos, por volta de 65 mil pessoas tentaram encontrar o cofre de bronze no qual ele guardou o tesouro.
E enquanto mais e mais pessoas juntam suas barracas e equipamentos de montanhismo para sair em busca da fortuna, críticos acusam Fenn de incentivá-las a colocar suas vidas em perigo.
Além disso, afirmam que a história não passa de uma estratégia do milionário para vender mais livros.
O desafio já levou a operações de resgate – um caçador do tesouro, por exemplo, está desaparecido há seis meses.
As pistas
O livro de Fenn, Thrill of the C hase (ou “O Prazer da Caçada”, em tradução livre), está à venda por US$ 35 (R$ 113) nas lojas do Novo México e aparece na lista dos mais vendidos nas livrarias locais.
Uma curta sinopse diz que a obra conta “a incrível história real de Forrest Fenn e de um tesouro escondido, oculto em algum lugar nas montanhas de Santa Fé”.
“O livro contém pistas sobre a localização do tesouro”, afirma o texto promocional.
Mas qual seria a motivação de Fenn?
“Fazer com que as pessoas saiam de seus sofás”, declarou o colecionador em um blog que compila informações sobre a história.
Ele também disse que está muito feliz porque as pessoas começaram a sair em busca do tesouro quase imediatamente após a publicação da obra.
“Estou mais do que satisfeito com a forma como (o livro) foi recebido. Muitos o leram várias vezes, buscando pistas adicionais ou sinais que os ajudem na busca”, escreveu Fenn no blog.
Thrill of the C hase foi publicado pelo próprio autor em 2010 – não há dados oficiais sobre a tiragem.
A caçada ao tesouro
Fenn disse receber centenas de e-mails por dia contendo perguntas sobre o tesouro, mas que responde a apenas uma mensagem por semana.
As respostas, no entanto, podem ser mais incompreensíveis do que as pistas incluídas no poema.
O que se sabe até agora é que o cofre está situado em um local a não menos do que 13 quilômetros de distância de Santa Fé, entre as montanhas, e mais de 1,5 mil metros acima do nível do mar.
“Os caçadores me falam genericamente sobre os locais que exploraram. Não sei se alguém esteve perto do tesouro”, disse o autor.
Nas redes sociais, alguns usuários vêm compartilhando fotografias de suas tentativas de encontrar o tesouro – alguns dizem ter passado até três anos em busca do cofre de bronze.
Mas também há críticos que questionam a existência do tesouro ou que especulam se a história toda não seria, na verdade, uma forma de incentivar as pessoas a valorizarem os recursos naturais.
Desaparecido há seis meses
Mas nem tudo é diversão e aventura no desafio inventado por Forrest Fenn.
O departamento de buscas e resgates do Novo México informou à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, que há casos de pessoas que se perderam nas montanhas de Santa Fé enquanto procuravam pelo tesouro.
O mais grave foi o de Randy Bilyeu, que está há mais de seis meses desaparecido – não há notícias sobre ele desde o dia 4 de janeiro, quando se despediu dos familiares.
Linda Bilyeu, esposa de Randy, afirmou que ele viajou para o norte do Novo México “em busca de seu sonho”: procurar e encontrar o tesouro de Fenn.
“Sair à procura do tesouro não foi uma decisão sábia, mas… agora nossa missão é encontrar Randy e não vamos parar até conseguirmos”, disse ela.
O serviço florestal de Santa Fé informou à BBC Mundo que desde então a polícia, o departamento de buscas e resgates, voluntários e outras equipes vêm tentando encontrar Bilyeu.
Segundo as autoridades locais, tem havido muita imprudência na caça ao tesouro de Fenn. Mas isso não parece preocupar o autor do desafio.
“Aplaudo os que perseveram nas buscas e desfrutam do que a natureza tem a oferecer. O lugar onde deixei (o tesouro) não é perigoso. Com 85 anos, eu seria capaz de voltar lá e recuperá-lo”, disse.
Na opinião dele, “qualquer lugar pode ser perigoso para qualquer pessoa que desrespeite as regras do senso comum”.
A Ilha do Tesouro ganha versão em HQ
0Publicado no UOL
A Editora Nemo lança mais uma HQ baseada em um clássico da literatura. Depois de A Tempestade, MacBeth e Rei Lear, todos de Shakeaspeare, agora é a vez de A Ilha do Tesouro, livro de aventura escrito pelo escocês Robert Louis Stevenson e publicado em 1883. O roteiro da HQ é de Manuel Pace, com ilustrações de Carlo Rispoli.
