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10 Regras de Nietzsche para Escritores
0Mais de um século antes do sistema de escrita de Elmore Leonard e conjuntos semelhantes inspirados dos mandamentos de Neil Gaiman, Zadie Smith, Vogler, Campbell, Margaret Atwood, entre outros, uma das maiores mentes humanas que já existiu fez exatamente o mesmo.
Maik Barbara, no Homo Literatus
Interessante foi o fato dessa criação: ocorrido entre 8 a 24 de agosto de 1882 ninguém menos que ele, Friedrich Nietzche, estabelecia dez regras estilísticas para a então escritora, intelectual e psicanalista Lou Andreas-Salomé, tudo feito através de cartas enviadas a ela.
Andreas-Salomé, então com 21 anos de idade, e Nietzsche com impulsos de admiração, decidiu fazê-la não só a sua protegida intelectual, mas também sua esposa. Ele teria supostamente proposto casamento logo em seu segundo encontro no início daquele mesmo ano. Andreas-Salomé o rejeitou o pedido assim como os avanços românticos de Nietzsche, em seguida lidou com a ruptura na amizade. Apesar de tudo ela manteve com Nietzsche uma relação de respeito por toda a vida, respeito por sua mente e trabalho.
Mais de duas décadas depois, ela incluiu essas dez regras da escrita em seu livro Nietzsche– diga-se de passagem um livro que reflete um estudo soberbo da personalidade de Nietzsche, filosofia e psique.
Sob o conteúdo nomeado “Rumo ao Ensino de Estilo”, eis aqui um resumo das regras que Nietzsche prescreveu:
1. De primeira necessidade é a vida: um Estilo deve ser feito VIVO.
2. O Estilo deve ser adequado para o tipo específico de pessoa com quem você deseja se comunicar (Lei da Relação Recíproca).
3. Em primeiro lugar, deve-se determinar com precisão “o-que e o-que eu desejo fala e apresentar,” antes que você possa escrever. A escrita deve ser mimetismo.
4. Uma vez que o escritor carece de meios de oratória, ele deve, em geral, têm por seu modelo um tipo muito expressivo de apresentação de necessidade, a cópia de escrita (estilo) irá aparentar-se mais pálida.
5. A riqueza da vida se revela através da riqueza de gestos, dos símbolos. É preciso aprender a sentir tudo – o comprimento e o retardamento das sentenças, inter-pontuação, a escolha das palavras, a pausa, a sequência de argumentos – tal como sinais.
6. Tenha cuidado com os períodos! Apenas as pessoas com respiração de longa duração irão se beneficiar de trechos grandes, sem pausas. Com a maioria das pessoas, o período é uma questão de afeição.
7. O Estilo deve provar que alguém acredita em uma ideia; não apenas que acredita, mas também a sente.
8. Quanto mais abstrata for a verdade que se tenta ensinar, mais é preciso seduzir primeiro os sentidos.
9. A estratégia por parte do bom escritor de prosa consiste na escolha de seus meios para pisar no limiar da poesia, mas nunca para dentro dela.
10. Não é de boas maneiras, ou inteligente, privar um leitor das mais óbvias objeções. É de muito boas maneiras e muito inteligente colocar essas objeções de forma ao leitor perceber e pronunciá-las em jus da quintessência definitiva de sua sabedoria.
Estes mandamentos são, obviamente, no mínimo aforísticos. Na verdade, ao contrário de Susan Sontag, que veementemente denuncia, tanto Nietzsche e Andreas-Salomé no sentido que tiveram uma predileção por aforismo. Andreas-Salomé reflete em sua obra o estilo de Nietzsche à luz de sua predileção aforístico:
Para examinar o estilo de Nietzsche por Causas e Condições significa muito mais do que apenas examinar a mera forma em que suas ideias são expressas; pelo contrário, significa que podemos ouvir seus sons internos. O seu Estilo surgiu através da vontade, entusiasmo, auto sacrifício, e seu pródigo grande talento artístico… e uma tentativa de transmitir o conhecimento através de nuanças individuais, reflexo das excitações de uma alma em convulsão. Como um anel de ouro, cada aforismo firmemente envolve pensamento e emoção. Nietzsche criou, por assim dizer, um novo estilo de escrita filosófica, que até então foi redigida em tons acadêmicos ou na poesia efusiva: ele criou um estilo personalizado; Nietzsche não só domina a linguagem, mas também transcendeu suas insuficiências. O que antes tinha sido mudo, alcançou grande ressonância.
