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Escritora com câncer terminal faz perfil de namoro para o marido: “espero que outra história de amor comece”

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 Escritora diz que criou perfil do marido com base em experiência de "9.490 dias" Foto: Twitter/@missamykr / BBCBrasil.com

Escritora diz que criou perfil do marido com base em experiência de “9.490 dias”
Foto: Twitter/@missamykr / BBCBrasil.com

 

Publicado no Terra via BBC Brasil

Uma escritora que está morrendo de câncer de ovário escreveu um perfil de namoro para seu marido, para que ele possa encontrar “outra história de amor”.

Amy Krouse Rosenthal lista as melhores qualidades do companheiro e diz esperar que “a pessoa certa leia isso [e] encontre Jason”.

“Eu nunca estive no Tinder, Bumble ou eHarmony”, ela escreveu no jornal New York Times .

“Mas vou criar um perfil geral para o Jason aqui, com base na minha experiência de coexistir na mesma casa com ele por, tipo, 9.490 dias.”

Amy é conhecida por escrever livros para crianças, bem como memórias sobre sua própria família e vida.

Ela e Jason estão juntos há quase três décadas e já têm filhos adultos.

Amy descreve o marido como alguém que adora viajar, veste-se bem e é ótimo cozinheiro. Também não poupa elogios a sua beleza física: “Eu já disse que ele é incrivelmente lindo? Eu sentirei falta de olhar para o rosto dele.”

“Se você está procurando um companheiro de viagem dos sonhos, do tipo vamos lá, Jason é seu homem. Ele também tem afinidade por pequenas coisas: colheres de degustação, pequenos frascos, uma mini-escultura de um casal sentado em um banco, que ele me apresentou como um lembrete de como nossa família começou”, ela escreve.

“Aqui está o tipo de homem que Jason é: ele apareceu no nosso primeiro ultrassom de gravidez com flores. Este é um homem que, porque ele está sempre acordado cedo, me surpreende todos os domingos de manhã, fazendo algum tipo de carinha sorridente esquisita com itens perto da cafeteira: uma colher, uma caneca, uma banana.”
Tatuagem

Em seu mais recente livro de memórias, escrito antes do diagnóstico da doença, Amy disse que queria um leitor sugerisse um desenho para que ela e ele (o leitor) pudessem fazer tatuagens combinadas.

“Em setembro, Paulette foi me encontrar em um estúdio de tatuagem de Chicago”, ela escreve em seu ensaio no Times .

“Ela fez a dela (a primeira) no pulso esquerdo. Eu fiz a minha na parte de baixo do meu antebraço esquerdo, na letra da minha filha.”

“Esta foi minha segunda tatuagem. A primeira é pequena, um ‘j’ minúsculo, que tenho no meu tornozelo por 25 anos. Você provavelmente pode adivinhar o que representa.”

“Jason tem uma também, mas com mais letras: ‘AKR.'”

 Amy fez tatuagem com leitora no ano passado; esta é a segunda dela, a primeira traz a inicial do marido: J Foto: Reprodução Twitter / BBCBrasil.com

Amy fez tatuagem com leitora no ano passado; esta é a segunda dela, a primeira traz a inicial do marido: J
Foto: Reprodução Twitter / BBCBrasil.com

Mais para o final de seu ensaio, chamado You May Want to Marry My Husband (Você talvez queira casar com meu marido, em tradução livre), Amy escreve:

“Estou finalizando isso no Dia dos Namorados, e o presente mais genuíno que eu posso esperar é que a pessoa certa leia isso, encontre Jason, e outra história de amor comece.”

“Vou deixar este espaço abaixo intencionalmente vazio como uma forma de dar a vocês dois o novo começo que vocês merecem.”

Em seguida, segue-se um espaço em branco.

Ela termina: “Com todo meu amor, Amy.”

Ex-gari escreve histórias para contar aos filhos e tem livro publicado no RS

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Wagner Fagundes ganhou apoio da comunidade para publicar contos.
Familiares do ex-gari, hoje eletricista, se emocionam ao falar do pai.

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Publicado no G1

Morador de uma pequena casa na Ilha dos Marinheiros, em Porto Alegre, o eletricista Wagner Fagundes virou exemplo de superação na comunidade. Mesmo sem ter o ensino fundamental completo, ele escreveu histórias em um caderno, para contá-las aos filhos pequenos, e teve um livro publicado, como mostra a reportagem do Jornal do Almoço (veja o vídeo).

