Posts tagged Flip 2017
Flip 2017 ousa e acerta ao apostar em maior diversidade
0
A professora Diva Guimarães, 77 anos durante depoimento na Flip (Iberê Perissé/Flip/Flickr)
Evento literário encerra sua 15ª edição com bom resultado entre o público, apesar de orçamento enxuto e autores pouco conhecidos
Raquel Carneiro, na Veja
Com orçamento menor e sem grandes estrelas entre os convidados, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) foi à margem – e correu o perigo de cair no rio. Por fim, conseguiu se equilibrar. O evento, criticado no ano passado por privilegiar convidados homens brancos e por eleger uma homenageada de baixo alcance, se reposicionou em sua 15ª edição ao ousar em uma curadoria diversa e colocar Lima Barreto no centro dos holofotes.
A renovação foi sentida na qualidade das conversas estabelecidas pelas mesas, muitas tomadas por discursos políticos e de racismo, e no público que circulou pela cidade. Foi visível a maior presença de negros no evento. Tanto que, uma das estrelas inesperadas foi a professora Diva Guimarães, que falou da plateia durante uma mesa com o ator Lázaro Ramos. O vídeo com a aposentada já soma mais de 9 milhões de visualizações no Facebook.
“Que essa mobilização (com maior participação de negros) seja sentida em outras festas literárias pelo Brasil”, diz a curadora Joselia Aguiar. “Não é porque o Lima Barreto é homenageado que temos mais autores negros. Não é automático. Se um dia a Flip quiser homenagear um homem ou mulher branca, a composição diversa das mesas e das ruas continua a ser culturalmente interessante e necessária”.
Joselia voltou a ressaltar que a seleção apelidada de “Flip da diversidade” nada tinha a ver com um sistema de cotas. “A Flip é uma festa literária, e não deixará de ser assim. O fato de ter mais mulheres e negros não deixa de ter a literatura em primeiro plano.”
Protestos
Do primeiro ao último dia, a política foi presença constante em gritos de “Fora, Temer” na plateia e críticas feitas por autores. “Isso sempre aconteceu, é difícil separar literatura e política”, diz Joselia. “Alguns autores falaram disso, autores de literatura não só os autores ativistas. As manifestações eram inevitáveis. Não eram temas das conversas, mas a plateia respondeu assim.”
Estrutura
Este ano, o evento perdeu 1 milhão de reais de seu orçamento, que levou ao fim da Tenda dos Autores. As mesas foram alojadas na Igreja da Matriz, que oferecia 400 lugares a menos que o espaço anterior. Contudo, o painel do auditório da praça, que é gratuito, ganhou um número maior de cadeiras. Deixando assim a quantidade de lugares equivalentes às edições anteriores, em torno de 1.100 lugares no total. Raramente as cadeiras foram vistos vazias. Segundo a organização do evento, a experiência de usar a igreja foi boa e pode sim se repetir em outros anos.
7 livros de escritoras negras da Flip 2017 que você precisa conhecer
0Uma lista de títulos para ler antes e depois da 15ª Festa Literária Internacional de Paraty.
Amauri Terto, no HuffpostBrasil
Faltam poucos dias para 15ª edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).
Entre 26 e 30 de julho, a cidade história do litoral sul do Rio de Janeiro será palco de reflexões e debates sobre as atuais narrativas produzidas no Brasil e no mundo.
Com curadoria da jornalista Josélia Aguiar, o evento literário mais importante do país abre neste ano espaço inédito para a diversidade de vozes da literatura negra.
E não só isso.
Pela primeira vez em sua história, a Flip traz um número de autoras supera o de autores. Serão 22 mesas com 46 autores, dos quais 22 são homens e 24 são mulheres.
O escritor homenageado deste ano será Lima Barreto (1881-1922), autor marginal cuja trajetória foi marcada pela crítica contundente ao cotidiano racista e de segregação social no Brasil.
Na abertura do evento, o público acompanhará uma aula ilustrada sobre a vida e obra do escritor carioca. A antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz (autora de Lima Barreto: Triste Visionário) e o ator Lázaro Ramos conduzem o programa.
Em diálogo com os questionamentos que suscitam da obra de Lima Barreto estão 7 livros de autoras negras convidadas da Flip deste ano: Ana Maria Gonçalves, Djaimilia Pereira de Almeida, Grace Passô, Scholastique Mukasonga, Joana Gorjão Henriques e Conceição Evaristo.
