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Harvard terá curso de história baseado em Game of Thrones
0João Abbade, no Jovem Nerd
Agora você pode aprofundar seus conhecimentos no mundo de Westeros na própria universidade de Harvard. O curso será chamado “O Verdadeiro Game of Thrones: Dos mitos modernos aos modelos medievais” começará a ser lecionado nos meses finais de 2017.
O curso vai se basear na forma como o folclore dos livros e da série adapta a cultura medieval da Eurasia, além de se apoiar em arquétipos usados como “o rei”, “a boa esposa”, “o segundo filho” e “o aventureiro”, para fazer analogias históricas com literatura, história, lendas e religião. De acordo com a revista TIME, os professores do curso serão Sean Gilsdorf, que é historiador medieval, e Racha Kirakosian, que se especializa no estudo das religiões.
Gilsdorf diz que “Game of Thrones dramatiza muito bem algumas coisas do campo medieval” e destaca as intrigas entre a rainha e as mulheres que se casaram com seus filhos. Já Kirakosian exemplifica as ligações do curso dizendo que o arquétipo de “rainha vingativa” pode ser visto tanto em Cersei, quanto em Kriemhild, personagem do livro Canção dos Nibelungos que dá uma ideia das rivalidades entre as famílias.
O curso está sendo classificado como de um nível introdutório e os estudiosos esperam que ele sirva como uma “ferramenta de recrutamento” para os estudos medievais.
A professora diz que quando explicava algum conceito ouvia ouvia seus alunos dizerem: “Então era igual Game of Thrones” e decidiu unir o útil ao agradável.
Professor de Harvard revela os preceitos para a ‘boa escrita’
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Rose Lincoln/Harvard University
Professor de Harvard e especialista em linguagem fala sobre as razões por trás da proliferação de textos ruins e aponta preceitos para a boa escrita
Thais Paiva, no Carta Educação
A ideia de que as novas mídias estão deteriorando o uso da língua não é só falsa como nociva. Quem diz é o cientista canadense Steven Pinker, professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Harvard e especialista em linguagem. Para ele, hoje as pessoas estão escrevendo mais e a oferta de boa escrita é cada vez mais vasta. “Quando foi a última vez que você ouviu alguém reclamar ‘não há nada de bom para ler na internet?’”, provoca.
No entanto, ainda são muitos os que apresentam dificuldade para escrever textos claros e coesos. Segundo Pinker, o texto mal escrito não é necessariamente resultado da falta de conhecimento. Pelo contrário, pode ser fruto do que ele chama de “maldição do conhecimento”, isto é, especialistas que pressupõem que seus leitores já sabem o que eles sabem e não se preocupam em explicar.
Em entrevista ao Carta Educação, o professor falou sobre seu livro Guia de Escrita: como conceber um texto com clareza, precisão e elegância (Ed. Contexto), no qual elenca princípios que devem nortear o autor para uma produção textual de qualidade e esclarece as relações entre as ciências da mente e o funcionamento da linguagem.
Por que as pessoas têm tanta dificuldade para escrever?
Primeiramente, escrever é uma tarefa artificial, que nós não nascemos para fazer. Como escreveu Charles Darwin, “o homem tem uma tendência instintiva para falar, como podemos ver no balbuciar das crianças pequenas, enquanto que nenhuma criança mostra uma tendência instintiva para assar, fermentar ou escrever”. Quando você fala, você conhece o ouvinte pessoalmente e pode prever o que ele já sabe. Quando escreve, o leitor é um estranho; você tem que adivinhar o que ele sabe e o que não sabe. Além disso, com o discurso, você pode monitorar a reação do ouvinte – vê-lo concordando com a cabeça ou franzindo a testa em perplexidade. Quando escreve, você tem que adivinhar – e provavelmente estará errado.
Em seu livro, o sr. diz que a ideia de que o uso da língua está se deteriorando é falsa. As pessoas estão escrevendo mais do que nunca por conta das novas mídias. Mas estão escrevendo com qualidade?
Há bilhões de pessoas escrevendo! Alguns textos são ruins – e sempre foram. É um erro apontar a escrita de má qualidade que vemos hoje e alegar que ela é consequência do fato da escrita estar piorando. As pessoas se esquecem de todos os textos ruins do passado. E há uma vasta oferta de bons textos atualmente. Quando foi a última vez que você ouviu alguém reclamar “não há nada de bom para ler na internet?”.