O filho mais velho, Dhiordan, de 14 anos, se emociona ao falar do pai. O esforço para proporcionar uma boa infância às crianças, ainda que sem condições financeiras, valeu a pena.

“Meu pai é uma pessoa legal, orgulhosa, feliz com seus filhos. Ele é muitas coisas”, resume o jovem, sem esconder o choro.

Quando Dhiordan nasceu, Wagner trabalhava como gari. Alguns livros que encontrava no lixo, ele levava para casa. Porém, a maioria das histórias que contava ele escrevia à mão em um caderno. Wagner colocava no papel a vida que imaginava para sua família. Em noites de choro, segundo ele, as histórias acalmavam os pequenos. As crianças foram crescendo e ouvindo uma coleção de contos.

“O motivo [do orgulho] é pela educação que dei pra eles. Sempre li e escrevi. Sou um pai presente e brincalhão. Sempre brinco com eles”, conta Wagner. “Condições a gente pode não ter, mas meios para correr atrás existem. É só querer. Educação é coisa que não se compra, vem de princípios, de berço. Meu pai e minha mãe também me passaram”.

As histórias do Wagner correram a vizinhança e ganharam notoriedade. O livro com suas histórias acabou publicado.

“Pessoas que eu nem conhecia ajudaram a tornar realidade o sonho de uma pessoa da comunidade carente. Isso faz a gente acreditar num país tão sofrido como o nosso, que existe gente boa pensando na educação. Isso inspira para quem sabe surgir uma editora para lançar mais livros”, afirma ele.

Além dos filhos, Wagner ganhou novos leitores. Ele é convidado, como autor, para ir a escolas falar da sua primeira obra infantil. “Ele para mim é uma pessoa incrível”, elogia a mãe, Sandra Fagundes.

Augusto Cury, best seller do país, é tratado como líder religioso por fãs

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Rodrigo Casarin, no UOL

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Augusto Cury é psiquiatra, psicoterapeuta e autor de best-sellers como “Nunca desista de seus sonhos” e “Seja líder de si mesmo”

“Os íntimos são aqueles que mais podem nos decepcionar”.

“Huuuum… Meu Deus!”, arregala os olhos uma jovem de tênis rosa, blusa rosa e celular rosa em mãos. Parece ter acabado de ouvir a maior revelação da sua vida.

O autor da frase que tanto causa impacto é o Dr. Augusto Cury, médico, psiquiatra e o escritor mais vendido do país, que palestra para um público de centenas de pessoas – a maioria mulheres com mais de quarenta – numa noite de quarta-feira, véspera de feriado, em um restaurante de São Bernardo do Campo.

Do lado de fora, cartazes diversos anunciavam o evento – algo bastante incomum quando se trata de escritores. É raro alguém conseguir contratar uma palestra de Cury, que recebe mais de 100 convites por mês, mas atende no máximo cinco e desde que o interessado concorde em, se preciso, aguardar alguns anos. Os compromissos são muitos e a motivação para que os cumpra é justamente semear suas ideias. “Quero contribuir com a humanidade, com todos os povos e culturas, para que o ser humano se torne minimamente autor da sua história”, diz em uma rara entrevista, concedida com exclusividade ao UOL, por telefone, enquanto estava hospedado em um hotel em Teresina, capital do Piauí.

Mas as palestras são secundárias na carreira de Cury. Seu principal filão, claro, são os livros. Apesar de não confiar muito nos números passados pelas editoras, já vendeu entre 24 e 25 milhões de exemplares no Brasil, é publicado em mais de 70 países e está em todos os continentes. Espécie de fábrica de best sellers, aparece em praticamente todas as listas de mais vendidos do país.

Desde outubro de 2013 está semanalmente nas apurações do Publishnews, importante veículo do mercado editorial, onde, entre 3 e 11 de novembro, emplacava “Felicidade Roubada” na relação de ficção e “Ansiedade: Como Enfrentar o Mal do Século”, “As Regras de Ouro dos Casais Saudáveis” e “Pais Inteligentes Formam Sucessores, Não Herdeiros” dentre os de autoajuda. Em setembro, também no Publishnews, chegou a ter 10 livros dentre os mais vendidos. No ranking da revista “Veja”, “Ansiedade” lidera a lista de autoajuda, na qual está há 46 semanas consecutivas.

