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Ladrões roubam livros raros de Galileu, Copérnico, Dante, da Vinci e Newton
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(Foto: Flicker/ Creative Commons/ Barta IV)
Publicado na Galileu
Ladrões roubaram o equivalente a R$ 7,5 milhões em livros raros de um depósito, na Inglaterra. No melhor estilo Missão ImpossÃvel, os três bandidos fizeram buracos no teto do estabelecimento e desceram com cordas por 12 metros, evitando o acionamento dos alarmes de segurança.
A Scotland Yard confirmou que 160 publicações valiosas foram levadas, entre elas, obras dos séculos 15 e 16. O material mais caro foi De Revolutionibus Orbium Coelestium, importante obra de Nicolau Copérnico, que vale cerca de R$ 830 mil. Além de Copérnico, os ladrões investiram também em uma edição de 1569 da A Divina Comédia, de Dante Alighieri, e obras de Galileu Galilei, Isaac Newton, Leonardo da Vinci.
âEstou triste porque não são coisas que você pode comprar em qualquer lugar. Por trás destes livros existe muita pesquisa e trabalhoâ, afirmou ao Sky News Alessandro Meda Riquier, negociante de livros raros e vÃtima do roubo.
A polÃcia suspeita que o crime tenha sido encomendado por algum colecionar ou especialista em arte. Segundo o The Guardian, uma fonte próxima ao caso que não quis se identificar afirmou: âà impossÃvel que as obras sejam vendidas para qualquer colecionador ou casa de leilão de respeito (…) Os livros pertecem a três colecionadores diferentes que representam o top do mercadoâ. A polÃcia continua trabalhando no caso, mas ainda não tem pistas.
Ladrões invadem galpão em Londres e roubam livros raros estimados em R$ 8 milhões
0Gangue evita alarmes de sensores e escapa com obras de Da Vinci, Newton, Copérnico e Dante
Caio Soares, no Omelete
Em uma ação descrita por jornais britânicos como “cinematográfica”, a Scotland Yard confirmou que mais de 160 obras valiosas, entre eles uma edição de A Divina Comédia de Dante Alighieri datada de 1569, foram roubadas de um armazém localizado no Oeste de Londres no fim de janeiro.
De acordo com o Daily Mail, ladrões invadiram o galpão fazendo buracos na fibra de vidro do teto e desceram em equipamentos de rapel de uma altura de 12 metros enquanto desviavam dos alarmes. Estima-se que o valor dos livros cheguem à quantia de £2 milhões (aproximadamente R$ 8 milhões). Entre as obras roubadas, estavam manuscritos raros de Galileu, Isaac Newton e Leonardo da Vinci. Segundo especialistas, o livro mais valioso era uma edição de 1566 de De Revolutionibus Orbium Coelestium, de Nicolau Copérnico, avaliada em £ 215,000.
“Uma situação desta proporção nunca havia atingido o mercado de livros raros”, confessou Brian Lake, da Associação de Livreiros de Antiguidades. “Estes livros não vão ser vendidos em casas de leilões. Não estamos falando de Picassos ou Rembrandts ou até barras de ouro – esses livros seriam impossÃveis de se rastrear. Algum especialista ou colecionador deve estar por trás disso”, disse uma fonte próxima à investigação.
A polÃcia metropolitana de Londres segue investigando e ainda não divulgou novas informações sobre o processo.
Os tesouros escondidos nas grandes bibliotecas particulares de Curitiba
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Miguel Kfouri: chegou a trazer 33 quilos de livros da França de uma vez só Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Elas possuem milhares de exemplares, algumas têm bibliotecária própria e outras ganharam até um apartamento exclusivo para serem abrigadas. Em comum, a imensa paixão de seus donos pelos livros
Susy Murakami, na Gazeta do Povo
O ex-presidente do Tribunal de Justiça do Paraná Miguel Kfouri Neto já chegou a trazer da França 33 quilos de livros – pagos em várias prestações – para completar sua coleção particular.