O sr. também diz que o texto mal escrito não é necessariamente resultado da falta de conhecimento. Pelo contrário, quanto mais especializada uma pessoa for em um tema, maiores as chances desse autor usar uma linguagem hermética e distante e se comunicar mal. Por que isso acontece?
A razão pela qual os especialistas têm dificuldade para se comunicar é que eles estão sujeitos à “maldição do conhecimento” – a dificuldade de entender como é não saber algo que eles sabem. Como resultado disso, autores usam abreviações e jargões ou falham em descrever o concreto, detalhes visuais de uma cena; eles pressupõem que seus leitores já sabem o que eles sabem e não se preocupam em explicar. Há inúmeras maneiras de evitar a maldição do conhecimento. A primeira é estar ciente dela, perguntar a si mesmo “o que meu leitor já sabe sobre o que eu estou escrevendo?”. Boa escrita requer empatia. A segunda coisa é colocar o texto de lado por um tempo e voltar para ele depois quando ele já não é familiar para você. Você se verá dizendo “o que eu quis dizer com isso?”. A melhor estratégia de todas é mostrar um rascunho para um leitor representativo e ver o que ele entende. Você se surpreenderá ao ver que o óbvio para você não é óbvio para todo mundo.
Podemos falar em “erro” quando se trata de língua, algo que sabemos estar em constante mudança? Se sim, deveríamos dar tanta importância para eles?
O erro é definido em relação às expectativas de determinado conjunto de leitores – um grupo de pessoas alfabetizadas que se importam com a escrita e esperam que determinadas convenções sejam seguidas. As línguas mudam, mas isso não acontece de terça para quarta-feira. Se sim, ninguém poderia compreender o outro e se você pegasse um jornal do ano anterior não entenderia nada.
O sr. diz que a boa escrita é aquela que faz com que o leitor se sinta um gênio. No entanto, a escrita ruim é aquela que faz com que o leitor se sinta um estúpido. Parte do problema que vemos hoje com a proliferação de textos ruins não está ligada ao fato de que muitos autores querem se sentir superiores aos seus leitores?
Isso pode ser parte do problema, mas um maior está no fato dos autores se preocuparem que seus colegas de profissão/área pensem que são inferiores, então eles tentam antecipar todas as objeções e críticas possíveis e evitam a linguagem simples porque isso talvez revele que são ignorantes. Em outras palavras, um autor ruim não está tentando ser superior aos seus leitores, está tentando não ser inferior às pessoas que ele acredita que estão julgando-o, isto é, os experts em seu campo de atuação. Mas escrever de forma defensiva e tentando provar que não é ignorante só irá fazer sua prosa difícil e hesitante para a grande maioria dos leitores.
A ordem com que os pensamentos surgem na nossa mente é diferente daquela em que os argumentos são mais facilmente entendidos pelo leitor? Como alinhar essas duas dimensões?
Os pensamentos ocorrem ao autor por meio de associações – uma ideia te lembra outra que te leva a uma terceira ideia. Em seguida, você se lembra que você quis dizer três coisas diferentes e que acabou omitindo-as. Aí você antecipa uma objeção e responde à essa objeção e assim por diante. Mas o fluxo da consciência de um autor não corresponde ao modo como o leitor consegue absorver uma informação. O mais importante princípio na hora de apresentar ideias é “dado, agora algo novo” – comece cada sentença com aquilo que o leitor já está pensando, então apresente a informação nova para o leitor no final da frase.
Aluna de escola pública formada em Harvard lista mitos sobre estudar fora
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Tabata Amaral Pontes, de 22 anos, se formou em ciências políticas e astrofísica em Harvard (Foto: Marcelo Brandt/ G1)
Filha de ex-vendedora de flores colecionou medalhas em olimpíadas estudantis. Agora, vai trabalhar com educação em multinacional no Brasil.
Vanessa Fajardo, no G1
Mais do que sorte e talento, Tabata Amaral de Pontes, de 22 anos, atribui suas conquistas às oportunidades. Foram as bolsas de estudo e mentorias que abriram de vez as portas para que a aluna esforçada de escola pública na periferia de São Paulo conseguisse na Universidade Harvard , nos Estados Unidos, seu diploma de graduação em ciências políticas e astrofísica.