No momento, o autor está lançando “Petrus Logus: O Guardião do Tempo”, sua estreia na literatura juvenil. É o 38º livro em 15 anos – Cury começou a ser publicado em 1999.

Herói sem poderes

“Petrus vem de pedra, Logus vem de conhecimento. O conhecimento é o alicerce para as grandes transformações da humanidade”, explica Cury. A narrativa se passa no futuro, cem anos após a Terceira Guerra Mundial, motivada pela escassez de comida e água, em um planeta com cenário caótico: os recursos naturais foram dizimados, bem como 90% da população. Para remediar o estrago, proíbem tudo o que, segundo o autor, induz ao consumo irresponsável – não há mais computadores, celulares ou carros… não há mais indústria.

As coisas melhoram, mas, no reino de Cosmo, dominado pelo Rei Apolo, o ditador que tudo controla, a degradação humana se mantém. Quem vai contra os preconceitos, jogos de poderes e a escravidão é Petrus, justamente o filho do mandatário. “Ele é considerado louco por contribuir com a humanidade. Acreditava que ninguém pode ser verdadeiramente feliz sem a felicidade dos outros. Só tenho saúde emocional, tranquilidade e qualidade de vida quando invisto no bem-estar das pessoas ao meu redor, isso é o que há de mais importante na psicologia”, relata Cury.

As pretensões do autor ao escrever a obra foram grandes, “contagiar a juventude mundial para que deixe de ser escrava do consumo e seja livre no território da emoção, para que desenvolva a capacidade de se colocar no lugar do outro, usar as habilidades intelectuais para salvar o planeta”, enumera.

“O Harry Potter é sim importante, mas precisamos dar ferramentas para que os jovens se tornem autores da própria história”, enfatiza, lembrando que o bruxinho usava a magia para resolver seus problemas, enquanto seu herói juvenil pode recorrer apenas à sabedoria e à inteligência.

Enquanto fala sobre a obra na palestra, e quando diz que as pessoas precisam parar de “sofrer por antecipação”, de fazer “velórios antes da hora”, os presentes o olham compenetradamente. Poucas palavras são necessárias para que se portem como fiéis, que concordam com cada frase sua.

Hollywood

Os direitos de “Petrus Logus” já estão sendo negociados com estúdios de Hollywood para que a história seja transformada em filme. Outros sucessos do autor, como “Vendedor de Sonhos”, “Futuro da Humanidade” e “Felicidade Roubada” seguem o mesmo caminho. Algo surpreendente para quem garante não escrever para entreter e vê o sucesso como um acidente de percurso em sua história.

Cury era um psiquiatra que vivia com seu consultório lotado, atendendo até clientes de fora do país. Era requisitado principalmente por conta das teorias e técnicas que diz ter desenvolvido, sobre inteligência multifocal, o funcionamento da mente, o processo de construção do pensamento e formação de pensadores.

Foi para levar esse conhecimento a um número maior de pessoas que decidiu escrever livros. Entre o meio e o final da década de 1990, levou três anos procurando por alguma editora que aceitasse publicá-lo. Encontrou a Cultrix, que topou colocar “Inteligência Multifocal” no mercado. O livro trazia o conteúdo das áreas da psicologia exploradas pelo autor, contudo, poucas pessoas o compreenderam. “Aí que percebi que deveria democratizar o acesso, simplificando a linguagem para que as pessoas entendam o complexo mundo da mente humana”, lembra.

O Harry Potter é sim importante, mas precisamos dar ferramentas para que os jovens se tornem autores da própria história. Augusto Cury, que acaba de lançar livro sobre sociedade pós Terceira Guerra Mudial

O Harry Potter é sim importante, mas precisamos dar ferramentas para que os jovens se tornem autores da própria história. Augusto Cury, que acaba de lançar livro sobre sociedade pós Terceira Guerra Mudial

Ao simplificar o discurso, passou a ser encarado por muitos como um autor de autoajuda, termo que refuta fortemente, argumentando que suas obras são usadas até em cursos de mestrado e doutorado de diversos países do mundo. Mas, ao simplificar o discurso, também encontrou o caminho para formar o seu enorme público – hoje, só no Facebook, é seguido por mais de 670 mil pessoas e afirma ter 40 milhões de leitores no país.