Paulo Venturelli, professor aposentado da Universidade Federal do Paraná, comprou um apartamento que é habitado por 15 mil seres fantásticos: seus livros. Ele faz questão de os separar por paÃs de origem.
OâCaderno G visitou estes templos construÃdos por meio de décadas de investimento e dedicação. Veja a seguir o que guardam em suas estantes e o que motiva os donos de grandes bibliotecas particulares de Curitiba a manter milhares de obras em suas casas.
Paulo Venturelli – Um apartamento só para os livros
âQuando eu era adolescente, eu tinha um professor que dizia: para ser inteligente, é preciso ler um livro por semanaâ. O conselho dado ao professor aposentado da Universidade Federal do Paraná Paulo Venturelli foi mais do que seguido à risca. Foi necessário para lá de um livro por semana para encher as estantes do apartamento comprado exclusivamente para abrigar sua biblioteca. Hoje já são 15 mil livros de um acervo que continua crescendo.
O primeiro exemplar ele guarda até hoje: Boitempo, de Carlos Drumond de Andrade, adquirido em 1968 com o dinheiro do almoço do dia. âAlmoçar eu almoçaria no dia seguinte. Já o livro poderia não estar mais láâ, recorda.
Assim como essa obra de grande valor pessoal, qualquer outra, entre as milhares, pode ser encontrada âno escuroâ pelo professor. Ele sabe onde está cada um dos livros, que ficam separados por paÃs: Brasil, Inglaterra, França, Ãndia, Japão, Turquia e tantos outros. Os tÃtulos, além de literatura, abordam história, polÃtica, futebol e tantos outros também. Tem livros que já leu dez, quinze vezes. âCada livro que leio é uma vida nova, um universo novo. Tenho uma vida que se renova a cada dia sem o peso da mesmiceâ.
Entre temas atuais e de seu interesse, alguns são apenas resgate das lembranças da adolescência. Da trilogia da autora francesa Raoul de Navery, que havia lido quando estava no colégio interno, faltava o primeiro volume âSepultada Vivaâ que finalmente conseguiu em um sebo. Veio com uma dedicatória datada de 1952 de uma madre para uma aluna. Esse é um dos que ainda hesita em reler. Receia que o encanto produzido pela leitura na adolescência não se repita.
Venturelli também é doutor em literatura, membro da Academia Paranaense de Letras e tem cerca de 20 obras publicadas.

Kfouri: A biblioteca chegou a ter 9 mil exemplares, contando as revistas de jurisprudência, mas hoje tem âapenasâ cerca de 3 mil, incluindo outros temas Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Miguel Kfouri Neto – 33 quilos de livros
Grandes referências do direito nacional e internacional podem ser encontradas na biblioteca do desembargador e ex-presidente do Tribunal de Justiça do Paraná Miguel Kfouri Neto. O acervo foi sendo montado ao longo de mais de 30 anos com clássicos, lançamentos, obras esgotadas, periódicos e tudo o que poderia ser relevante para o estudo do direito. A biblioteca chegou a ter 9 mil exemplares, contando as revistas de jurisprudência, mas hoje tem âapenasâ cerca de 3 mil, incluindo outros temas.
Leitor voraz, Kfouri Neto tem formação em letras e foi professor de português. Mas o vÃcio em comprar livros começou depois de ser aprovado no concurso para magistratura, em 1984. Entre as principais aquisições estavam obras usadas como referência em acórdãos dos tribunais ou citações em petições. âNão sossegava enquanto não adquiria tal livro, se já não o tivesse, para conferir a transcriçãoâ, revela.
Também ia colecionando exemplares para utilizar nas aulas de direito processual civil que lecionava, para o mestrado, doutorado e para os três livros que publicou relacionados ao direito médico e da saúde. Esse tema ocupa em torno de 20% do espaço da biblioteca.
A certa altura, quando ainda morava no interior, sua esposa proibiu a entrada de vendedores de livros em sua casa. âEu tinha que ver os livros na esquina, longe dos olhos delaâ, lembra.