A convite do G1 , Tabata reavaliou sua trajetória para listar os cinco maiores mitos sobre estudar fora do país.
Desde junho de volta ao Brasil, a filha de ex-vendedora de flores está envolvida em um projeto social que ajudou a fundar, o Mapa Educação , que busca mobilizar os jovens para que a educação seja prioridade no debate político. Em agosto, começará a trabalhar em um fundo de educação de uma empresa multinacional em São Paulo.
Trajetória olímpica
Bem antes da vaga de emprego em uma multinacional, ainda quando estudava na rede pública e tinha 12 anos, Tabata começou uma carreira como “atleta” do conhecimento. Ao todo, colecionou mais de 30 medalhas em olimpíadas de física, química, informática, matemática, astronomia, robótica e linguística.
A possibilidade de morar e estudar no exterior começou a se desenhar quando Tabata teve a oportunidade de deixar a rede pública. À época ela tinha sido destaque na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) e ganhou uma bolsa no Colégio Etapa.
O colégio também bancou moradia e alimentação da estudante porque sua casa ficava distante, e os pais não podiam arcar com a despesa. Lá viu os horizontes se alargarem e ouviu pela primeira vez sobre a possibilidade de fazer faculdade fora do país.

Neve era a diversão quando a temperatura baixava e chegava até 27 graus negativos (Foto: Arquivo pessoal)
Quando estava no segundo do ensino médio ganhou uma bolsa da escola Cellep para estudar inglês e contou com a ajuda de instituições para cobrir os gastos do application (processo de candidatura às vagas das universidades norte-americanas).
Quando enfim escolheu Harvard, há quatro anos, Tabata também tinha sido aceita por outras cinco universidades americanas, entre elas, Caltech, Columbia, Princeton e Yale.
CINCO MITOS SOBRE ESTUDAR FORA
Tabata selecionou e deu sua opinião sobre conceitos que “perseguem” os candidatos:
1) É preciso ser gênio
Para ser aceito em uma universidade americana, é preciso ser mais que bom aluno. As atividades extracurriculares são muito bem vistas pelos avaliadores. O diferencial de Tabata foi a paixão pelas ciências e pelas olimpíadas. Para ela, não há nada de genialidade por trás das aprovações.
“Tem pessoas que gostam muito de algumas áreas e são dedicadas, por isso acabam indo bem. Harvard vai valorizar que você tenha uma paixão, que se dedique e faça alguma coisa bacana com isso para a sociedade.”
2) Só ricos estudam lá
Fazer graduação em uma universidade americana de ponta pode custar até R$ 500 mil, incluindo mensalidades, hospedagem e alimentação durante os quatro anos. As bolsas são concedidas a partir da situação socioeconômica da família, e não por mérito. Se o aluno foi aceito, a instituição vai dar as condições para que ele estude, independentemente de sua condição financeira.
Tabata é filha de uma ex-vendedora de flores e tem um irmão, mais novo, universitário. O pai trabalhava como cobrador de ônibus e faleceu pouco antes de ela embarcar para o exterior. A família não poderia arcar com nenhuma despesa. Ela recebeu bolsa integral da universidade e ajuda de custo para transporte, passagens aéreas para o Brasil e compra de livros, mas trabalhou durante o curso para poder ajudar a mãe no Brasil. “Nada que atrapalhasse meus estudos.”
Para ela, falta de dinheiro não é impeditivo. “Se você tem um sonho grande de estudar nos Estados Unidos e não tem como pagar, não desista por isso. Eu realmente não poderia pagar um centavo e consegui.”
3) Inglês tem de ser fluente
O application exige um teste que mede da proficiência do aluno no inglês (Toefl) e uma prova chamada SAT, uma espécie de Enem americano, toda em inglês. A ideia é medir o quanto o aluno domina o idioma. No entanto, para ser aprovado, no processo como um todo, a fluência no inglês não é determinante.
Tabata aprendeu inglês em um ano, depois que ganhou a bolsa do Cellep. Ela conta que conseguiu ter notas suficientes nas provas do application , mas não era fluente.
“Tinha um inglês muito ruim. Chegando em Harvard tive dificuldade de me comunicar com os americanos, tanto que meus melhores amigos são os latinos e os indianos. Fui sentir que estava fluente só depois do meu primeiro ano, quando fui entender música e filme.”