Casado e pai de três filhas, o autor vive no interior de São Paulo e é um leitor voraz de jornais – aprecia principalmente artigos de economia, política e sociologia. Também gosta de livros históricos e lembra que escreveu “O Colecionador de Lágrimas”, sobre a maneira que Adolf Hitler “devorou o inconsciente coletivo da Alemanha” na Segunda Guerra Mundial.

Garante que a fama pouco importa. “O culto à celebridade é o sintoma de uma sociedade doente. Todos vão para o túmulo. Para quem estuda o processo de formação do pensamento e pensadores, não dá tempo para ter orgulho ou achar que somos gigantes, deuses. Sou deslumbrado com a vida, com os mistérios da existência. O sucesso é efêmero”. Foi por isso que refutou, em 2009, um desafio proposto por Paulo Coelho, que duvidou dos números de vendas de Cury. Na ocasião, o mago sugeriu que ambos apresentassem notas fiscais que comprovassem a quantidade de livros comercializados.

Abracem-se

Ao chegar para a palestra, cada pessoa recebeu um copinho de água mineral e um formulário do Instituto Augusto Cury com perguntas como “Sente-se entediado frequentemente?” e “Tem pouca paciência com pessoas que considera lentas?” que indicariam sua qualidade de vida. Abaixo, um campo para ser preenchido, destacado e depositado em uma urna. Garantem que alguém do Instituto entrará em contato com todos os interessados em melhorar como humano. Cury ainda promete que o Instituto lançará em breve uma grande novidade, que será um presente para todos os ouvintes.

“Quando seus sonhos são verdadeiros projetos, o mundo pode desabar sobre você. Mas se forem desejos, os desejos não resistem à segunda-feira”, continua após mais de uma hora. Pede para que todos relaxem os braços, as pernas, abracem a si mesmo e repitam: “De hoje em diante eu procurarei ter um romance com minha saúde emocional”. E todos realmente se auto abraçam e repetem.

Quando indica que a palestra está chegando ao fim, dezenas de pessoas se levantam e correm para o lado do palco. Formam uma enorme fila para que consigam um autógrafo do escritor, que promete só deixar o lugar após atender todos os fãs. Em suas últimas palavras, mais um coro: “ser simpático, carismático e empático” – a essa altura já há quem o recite de olhos fechados, como em uma oração. Ao cabo, pede para que cada um abrace quem está ao seu lado. E se abraçam.

Escritores brasileiros dão dicas para novos talentos

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Ler e praticar constantemente a escrita são as estratégias utilizadas pelos autores

Publicado no Diário de Pernambuco

O ditado já é conhecido e ninguém contesta: “Quem lê bem escreve bem”. Mas três integrantes da nova geração de escritores brasileiros foram além do básico e deram algumas dicas para aquela pessoa que pode sentir uma inquietude, uma vontade de escrever, e não sabe qual é o caminho.

“Não tem outro caminho a não ser escrever muito, copiar muito. Eu tenho muita coisa escrita, muitas coisas copiadas de outros autores. Mas chega uma hora que você tem uma ideia sua que tem que sair. Ela fica maturando, maturando até que você coloca no papel”, disse Leonardo Alckmin. Ele participou da terceira mesa de novos ficcionistas brasileiros, na manhã deste domingo (20), na 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília.

Autor do romance Paralelos, Leonardo explicou que, antes de ter seu livro publicado, leu muitos outros autores e se inspirou neles até encontrar seu próprio estilo, sua própria voz. A opinião dele é compartilhada pela escritora Paula Fábrio. “A voz vai acontecer, mesmo contra tudo e contra todas as expectativas. Mas você tem que praticar, aí a voz aparece e você percebe”.

Alckmin ressaltou que, em tempos de internet, quando qualquer coisa que se escreve é mais facilmente vista, as pessoas tendem a se preocupar com o que escrevem. Para ele, os tempos atuais dão uma maior vitrine e oportunidades a novos escritores. A jornalista e escritora Vanessa Bárbara explica que cresceu escrevendo na internet, vitrine que já lhe rendeu oportunidades de trabalho. “A internet multiplica ainda mais as possibilidades. Você tem que ter perseverança e sorte, acho que a internet ajuda”.

Paula reforçou a importância de praticar a escrita, treinar até chegar ao estilo próprio, que agrada a pessoa. Ela lembrou ainda que existem editoras menores que investem em jovens escritores, sem custo de publicação para o autor. Esse é um dos caminhos para ter um primeiro livro publicado, existir de fato no universo literário. Vanessa lamentou, porém, a dificuldade de alguém viver apenas de escrever livros no Brasil. Privilégio, segundo ela, exclusivo de grandes nomes, best-sellers da literatura nacional.