A história foi uma das primeiras a retratar a figura do pirata como conhecemos: com perna-de-pau e um papagaio no ombro. Em A Ilha do Tesouro, Jim Hawkins, de 12 anos, deixa a tranquila vida na taberna da mãe para sair em busca de um tesouro, na companhia de amigos nobres e aventureiros. Ao chegarem à ilha indicada no mapa, tendo transposto os perigos do mar, eles descobrem o verdadeiro perigo, que está também interessado no tesouro escondido.
A Ilha do Tesouro
Roteiro: Manuel Pace
Desenhos: Carlo Rispoli
Tradução: Diego Cervelin e Fernando Scheibe
Editora Nemo
104 páginas
Preço: R$ 42,00
ISBN: 978-85-82860-32-8
Lydia Davis: “Minhas histórias surgem das situações mais estranhas”
0A mestra americana do conto breve revela como inventa suas histórias, repletas de paradoxo e ironia
Luís Antônio Giron, na Época

A escritora americana Lydia Davis participa de duas mesas desta edição da Flip
(Foto: Flavio Moraes / ÉPOCA)
A escritora Lydia Davis é um tesouro quase secreto da literatura americana. Isso porque ela não tem nada a ver com a tradição realista de seu país. Escreve narrativas curtas, de aforismos breves a contos, sem nenhum compromisso com a verossimilhança ou a imitação da natureza. Ela é capaz de escrever um conto cujo texto é menor que o próprio título. É o caso de “Exemplo de gerúndio num quarto de hotel”. O conto é o seguinte: “Sua camareira está sendo Shelly”. Ele faz parte do livro Tipos de perturbação (Companhia das Letras, 254 páginas), lançado em 2007 e agora publicado no Brasil. Lydia Davis é a rainha dos jogos de sentido e dos enigmas paradoxais. Nesse sentido, é muito parecida com o austríaco-boêmio-judeu Franz Kafka e o argentino Jorge Luis Borges. Lembra também o português Gonçalo M. Tavares. Pertence, enfim, a uma linhagem especial de autores filosóficos, irônicos e paradoxais.
Lydia está em Paraty para participar de duas mesas: uma hoje sobre tradução e outra amanhã ao lado do escritor irlandês John Banville. É certamente a ocasião mais importante de uma Flip marcada por improvisos e as defecções de Houellebecq e Knausgaard. Lydia Davis tem 63 anos, nasceu em Northanpton, Massaachussets, e já pubicou seis volumes de conto e um romance. É uma mulher bonita, refinada e simpática. Atendeu Época em uma casa colonial de Paraty usada pela aCompanhia das Letras como sede.
ÉPOCA – Sua ficção é marcada por uma espécie de integridade literária que deve afastar boa parte dos leitores, não?
Lydia – Não penso nos leitores quando escrevo. Há leitores para todo tipo de gênero. Claro que a maioria gosta de best-sellers, de histórias de amor e de ação. Só acho que deveriam prestar atenção à arte literária.
ÉPOCA – Por que a senhora escolheu o conto curto como gênero dominante de sua obra?
Lydia Davis – Foi um processo natural. Minha mãe escrevia contos, e até meu pai se arriscou em escrever histórias curtas. Desde pequena eu escrevo. Comecei contando histórias da forma tradicional, linear. Tentei ir pelo caminho de (Anton) Tchéckhov, do conto irônico e bem construído. Mas acabei encontrando meu estilo próprio. Busco trabalhar com uma variedade de registros, que vão do conto de uma única sentença a histórias um pouco mais longas.
ÉPOCA – A senhora poderia explicar duas operações que se repetem em seus contos: a ironia e o paradoxo? De alguma forma eles são aforísticos, não?
Lydia – Sim, talvez porque eu encare o ato de escrever histórias como um fazer poético. Narro como se escrevesse poemas. Meus contos aspiram a ser poemas. Poesia é a grande forma, e de algum modo inalcançável para os prosadores. Quanto à ironia e o paradoxo, sou afeiçoada a Kafka. Muitas vezes tento imitar o jeito de Kafka escrever.