Ela conta que só foi fazer piadas em inglês no último ano de curso. “Lembro da primeira vez que alguém falou para mim: a Tabata também está engraçada em inglês. Não lembro o que eu disse, mas um amigo falou: nossa ‘ up grade ’!”
4) Quem estuda nos Estados Unidos não volta para o Brasil
Ficar nos Estados Unidos nunca foi um projeto, mesmo com as pessoas dizendo que retornar ao Brasil seria uma “burrice.” Ela elenca pelo menos dois motivos: o contexto político pelo qual o país atravessa e a vontade de impactar a educação.
“Eu estudei ciências políticas, sou fascinada por esse tema. A gente está passando por um contexto histórico muito importante para o Brasil. Então, quer laboratório mais bagunçado e mais interessante para quem gosta de aprender como esse?”
Tabata diz que se ficasse nos Estados Unidos seria mais difícil voltar depois ao Brasil. “Lá a vida é mais fácil, mais segura e mais meritocrática. Só que eu quero ter impacto aqui, entrar para a política. Nunca considerei ficar.”
5) Meritocracia: quem quer consegue
A história da brasileira inspira muitos comentários do tipo “quem quer consegue”, mas para ela, suas conquistas não têm a ver com mérito.
“Vivemos em um país muito desigual e injusto. Tive a benção de ter muitas oportunidades bacanas e aproveitar. Esforço é muito importante, mas se eu não tivesse tido essas oportunidades eu não estaria aqui.”
Ela diz que sua trajetória prova o quanto a educação pode transformar e servir de inspiração. “Se você pegar a população brasileira e der uma educação de qualidade, boas oportunidades, nosso país vai ser mais justo e mais bacana. Não dá para falar ‘quem quer consegue’ porque não é assim. Quem quer e está em uma escola pública de baixa qualidade em uma cidade pequena, não consegue. Sinto muito, mas é verdade.”

Tabata com ao lado do irmão Alan e da mãe Reni na formatura em Harvard, no fim do mês de maio (Foto: Arquivo pessoal)
Dificuldades e lições
A adaptação em Harvard não foi fácil. Ela embarcou logo após perder o pai, teve dificuldades com idioma, com a “comida sem sabor” e com o frio, que chegava até 27 graus negativos. “Me senti sozinha e cheguei a me questionar se aquele era realmente meu lugar.”
Mas vieram os amigos e a vida, entre estudos e trabalho, foi tomando rumo. “Levou um tempo para eu me encontrar, mas Harvard passou a ser um dos meus lugares preferidos no mundo que eu sinto muitas saudades agora.”
De lá, a maior lição que fica é a importância das pessoas. “Quando você passa quatro anos com gente tão fora de série, você se sente com vontade de fazer mais. Não importa o que eu faça, vou me preocupar em estar perto de pessoas que sabem muito mais do que eu. O que te faz crescer são as pessoas.”
“Talvez o próximo Einstein esteja morrendo de fome na Etiópia”
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Nuño Domínguez, no El País
Neil deGrasse Tyson (Bronx, EUA, 1958) é um dos divulgadores científicos mais reconhecidos do mundo. Este astrofísico assumiu o lugar de Carl Sagan à frente da nova versão da série Cosmos, programa de sucesso que despertou vocações científicas no mundo inteiro. Tyson estudou no Instituto de Ciência do Bronx (Nova York), um centro público de ensino médio muito seletivo e especializado em matemática e ciência. Ao final do curso, o próprio Carl Sagan o chamou para que fosse visitá-lo, com a intenção de contratá-lo para sua universidade, Cornell. Tyson preferiu Harvard, mas diz que descobriu em Sagan “o tipo de pessoa em que queria me transformar”.
O cientista comparece pela primeira vez ao festival Starmus, realizado até sábado em Tenerife (ilhas Canárias), na Espanha, onde concedeu esta entrevista ao EL PAÍS.
Pergunta. Acha que os humanos estão ficando cada vez mais irracionais, mais fanáticos?