Quando veio a Curitiba teve que ir se desfazendo de uns tantos âcom dor no coraçãoâ, pois a situação ficara insustentável. Hoje eles ainda ocupam mais de um cômodo da casa, além da biblioteca, contrariando a advertência contida no primeiro livro que leu na magistratura: âDe regra, nossas casas e apartamentos já não tem lugar para bibliotecas, além disso, a grande biblioteca é um luxo caro e desnecessárioâ – A Voz da Toga, Eliézer Rosa.

Biblioteca Roberto Campos: acervo de mais de 8 mil obras com anotações e dedicatórias que podem ser consultadas pelo públicoHenry Milleo/Gazeta do Povo
Biblioteca Roberto Campos – Homenagens de Bill Clinton e da Rainha da Inglaterra
Entrar na sala Roberto Campos, da biblioteca da Universidade Positivo, é como invadir uma parte do universo particular de um dos maiores economistas que o Brasil já teve. Roberto Campos morreu em 2001 e deixou um acervo de mais de 8 mil obras com anotações e dedicatórias que podem ser consultadas pelo público.
Sua vasta coleção de livros foi disputada por várias instituições, sendo, ao final, adquirida pelo Grupo Positivo que não revela o valor pago. O acervo está aberto para consulta pela comunidade em geral, mas não pode ser emprestado.
Admirado pela inteligência e pelo conhecimento na área econômica, Campos foi ministro, embaixador e escritor. Em sua gestão nasceram o Banco Central, o FGTS, a caderneta de poupança. Implementou reformas, elaborou programas de governo, foi também senador, deputado e deixou uma série de outros legados.
A biblioteca expõe cerca de 30 objetos que pertenceram a Campos.
Observando as prateleiras, descobrirá seu interesse pelos mais variados assuntos e grande inclinação pelas biografias. A quantidade de dicionários também impressiona. Um deles, o âNovo dicionário da lÃngua portuguesaâ, de Jânio Quadros, conserva a dedicatória do autor: âAo embaixador Roberto Campos, mesmo sabendo que a obra lhe é supérfluaâ.
As obras de autoria de Campos também estão disponÃveis no acervo. O economista Gustavo Franco foi um dos frequentadores assÃduos do local, que serviu de fonte de pesquisa para o seu livro âA leis secretas da economia: revisitando Roberto Campos e as leis do Kafkaâ.

O espaço faz jus ao valor das obras, sendo elegantemente decorado com peças de artes e objetos antigosHenry Milleo/Gazeta do Povo
René Dotti – Bibliotecária para cuidar do acervo
Grande admirador das bibliotecas bem formadas, Renê Dotti, um dos mais respeitados juristas do Brasil mantém em casa seu próprio acervo de obras seletas. Livros não se compra por metro, sugere ele.
Não à toa, tem uma coleção de obras raras: do Código do Processo Criminal de Primeira Instância do Império do Brasil, de 1882, a uma edição italiana da ópera O Guarany, de Carlos Gomes, dedicada A sua Maestá Dom Pedro IIº, Imperatore del Brasile. Da obra poética ParaÃso Perdido, de John Milton, possui quatro versões, a mais antiga é de 1789.
A bibliotecária, Mônica Catani, contratada para cuidar do acervo, registrou até o momento 5600 obras, mas estima ter mais de 15 mil. O acervo valioso ganhou seus primeiros itens nos anos 50. Em princÃpio, eram relacionados ao tema de interesse do então estudante de direito. âMas sempre achei que atividade de advogado era complementada de literatura, de arte…â, ressalta Dotti, que também é membro da Academia Paraense de Letras.
Muitos dos exemplares foram adquiridos em feiras de antiguidade ou em sebos de vários cantos. Mas não é apenas à s coleções antigas que Dotti dispensa atenção. Está sempre alerta aos lançamentos ou ao que âestá na ordem do diaâ. Uma das aquisições mais recentes é reedição de âÃpio dos Intelectuaisâ, de Raymond Aron, que ganhou nova tradução em 2016.
O espaço faz jus ao valor das obras, sendo elegantemente decorado com peças de artes e objetos antigos. Ao fundo, um minipalco revela que o encanto pelo teatro segue intacto. Antes do direito, Dotti fez parte de um grupo que tinha Ary Fontoura entre seus integrantes.