Antes de tudo, porém, o escritor não depende de ninguém. E isso foi o que tirou o foco de Alckmin do teatro e o voltou para a produção de suas próprias histórias. “Para escrever, você só depende de um papel e uma caneta. E foi isso que me encantou, essa independência. Como autor, eu posso embarcar no meu próprio sonho”, disse.

Livro de autor japonês retrata a violência entre menores de idade

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‘Battle Royale’, de Koushun Takami, provocou polêmica no Japão e foi levado ao cinema

Ubiratan Brasil, no Estadão

Divulgação O escritor Koushun Takami, autor de 'Battle Royale'

Divulgação
O escritor Koushun Takami, autor de ‘Battle Royale’

Quando foi publicado no Japão, em 1999, o livro Battle Royale, do jovem Koushun Takami, tornou-se um dos mais vendidos e um dos mais controversos romances lançados no país. O motivo era sua trama assustadora: no final do século passado, um governo autoritário e repressivo enfrenta uma recessão econômica e, por isso, tentar limitar o poder de expressão da população. Para isso, é criada uma lei que obriga o sorteio de uma classe de estudantes para participar de um jogo em que a principal regra é matar uns aos outros, até restar apenas um.

Assim, sob o pretexto de viajar em excursão, 42 alunos são enviados para uma ilha deserta onde recebem diversos tipos de arma. Sem alternativa, eles iniciam a matança. Passados 15 anos, Battle Royale continua intrigante, como prova a versão em português lançada agora pela editora Globo e traduzida diretamente do japonês.

A obra, que inspirou um filme igualmente violento, dirigido em 2000 por Kinji Fukasaku e estrelado por Takeshi Kitano, e uma adaptação para o mangá em 15 tomos (publicada no Brasil de forma incompleta pela Conrad, em 2006), despertou inúmeras discussões, especialmente sobre o comportamento humano em situações-limite. Afinal, na história, muitos dos jovens, pressionados pelo terror psicológico, ignoram princípios civilizatórios e partem para a mais básica forma de preservação da vida: a violência.

Outros, no entanto, ainda continuam a manter a racionalidade, controlando os impulsos mais primordiais e buscando alternativas intelectuais para superar a situação desesperadora. Por conta disso, o leitor se vê em meio a um jogo de imprevisível desfecho e sem herói definido, pois todos os personagens, mesmo os mais violentos, apresentam características de fácil identificação.

Elogiado pelo cineasta Quentin Tarantino, que considerou a versão cinematográfica o melhor filme que tinha visto nas últimas décadas, o livro glorificou o escritor Koushun Takami, que não esconde sua admiração por mestres do suspense como Stephen King e Robert Parker, como conta na seguinte entrevista exclusiva ao Estado, realizada por e-mail e em japonês, com a tradução de Jefferson José Teixeira, também responsável pela versão em português do livro.

De que forma as obras de Stephen King e Robert Parker influenciaram seu trabalho?

Se há algo que aprendi com as obras de King, provavelmente seria escrever minuciosamente. Talvez seja uma forma cinematográfica de escrita. Se alguém puxa o gatilho de uma pistola e uma bala é disparada, é importante para o desenrolar da narrativa saber se o projétil atingirá ou não uma outra pessoa. Porém, caso isso não ocorra, escreve-se sobre como uma parede atingida por essa bala que errou o alvo voou para todo lado ou algo semelhante. Logicamente, King é dotado de uma capacidade muito maior de construir um universo ficcional em diversos planos e acredito que escrever em minúcias é a única coisa que pude copiar relativamente bem do estilo dele.

E Parker?

A Spenser Series, de Robert Parker, é particularmente interessante porque os diálogos entre Spenser e a namorada Susan giram com frequência em torno de questões sociais, progredindo até chegar a discussões calorosas envolvendo a condição humana. Aqui, também temos elementos desnecessários à narrativa, mas que me fizeram atentar para o fato de que, em obras de entretenimento, é permitido fazer algo parecido.

Seu estilo de escrita, especialmente nos monólogos interiores, é muito particular. Como é o processo de trabalho da criação dessa escrita?