Resposta. A primeira coisa que você pode pensar é em culpar as pessoas que se comportam dessa forma, mas eu sou um educador e tenho uma visão um pouco diferente. Acredito que haja comunidades inteiras que se sentem totalmente esquecidas. Há um grupo de pessoas perfeitamente formadas inventando coisas, ganhando mais riqueza por terem inovado. Se você não era bom nas suas aulas de matemática e ciências, se as rejeitava ou simplesmente foi formando outros valores, a primeira reação é rejeitar tudo isso, pensar: “Vocês estão todos equivocados, são meus inimigos”. Isso é muito humano. Isso nos leva a uma mudança no sistema educacional para ensinar às pessoas o que é a ciência e como e por que funciona. Não é só um conjunto de informações que você pode ignorar ou afastar porque assim decide. A ciência é a vida! Há ciência em toda parte, em tudo que nos rodeia, nos materiais, nos tecidos, nos telefones, nos automóveis… Seu celular se comunica com satélites GPS para que você saiba onde fica a casa de sua avó, e que precisa virar à esquerda para chegar. Isso nos lembra que precisamos envolver todo mundo nas novas descobertas tecnológicas, não criar um planeta onde alguns têm acesso a elas e outros não. Porque estes últimos as rejeitarão.
P. E o fato de que se ensine religião nas escolas?
R. Há dois tipos de verdades neste mundo. As pessoais, coisas que você sabe que são reais porque as sente. E há as verdades objetivas, essas que existem independentemente do que você sentir a respeito delas. E=mc2, essa é uma verdade objetiva. Não importa se você está ou não de acordo com ela, é uma verdade. As religiões são verdades pessoais. Para conseguir que alguém esteja de acordo com sua verdade pessoal, é preciso doutrinar ou convencer pela força, pela ameaça de morte. Houve muitíssimas guerras na história porque algumas pessoas tinham uma verdade pessoal diferente das de outrem. Não havia meio de resolver o conflito de forma objetiva, então se mataram para ver quem acabava dominando quem. Isto é ruim para a civilização. O melhor é que você guarde a sua verdade pessoal só para você. E, se conseguir chegar a ser chefe do Estado, ou alguém pode e deve ditar novas leis, numa sociedade livre você não deveria baseá-las nas suas verdades pessoais, porque as estaria impondo a outros que possivelmente não as compartilham. Se você vive em um país com católicos, protestantes, muçulmanos e hindus, e faz uma lei que não se baseia numa verdade objetiva, então isso se torna uma receita para a guerra. É o começo de uma teocracia, não de uma democracia. É o princípio do final de uma democracia bem informada.
P. Como civilização, você acha que evoluiremos até um ponto em que deixemos de nos exterminar mutuamente?
R. Vivemos no tribalismo. Os antropólogos sabem que os humanos são tribais por natureza. Existem a minha família e o meu povo, e se você estiver de fora é meu inimigo. Você pode se perguntar que tamanho deseja que a sua tribo tenha. Inclui todo mundo sobre a Terra? Todos os seres humanos? Essa é provavelmente a melhor solução para a sociedade. Mais do que a minha família, minha idade, as pessoas que falam meu idioma, as que têm o meu aspecto… E assim você toma decisões que beneficiam a todos e não são excludentes. Para isso precisamos que a nossa civilização evolua, como você diz.
P. Stephen Hawking acredita que não duraremos outro milênio neste planeta. Concorda?
R. Não estou de acordo com a utilidade dessa ideia. Pode ser que destruamos este planeta e tenhamos de ir morar em Marte. Mas antes será preciso transformá-lo para que seja como a Terra, e enviar alguns bilhões de pessoas para lá. Se tivermos a capacidade de transformar Marte dessa forma, também podemos mudar a Terra para que volte a se parecer com o que era. Não há necessidade de ir embora. É possível arrumar as coisas aqui em vez de reformar outro planeta. Então, a solução de Hawking funciona muito bem como manchete, mas na prática ninguém faria isso, simplesmente consertaríamos a Terra.
P. Antes, você falou da desigualdade como razão da rejeição à ciência e raiz do radicalismo. Estamos melhorando ou piorando nesse aspecto?