O livro Nietzsche é magnífico quando lido na íntegra.
Os dez mandamentos do escritor, segundo Zadie Smith
0Sérgio Rodrigues, na Veja
É praticamente impossível aprimorar a lista de dez conselhos a jovens escritores que a escritora inglesa Zadie Smith (foto), autora de “Dentes brancos” e “Sobre a beleza” – e do recente NW, ainda inédito por aqui – escreveu para o “Guardian” em 2010 (via Brain Pickings).
Não há um único item dedicado ao que escrever tem de mais essencial e misterioso, aquilo que levou Somerset Maugham a dizer: “Existem três regras para escrever ficção. Infelizmente, ninguém sabe quais são elas”. Sábia, ZS se cala sobre os tesouros que cada um terá que descobrir por si mesmo, sem mapa e na mais completa escuridão – missão difícil mas não impossível, caso o caçador tenha vivido o tipo de infância mencionado no item 1 e goze do mínimo de talento citado no 3.
Deixando de lado o indizível, esses conselhos cobrem de forma admiravelmente lúcida e sucinta os principais aspectos práticos que cercam a atividade, inclusive as muitas armadilhas ao longo do caminho. Mereciam ser gravados na pedra.
1. Ainda na infância, assegure-se de ler um monte de livros. Passe mais tempo fazendo isso do que qualquer outra coisa.
2. Quando adulto, tente ler seu próprio trabalho como um estranho o leria, ou melhor ainda, como um inimigo o leria.
3. Não romantize sua “vocação”. Ou você consegue escrever boas frases ou não consegue. Não existe nada parecido com uma “vida de escritor”. A única coisa importante é o que você deixa na página.
4. Evite seus pontos fracos. Mas faça isso sem dizer a si mesmo que aquilo que é incapaz de fazer não merece ser feito. Não mascare sua insegurança com o ressentimento.
5. Deixe um espaço de tempo decente entre escrever e editar o que escreveu.
6. Evite panelinhas, grupos, gangues. A presença de uma multidão não tornará seu texto melhor do que é.
7. Trabalhe num computador desconectado da internet.
8. Proteja o tempo e o espaço em que escreve. Mantenha todo mundo do lado de fora, mesmo as pessoas que são mais importantes para você.
9. Não confunda honrarias com realização.
10. Diga a verdade através de qualquer véu que esteja à mão – mas diga. Conforme-se com a tristeza de uma vida inteira que advém do fato de nunca estar satisfeito.
Os dez mandamentos do escritor, segundo Zadie Smith
0Cássia Pires, no Carambolas Azuis
1. Ainda na infância, assegure-se de ler um monte de livros. Passe mais tempo fazendo isso do que qualquer outra coisa.
2. Quando adulto, tente ler seu próprio trabalho como um estranho o leria, ou melhor ainda, como um inimigo o leria.
3. Não romantize sua “vocação”. Ou você consegue escrever boas frases ou não consegue. Não existe nada parecido com uma “vida de escritor”. A única coisa importante é o que você deixa na página.
4. Evite seus pontos fracos. Mas faça isso sem dizer a si mesmo que aquilo que é incapaz de fazer não merece ser feito. Não mascare sua insegurança com o ressentimento.
5. Deixe um espaço de tempo decente entre escrever e editar o que escreveu.
6. Evite panelinhas, grupos, gangues. A presença de uma multidão não tornará seu texto melhor do que é.
7. Trabalhe num computador desconectado da internet.
8. Proteja o tempo e o espaço em que escreve. Mantenha todo mundo do lado de fora, mesmo as pessoas que são mais importantes para você.
9. Não confunda honrarias com realização.
10. Diga a verdade através de qualquer véu que esteja à mão – mas diga. Conforme-se com a tristeza de uma vida inteira que advém do fato de nunca estar satisfeito.
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Lista publicada no blog Todoprosa, de Sérgio Rodrigues. O post completo, com as devidas explicações sobre essa lista, aqui.
dica do Tom Fernandes