Para ser sincero, não acho que a forma como escrevo meus monólogos seja tão especial. Em obras de vários escritores que li (caso de japoneses como Hideyuki Kikuchi, Saeko Himuro), essa é uma forma de escrever relativamente comum. Não estaria eu apenas sendo influenciado por eles? Porém, eu próprio sinto que escrevo muito na terceira pessoa com um jeito de primeira pessoa. Até hoje, não consigo escrever bem se não for em uma terceira pessoa desse tipo.

A violência, embora sangrenta, está presente em alguns dos momentos mais belos do livro. Qual é a função da violência em seu trabalho?

Talvez não seja uma resposta completa a esta pergunta, mas sinto que violência e destruição são coisas “fáceis”. Leva-se tempo para construir algo, mas destruir é fácil. Bem ou mal vivemos em um mundo onde se amplia esse tipo de “facilidade”.

O senhor acredita que a estabilidade emocional é necessária para escrever? Ou o senhor consegue começar a trabalhar independente de seu estado de espírito? Aliás, seu estado de espírito reflete em sua escrita?

De uma forma geral, é óbvio que se necessita até certo ponto de estabilidade emocional, sem a qual se torna impossível criar algo bom (é impressionante como Dostoievski e outros autores tenham podido escrever enquanto eram perseguidos pelos cobradores de dívidas). No meu caso, independentemente do estado emocional, sou capaz de produzir, por exemplo, um artigo de jornal, mas, para escrever um livro, necessito de determinada concentração mental. Aí me perguntam se isso significa que o fato de eu não escrever há muito tempo um livro decente seria devido à minha condição emocional? A resposta a essa pergunta é: sem Comentários. Porém, não pretendo de forma alguma deixar de escrever livros. Mas, acontece que, quando se está sentimental, seu texto se torna sentimental e procuro corrigir isso a todo custo. E tem um outro lado – falando sinceramente, há casos em que o autor se deixa levar por um tipo de revolta e, de uma tacada, escreve um volume de texto considerável. Ou seja, é justamente o oposto da estabilidade emocional. Comigo, isso acontece. Lembro-me que partes de Battle Royale foram escritas dessa forma. Há um livrinho de Stephane Hessel, intitulado Indignez-Vous!, ou seja, eu também sou de certa forma um ser político. Porém, o fato de não escrever um livro há tempos significa que perdi essa capacidade de me revoltar contra algo? A isso também eu respondo com um “sem comentários”. Mas não tenho nenhuma intenção de deixar de escrever.

O senhor percorre uma linha tênue entre comédia e tragédia. Como é possível manter esse equilíbrio?

Em primeiro lugar, um dos fundamentos de Battle Royale é o medo. Conforme alguém disse certa vez, “é tênue a diferença entre o medo e o riso”. Procurei empregar isso de forma positiva na obra. Outro motivo é que eu próprio sou uma pessoa cômica. Posso dizer que me empenho ao máximo em provocar risos nas pessoas. Por isso, não tem jeito: seja lá o que eu escreva, acaba surgindo um elemento humorístico. Além disso, o simples fato de estarmos vivendo, não é a grosso modo uma linha divisória entre o dramático e o cômico?

Quão importante é a perspectiva do narrador? Existe uma conexão entre a perspectiva e a verdade?

Como disse há pouco, ao escrever um romance, só consigo lidar bem com uma “terceira pessoa com jeito de primeira pessoa” (se não for assim, torna-se completamente primeira pessoa). Além disso, em vez de escrever sobre uma pessoa incompleta, prefiro escrever sobre uma pessoa “praticamente completa” (jamais alguém mal formado, mas completo em um sentido positivo). Basicamente prefiro escrever sobre esse tipo de pessoa. Isso acontece também com Robert Parker. Tento seguir do meu jeito a tradição dos romances detetivescos, desde Raymond Chandler. Na estrutura de Battle Royale, aparece o ponto de vista de muitos personagens. Porém, mesmo assim, alguns dos principais, a começar pelo protagonista, já possuem um firme código de conduta (foi minha intenção escrever dessa forma, mesmo que, em grande parte, não parecesse próprio a alunos da escola ginasial) e os diálogos deles constituem o núcleo da obra. Todos os principais personagens praticamente “possuem visão de mundo semelhante”. É exatamente o caso dos principais personagens que aparecem na Spenser Series. Nomes e condutas, mesmo diferentes entre si, compartilham, no final das contas, dos mesmos princípios.

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