Nascidas no Brasil, Portugal e em países do continente africano – e também radicadas em outros regiões não citados – essas escritoras são donas de narrativas, discursos e perspectivas tradicionalmente excluídos em eventos do gênero dentro e fora do País.
A seguir, o HuffPost Brasil destaca uma obra de cada autora. São livros que revelam uma literatura brasileira plural e que merecem espaço urgente nas mentes, corações e estantes dos brasileiros.
1. Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves
Divulgação
O romance Um Defeito de Cor conta a impressionante história de Kehinde, trazida da África como escrava para o Brasil no século XIX que após, muitas andanças, consegue comprar a própria alforria e regressar à África em busca do filho perdido. Lançada em 2006, a saga da heroína negra – inspirada na lendária figura baiana de Luísa Mahin – conecta discussões sobre poder, raça, cultura e sociedade. Catatau de mais de 900 páginas, a obra levou quatro anos para ser finalizada – incluindo pesquisa, escrita, reescrita (do zero) e revisão. Não à toa, Um Defeito de Cor alçou Ana Maria Gonçalves ao posto de voz fundamental na reflexões sobre racismo no Brasil.
2. Esse Cabelo, de Djaimilia Pereira de Almeida
Divulgação
Livro de memórias, ficção e ensaio. E também um manifesto antirracista. Pode-se definir assim o livro Esse Cabelo, da escritora Djaimilia Pereira de Almeida, lançado no Brasil pela editora Leya. Nascida em Luanda, na Angola, e radicada nos arredores de Lisboa, em Portugal, a autora apresenta nesta obra uma bem-humorada biografia do próprio cabelo crespo – interligando questões de raça, feminismo e identidade. Djaimilia é doutorada em Teoria da Literatura pela Universidade de Lisboa e uma das representantes da novíssima literatura em língua portuguesa. É também fundadora e dirigente da revista de literatura Forma de Vida.
3. Por Elise, de Grace Passô
Divulgação
Uma dona de casa que fala sobre a vida dos seus vizinhos. Um cachorro que late palavras. Uma mulher perdida E um lixeiro em busca de seu pai. Esses são alguns dos personagens da peça Por Elise, escrito e dirigido por Grace Passô juntamente com o grupo Espanca!. Umas das primeiras peças da autora mineira, a obra lhe rendeu o APCA e o SESC/SATED de melhor dramaturga e, em 2005, o Prêmio Shell de melhor texto em 2006. No formato livro, o leitor pode acompanhar um olhar muito particular sobre as relações humanas e as contradições que a conduzem.
4. A Mulher de Pés Descalços, Scholastique Mukasonga
Divulgação
Escritora premiada, a ruandesa Scholastique Mukasonga é conhecida por abordar em sua obra o genocídio da etnia a que pertence, tutsi, que ocorreu durante a sangrenta guerra civil de Ruanda em 1994. No romance A Mulher de Pés Descalços, o leitor acompanha a trajetória de Stefania, mãe da autora, uma senhora alegre e conselheira da vida amorosa das moças da vizinhança, que viveu em meio a terríveis cenários de extermínio, tornando-se, ao fim, mais uma das cidadãs assassinadas pelos hutus.
5. Racismo em Português, de Joana Gorjão Henriques
Divulgação
Como a política colonial de Portugal na África marcou as relações raciais no continente? É ao redor desta questão que gira Racismo em Português: O Lado Esquecido do Colonialismo, da jornalista portuguesa Joana Gorjão Henriques. O livro é fruto de um longo trabalho de jornalismo investigativo. Foram dezenas de entrevistas pelos cinco países da África lusófona: Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Moçambique. Como resultado, a autora tenta mostrar até que ponto o racismo afeta as relações nesses países
6. Poemas da Recordação e Outros Movimentos, de Conceição Evaristo
Divulgação
Primeiro (e até agora único) livro de poesias de Conceição Evaristo, Poemas da Recordação e Outros Movimentos é uma obra que tem a crítica social como fio condutor. Publicado originalmente em 2008, a obra aborda temas como pobreza, dor, amor, desejo e o tempo, numa escrita marcada por ritmo, expressividade e toda a experiência de vida da autora. Nascida numa favela de Belo Horizonte, Conceição Evaristo é hoje uma das principais representantes da literatura negra brasileira. Acadêmica com doutorado em Literatura Comparada pela UFF, voz ativa denúncia de discriminações no Brasil, a escritora tem textos publicados em coletâneas estrangeiras, assim como obras traduzidas em outras línguas.