ÉPOCA – Há também um pouco de Jorge Luis Borges em seus contos, não? Na edição brasileira de Tipos de Perturbação, o subtítulo, em vez de “stories”, como está em inglês, é “ficções”, que era a forma como Borges denominava seus textos.
Lydia – Borges é um autor importante para mim, até porque ele próprio é de certo modo kafkiano. Eu procuro imitar o jeito de escrever desses autores, claro que buscando um jeito original. A palavra “ficções” soa pretensiosa em inglês. Mas no Brasil soa bem, já que vocês têm mais intimidade com a obra de Borges. Nas realidade, vejo o que escrevo como contos.
ÉPOCA – A senhora gosta de algum autor brasileiro?
Lydia – Adoro Clarice Lispector. Ela tem uma maneira também aforística de escrever e de fazer o leitor entrar em um mundo inquietante e inesperado. Eu já conhecia dela um romance, A hora da estrela. Agora li um volume de contos. E também estou escrevendo para tentar imitá-la.
ÉPOCA – De onde surgem suas histórias?
Lydia – Minhas histórias surgem das situações mais estranhas. Quando estou fazendo compras, ou passeando, qualquer momento. Por isso, carrego comigo um bloco. Vou anotando o que posso. Quando uma ideia me vem, anoto. Muitas vezes não anoto, mas me lembro e escrevo.
ÉPOCA – Como é seu método de trabalho, disciplinado ou ao sabor da inspiração?
Lydia – Sou assistemática. Alice Munro (autora canadense) diz que é preciso manter a disciplina e escrever em determinadas horas do dias, apesar de filhos, maridos, família, obrigações. Ela conseguiu fazer isso. Eu não. Escrevo quando tenho vontade, e se estou com uma boa ideia de história. Ás vezes invento contos e corto tudo até virarem uma frase. Às vezes parto de uma ideia muito simples para criar uma trama complexa. Depende da inspiração. Anoto à mão e depois escrevo no computador com o material que tenho à disposição.
ÉPOCA – No conto “Kafka prepara o jantar”, que está no seu último livro, Tipos de perturbação, Franz Kafka é um personagem cheio de dúvidas transcendentais, bastante esquisito. O conto reflete a sua visão pessoal de Kafka? Como o conto surgiu?
Lydia – Eu estava preparando um jantar francês para amigos uma noite dessas quando pensei: nossa, é muito difícil cozinhar para uma ocasião especial. Como Kafka enfrentaria a situação? Assim comecei “Kafka prepara o jantar”. Mas fui além. Fui atrás da correspondência dele com Milena (sua namorada). As cartas confirmaram o que eu já pensava dele: u sujeito muito estranho, em estado permanente de hesitação. No conto, procurei imitar o próprio estilo de Kafka em suas cartas.
ÉPOCA – A senhora já traduziu Gustave Flaubert, Marcel Proust e Michel Foucault. Como foi sua experiência ao traduzir?
Lydia – Já fiz muita tradução por encomenda, só para me sustentar. Mas com autores como Flaubert e Proust, fiz porque queria me desafiar a traduzir dois autores importantes para minha formação. Flaubert é mais fácil, embora sua concisão apresente uma série de problemas. Proust é um autor mais difícil, suas frases são longas, poéticas e evocativas, elas acompanham um devaneio bastante difícil de traduzir para o inglês. Leveis seis meses traduzindo O caminho de Swann. Valeu a pena. Aprendi muito.
ÉPOCA – Que tipo de tradução a senhora prefere, a criativa ou a que busca a fidelidade ao original?
Lydia – Eu busco a fidelidade quando traduzo. Mesmo em Proust persegui uma correção direta com o inglês. Claro que precisei mudar o jeito de escrever em inglês para trazer Proust ao idioma.
ÉPOCA – A senhora vai debater com John Banville os limites da ficção. Eles existem de fato?
Lydia – Eu acho legítimo escrever de forma experimental. Um texto que tem apenas a letra “i” e um monte de páginas em branco é algo que entendo, acho divertido. O modo como James Joyce escrevia contaminou boa parte dos autores contemporâneos até os anos 70, hoje pode estar fora de moda. Eu não penso em limites formais. A minha inclinação pessoal é escrever de forma direta, para que o leitor entenda. Adoto formas tradicionais, o texto conciso, para dar o recado exato. O que não deixa de ser uma atitude experimental.