7 livros de escritoras negras da Flip 2017 que você precisa conhecer
Uma lista de títulos para ler antes e depois da 15ª Festa Literária Internacional de Paraty.
Amauri Terto, no HuffpostBrasil
Faltam poucos dias para 15ª edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).
Entre 26 e 30 de julho, a cidade história do litoral sul do Rio de Janeiro será palco de reflexões e debates sobre as atuais narrativas produzidas no Brasil e no mundo.
Com curadoria da jornalista Josélia Aguiar, o evento literário mais importante do país abre neste ano espaço inédito para a diversidade de vozes da literatura negra.
E não só isso.
Pela primeira vez em sua história, a Flip traz um número de autoras supera o de autores. Serão 22 mesas com 46 autores, dos quais 22 são homens e 24 são mulheres.
O escritor homenageado deste ano será Lima Barreto (1881-1922), autor marginal cuja trajetória foi marcada pela crítica contundente ao cotidiano racista e de segregação social no Brasil.
Na abertura do evento, o público acompanhará uma aula ilustrada sobre a vida e obra do escritor carioca. A antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz (autora de Lima Barreto: Triste Visionário) e o ator Lázaro Ramos conduzem o programa.
Em diálogo com os questionamentos que suscitam da obra de Lima Barreto estão 7 livros de autoras negras convidadas da Flip deste ano: Ana Maria Gonçalves, Djaimilia Pereira de Almeida, Grace Passô, Scholastique Mukasonga, Joana Gorjão Henriques e Conceição Evaristo.
Nascidas no Brasil, Portugal e em países do continente africano – e também radicadas em outros regiões não citados – essas escritoras são donas de narrativas, discursos e perspectivas tradicionalmente excluídos em eventos do gênero dentro e fora do País.
A seguir, o HuffPost Brasil destaca uma obra de cada autora. São livros que revelam uma literatura brasileira plural e que merecem espaço urgente nas mentes, corações e estantes dos brasileiros.
1. Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves
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O romance Um Defeito de Cor conta a impressionante história de Kehinde, trazida da África como escrava para o Brasil no século XIX que após, muitas andanças, consegue comprar a própria alforria e regressar à África em busca do filho perdido. Lançada em 2006, a saga da heroína negra – inspirada na lendária figura baiana de Luísa Mahin – conecta discussões sobre poder, raça, cultura e sociedade. Catatau de mais de 900 páginas, a obra levou quatro anos para ser finalizada – incluindo pesquisa, escrita, reescrita (do zero) e revisão. Não à toa, Um Defeito de Cor alçou Ana Maria Gonçalves ao posto de voz fundamental na reflexões sobre racismo no Brasil.
2. Esse Cabelo, de Djaimilia Pereira de Almeida
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Livro de memórias, ficção e ensaio. E também um manifesto antirracista. Pode-se definir assim o livro Esse Cabelo, da escritora Djaimilia Pereira de Almeida, lançado no Brasil pela editora Leya. Nascida em Luanda, na Angola, e radicada nos arredores de Lisboa, em Portugal, a autora apresenta nesta obra uma bem-humorada biografia do próprio cabelo crespo – interligando questões de raça, feminismo e identidade. Djaimilia é doutorada em Teoria da Literatura pela Universidade de Lisboa e uma das representantes da novíssima literatura em língua portuguesa. É também fundadora e dirigente da revista de literatura Forma de Vida.
3. Por Elise, de Grace Passô
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Uma dona de casa que fala sobre a vida dos seus vizinhos. Um cachorro que late palavras. Uma mulher perdida E um lixeiro em busca de seu pai. Esses são alguns dos personagens da peça Por Elise, escrito e dirigido por Grace Passô juntamente com o grupo Espanca!. Umas das primeiras peças da autora mineira, a obra lhe rendeu o APCA e o SESC/SATED de melhor dramaturga e, em 2005, o Prêmio Shell de melhor texto em 2006. No formato livro, o leitor pode acompanhar um olhar muito particular sobre as relações humanas e as contradições que a conduzem.
4. A Mulher de Pés Descalços, Scholastique Mukasonga
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Escritora premiada, a ruandesa Scholastique Mukasonga é conhecida por abordar em sua obra o genocídio da etnia a que pertence, tutsi, que ocorreu durante a sangrenta guerra civil de Ruanda em 1994. No romance A Mulher de Pés Descalços, o leitor acompanha a trajetória de Stefania, mãe da autora, uma senhora alegre e conselheira da vida amorosa das moças da vizinhança, que viveu em meio a terríveis cenários de extermínio, tornando-se, ao fim, mais uma das cidadãs assassinadas pelos hutus.
5. Racismo em Português, de Joana Gorjão Henriques
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Como a política colonial de Portugal na África marcou as relações raciais no continente? É ao redor desta questão que gira Racismo em Português: O Lado Esquecido do Colonialismo, da jornalista portuguesa Joana Gorjão Henriques. O livro é fruto de um longo trabalho de jornalismo investigativo. Foram dezenas de entrevistas pelos cinco países da África lusófona: Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Moçambique. Como resultado, a autora tenta mostrar até que ponto o racismo afeta as relações nesses países
6. Poemas da Recordação e Outros Movimentos, de Conceição Evaristo
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Primeiro (e até agora único) livro de poesias de Conceição Evaristo, Poemas da Recordação e Outros Movimentos é uma obra que tem a crítica social como fio condutor. Publicado originalmente em 2008, a obra aborda temas como pobreza, dor, amor, desejo e o tempo, numa escrita marcada por ritmo, expressividade e toda a experiência de vida da autora. Nascida numa favela de Belo Horizonte, Conceição Evaristo é hoje uma das principais representantes da literatura negra brasileira. Acadêmica com doutorado em Literatura Comparada pela UFF, voz ativa denúncia de discriminações no Brasil, a escritora tem textos publicados em coletâneas estrangeiras, assim como obras traduzidas em outras línguas.
7. O Tapete Voador, Cristiane Sobral
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Coletânea de contos, O Tapete Voador é o quarto livro da atriz, escritora e poeta Cristiane Sobral. Ele foi publicado no ano passado pela Malê, editora focada em títulos literários em língua portuguesa de autores negros, brasileiros, africanos e da diáspora. Nascida no Rio, Cristiane migrou nos anos 90 para Brasília, onde se tornou a primeira mulher negra graduada em Interpretação Teatral pela UnB. Com carreira estabelecida nos palcos, ela estreou na literatura em 2000. Neste livro, a autora apresenta 19 narrativas que abordam de forma inventiva e contundente diversos aspectos sobra a questão racial no Brasil, incluindo racismo, empoderamento e colorismo – apontando para a construção de uma identidade negra contemporânea.
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