7. O Tapete Voador, Cristiane Sobral
Divulgação
Coletânea de contos, O Tapete Voador é o quarto livro da atriz, escritora e poeta Cristiane Sobral. Ele foi publicado no ano passado pela Malê, editora focada em títulos literários em língua portuguesa de autores negros, brasileiros, africanos e da diáspora. Nascida no Rio, Cristiane migrou nos anos 90 para Brasília, onde se tornou a primeira mulher negra graduada em Interpretação Teatral pela UnB. Com carreira estabelecida nos palcos, ela estreou na literatura em 2000. Neste livro, a autora apresenta 19 narrativas que abordam de forma inventiva e contundente diversos aspectos sobra a questão racial no Brasil, incluindo racismo, empoderamento e colorismo – apontando para a construção de uma identidade negra contemporânea.
Flip 2017: escritora sul-africana Deborah Levy é mais uma confirmada
0
A escritora sul-africana Deborah Levy, uma das convidadas da Flip 2017 – Sheila Burnett / Divulgação
Em ‘Coisas que não quero saber’, autora responde a Orwell e dialoga com Virginia Woolf
Publicado em O Globo
RIO – Deborah Levy, escritora sul-africana radicada na Inglaterra, será mais uma das convidadas da 15ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece entre os dias 26 e 30 de julho. O anúncio foi feito pela organização do evento na manhã desta quinta-feira.
Autora de romances, peças e poemas, Deborah já foi finalista do Man Booker Prize duas vezes e é apontada por Liz Calder, editora e uma das fundadoras da Flip, como “uma das vozes mais originais, astutas e surpreendentes que temos hoje”.
Na Flip, a autora lançará “Coisas que não quero saber” (Autêntica), ensaio memorialístico que responde aos ensaios “Por que escrevo”, de George Orwell, e mantém um diálogo com “Um teto todo seu”, de Virginia Woolf. Na obra, Deborah reflete sobre as razões que a levaram a escrever e fala de lugares que viveu, como a África do Sul em pleno apartheid e o subúrbio londrino de Finchley.
No Brasil, ela já publicou o romance “Nadando de volta para casa” pela editora Rocco, em 2014, com o qual foi finalista do Man Booker Prize pela primeira vez. A casa vai lançar, agora, “Hot milk”, obra com a qual foi finalista do mesmo prêmio pela segunda vez. Nos livros, Deborah explora questões sobre identidade, exílio e deslocamento.
Frederico Lourenço, escritor português e tradutor da Bíblia, virá para a Flip 2017
0Autor também traduziu do grego para o português clássicos como ‘Odisseia’ e ‘Ilíada’. Festa Literária Internacional de Paraty acontece de 26 a 30 de julho.
Publicado no G1
O escritor português Frederico Lourenço, autor de romances e de traduções de clássicos como “Odisseia” e “Ilíada”, de Homero, além da “Bíblia”, vai estar na 15ª Festa Liberária Internacional de Paraty (Flip), anunciou a organização nesta terça-feira (2).
No evento, que acontece de 26 a 30 de julho, Lourenço vai lançar o primeiro dos seis volumes de sua tradução da “Bíblia” direto do grego antigo. No Brasil, a obra sai pela Companhia das Letras.

O escritor e tradutor português Frederico Lourenço, autor de romances e de traduções da “Odisseia”, da “Ilíada” e da “Bíblia”, que vem para a Flip 2017 (Foto: André Nassife/Divulgação)
Também ensaísta, o escritor “irá debater as possibilidades da tradução entre línguas separadas por séculos, a os dilemas da condição humana que atravessam a cultura ocidental desde a Grécia Clássica até os dias de hoje, além de outros temas que permeiam todo o universo literário”, informa a organização da Flip em nota.
Lourenço é o terceiro nome anunciado para a Flip 2017. Os outros dois são o premiado jamaicano Marlon James, ganhador o Man Booker Prize en 2015, e Diamela Eltit, conhecida pelo seu trabalho experimental e considerada uma das principais escritoras chilenas das últimas décadas.