R. A educação é chave: ter líderes bem formados, ilustrados, não corruptíveis. Em muitas nações em desenvolvimento, é a própria corrupção que impede que o país todo cresça como deveria. A gente poderia ver isso a partir de uma postura muito egoísta e dizer que o próximo Einstein talvez esteja morrendo de fome na Etiópia, e a gente nunca saberá, porque é uma criança sem comida. Como cientista, quero que seja dada uma oportunidade a todo aquele que tiver a chance de pensar em como melhora nossa civilização. Se Isaac Newton tivesse nascido na África, acho que nunca teria conseguido chegar aonde chegou. Iria só se preocupar em não morrer. É verdade que ele se mudou para o campo a fim de evitar a peste em Londres, então sabia, sim, o que fazer para sobreviver nesse contexto. Mas, se perdermos gente assim na infância, estaremos reprimindo o avanço da nossa própria civilização. Uma das grandes tragédias da atualidade é que nem todo mundo tenha a oportunidade de ser tudo o que pode.
P. A Espanha (e outros países) atravessa uma crise econômica que levou a cortes de muitos investimentos em ciência e conhecimento. O que diria ao próximo presidente do Governo da Espanha se lhe pedisse um conselho?
R. Não, minhas palavras não seriam para o presidente, e sim para os que o elegeram. É preciso que entendam por que um político deveria ou não tomar certas decisões. Achamos que seria suficiente falar com o líder do Governo porque ele está no comando, mas suponhamos que seu presidente diga: “Sim, investiremos mais em pesquisa e desenvolvimento”. E que o público diga: “Não, espere, tenho fome agora, sou pobre.” Então isso deixa de funcionar. As políticas não conseguem se tornar realidade. Precisamos entender o valor da pesquisa e do desenvolvimento. Assim, quando o Chefe de Governo decidir fazê-lo, todo mundo o apoiará, não haverá discussão, pois todos entenderão a importância da iniciativa. Se você implementa uma série de investimentos, esperando que alguns tenham rentabilidade no curto prazo, outros no médio e outros no longo prazo, sempre haverá um fluxo de descobertas que você poderá apontar como resultados dos investimentos. Isso poderia funcionar. Sempre haveria algo do que falar, algo inventado na Espanha, uma nova máquina, um novo tratamento médico, tecnologias… Essas são as economias que vão liderar a civilização ao longo do século XXI.
P. Você diz que do Instituto do Bronx (Nova York), onde estudou, saíram oito prêmios Nobel, a mesma quantidade obtida por toda a Espanha, por exemplo – cuja maioria não é de ciência, mas de literatura. O que isso significa?
R. O Nobel de Literatura é algo muito bom. Comunicação, ideias, histórias. É uma parte fundamental do ser humano: compartilhar histórias de outros. Mas vocês precisam se perguntar se na Espanha se conformam com isso ou se querem mais. Se as pessoas não querem mais, está bem, mas então não podem se queixar de que a economia não seja tão competitiva como outras da Europa ou do resto do mundo. Eu perguntaria: vocês têm feiras de ciência onde os estudantes fazem seus projetos e recebem reconhecimento por pensar de forma científica sobre o mundo? Por exemplo, agora estamos no festival Starmus. Eu me pergunto onde estão as grandes empresas que deveriam estar apoiando um evento assim. Possivelmente, acreditam que isso não é importante. Estão erradas. Isso é importante para todo mundo, para seu futuro, incluído o econômico. Você pode escolher não fazê-lo, mas irá a reboque do resto do mundo, dos que inventam. Suas doenças serão curadas graças aos esforços de pesquisa de outros países. Não há nada de ruim nisso, mas você terá de pagar o preço.
P. Os empresários também pensam que não há um retorno econômico nesse tipo de iniciativa…
R. Ah, claro, o retorno não virá neste trimestre, nada no balanço anual. É algo que chegará muito depois. A rainha Isabel, a Católica, sabia disso. Quando ela enviou Colombo à sua expedição, não estava pensando em recuperar o investimento no ano seguinte. Sabia que apostava no longo prazo, no futuro da Espanha. E, neste caso em particular, podemos discutir se o império espanhol foi algo bom ou ruim, mas certamente foi algo, refletia uma visão de país. Portanto, se você não reinvestir seus lucros em pesquisa, verá como eles cairão…
P. Que questões da astrofísica lhe interessam mais na atualidade?
R. Amamos o desconhecido. Estou interessado nas ondas gravitacionais, na matéria escura, na energia escura, na busca por vida. Há um multiverso? Podemos criar um buraco de minhoca? Há vida em Europa, uma das luas de Júpiter? E em Marte? Adoro todas essas perguntas. Mas a que eu mais gosto é dessa que nem sequer sei como formular ainda.