“Frederico Lourenço é um destacadíssimo ensaísta e intelectual no campo dos estudos clássicos, tradutor da ‘Ilíada’, da ‘Odisseia’ e agora da ‘Bíblia’ em sua versão grega, um projeto de peso imenso”, afirmou em nota a curadora da Flip 2017, Joselia Aguiar.
“Foram poucos, e até agora todos padres, os que se dedicaram a essa tarefa, a de trazer para a língua portuguesa esse conjunto de livros que influencia toda a história do Ocidente, recuperando seu valor literário. Nesta Flip, será um daqueles momentos imperdíveis em que vamos fazer uma espécie de balanço da tradição ocidental a partir da literatura.”
Perfil de Frederico Lourenço
Nascido em Lisboa em 1963, Frederico Lourenço dá aula de Estudos Clássicos, Grego e Literatura Grega na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde é professor associado.
Além dos clássicos de Homero, traduziu duas tragédias de Eurípides, “Hipólito” e “Íon”. Pelo trabalho com a “Odisseia”, ganhou o prêmio de tradução do PEN Clube Português e da Associação Portuguesa de Tradutores.
Seu primeiro romance é “Pode um desejo imenso” (2002), volume inicial da trilogia de mesmo nome, que inclui “O curso das estrelas” (2002) e “À beira do muro” (2003). Lançou também a coletânea de contos “A formosa pintura do mundo” (2004).
Lançou ainda coletâneas de crônicas e poemas, além de ensaios sobre dança e cultura grega clássica. De seu trabalho de não ficção, destacam-se ainda dois livros autobiográficos: “Amar não acaba” (2004) e “A máquina do Arcanjo” (2006).
Mais sobre a Flip 2017
A 15ª Flip vai homenagear o escritor Lima Barreto. Nascido no Rio de Janeiro em 1881 e morto apenas 41 anos depois, o autor é conhecido pelo livro “Triste Fim de Policarpo Quaresma” e pelas críticas sociais e políticas ao Rio e ao Brasil.
A obra de Lima Barreto já vinha sendo cogitada como tema de discussões na Flip há alguns anos. E o evento, sobretudo em 2016, foi criticado pela ausência de autores e autoras negras em sua programação.
De acordo com a organização da Flip, “a edição resgatará a trajetória de um homem que estabeleceu-se como escritor no Rio de Janeiro, capital da Primeira República e da cultura literária do país. Em um meio marcado pela divisão de classes e pela influência das belas letras europeias, era difícil para um autor brasileiro com as suas origens afirmar seu valor”.
Joselia Aguiar, jornalista que é a curadora da Flip 2017, lembrou em nota que Lima Barreto por muito tempo “ficou na ‘aba’ de literatura social, e sua obra e trajetória possibilitaram muitos debates sobre a sociedade brasileira”.
“O que eu gostaria, mesmo, é que a Flip contribuísse para revelar o grande autor que ele é. Para além das questões importantíssimas sobre o país que ajuda a levantar, tem uma expressão literária inventiva e interessante, à frente de sua época em termos formais, capaz de inspirar toda uma linhagem da literatura em língua portuguesa.”
Lázaro Ramos e Lilia Schwarcz abrirão a Flip 2017
0
Lázaro Ramos: leitura de trechos da obra de Lima Barreto – Bia Lefevre / Divulgação
Ator lançará livro sobre sua trajetória de ator e historiadora apresenta sua biografia de Lima Barreto
Publicado em O Globo
RIO – As atrações da abertura da 15ª Festa Literária de Paraty, que acontece entre os dias 26 e 30 de julho, foram anunciadas hoje pela organização do evento. Lima Barreto, o autor homenageado da festa, estará presente na voz do ator Lázaro Ramos, que lerá trechos de suas obras, durante uma apresentação ilustrada pela historiadora Lilia Schwarcz. A direção de cena ficará a cargo de Felipe Hirsch, responsável por espetáculos como “Puzzle” e “A tragédia latino-americana”.
Conhecido por interpretar personagens marcados por suas condições sociais e raciais, como Zumbi do Palmares e Madame Satã, Lázaro Ramos também lançará no festa o seu livro “Na minha pele”, no qual aborda a sua trajetória como ator negro.
Lilia Schwarcz levará a Paraty seu novo olhar sobre o autor homenageado, resultado de pesquisa de mais de uma década que gerou a biografia “Lima Barreto, triste visionário”, que será lançada em junho.