Todo esse arsenal de conhecimento não fica restrito às quatro paredes da biblioteca. As penitenciárias que visita é um dos destinos das doações que costuma fazer.
Marcelo Almeida – Indicações de Michel Temer
Formado em engenharia civil, Marcelo Almeida, ex-vereador e ex-deputado federal, indica que se tivesse que exercer a profissão seria a de engenheiro dos livros. âO curso de engenharia foi um erroâ, aponta. âEu deveria ter feito jornalismo, letras…â. O entusiasmo pela leitura logo entrega sua afinidade com a área de Humanas.
A relação de amor com os livros tornou-se forte na faculdade e teve como grande cupido o respeitado escritor curitibano Jamil Snege (1939-2003) de quem foi amigo pessoal. âEle colocou uma frase que mudou minha vida: âvocê vai ser o que você lerâ. Desde então, mergulhou na leitura, tendo preferência pelos romances.
Mas em sua biblioteca particular, que deve passar dos 1500 livros, tem também muito de polÃtica, urbanismo, história, autoajuda. âSe eu leio autoajuda? Eu leio qualquer coisa. Tirei uma coisa muito boa daquiâ, diz, antes de recitar um trecho de âComo Chegar ao Simâ, de William Ury.
Fora os livros pessoais, compra centenas de um mesmo exemplar para distribuir aos integrantes do âConversa Entre Amigosâ, clube que criou há mais de dez anos para reunir leitores e autores e promover discussão sobre as obras. A reunião é feita em torno de cinco vezes ao ano e já teve nomes internacionais e locais, como Mia Couto, J.M. Coetzee, Laurentino Gomes e Domingos Pellegrini.
De épocas de efervescência na polÃtica prefere tirar proveito apenas dos assuntos e temas discutidos, ir fundo nas leituras e aprender sobre fundamentos da democracia e governos.

Paulo José da Costa: o sebo FÃgaro de Curitiba tem 20 mil livros em estoque. O acervo particular tem âmais ou menos 3 ou 4 mil obrasâ, calculaDaniel Castellano/Gazeta do Povo
Paulo José da Costa – Discoteca judaica
O gosto pela leitura e o dom para o comércio manifestaram-se desde cedo na vida de Paulo José da Costa. Na década de 50, com 6, 7 anos, já lia as célebres quadrinizações e gibis da época e participava dos eventos onde se faziam trocas de exemplares. âEu ia com 50 gibis e voltava com 54 e a minha pilha ia sempre aumentandoâ, relembra.
A pilha cresceu e variou tanto que acabou virando o tradicional sebo FÃgaro de Curitiba com 20 mil livros em estoque. O acervo particular tem âmais ou menos 3 ou 4 mil obrasâ, calcula Costa.
Assim como no estabelecimento, a coleção de casa está mais para âculturotecaâ, pois além dos livros, é composta por discos, DVDs e fotografias. Começou com livros sobre música e hoje tem, basicamente, obras de história, música e arte e nada de literatura. âPerdi o gosto pela ficção. Gosto de coisas que aconteceramâ, explica. Também por causa do volume prefere limitar-se ao que realmente tem interesse.
Por isso, tem sempre o trabalho de fazer um bom garimpo em bibliotecas privadas inteiras que lhe são oferecidas para compra. De cada cem livros que vão para o sebo, dois ou três ele leva para casa. Nessa de examinar acervos, se depara com fotografias antigas que para ele são valiosas narrativas revelando todo o contexto de uma época ou lugar. Os retratos acabam sendo incorporados ao material adquirido e já superaram em muito o número de livros: cerca de 30 mil.
Muitas obras são raras e algumas de valor inestimável, como um disco de Heitor Villa Lobos com assinatura e um âaprovoâ escritos pelo ele. à um disco enviado pela gravadora para avaliação e aprovação do maestro e compositor na década de 1940.
Dica do Chicco Sal
Conheça a biblioteca mais antiga de SP, lar de monges e fechada ao público
0Renata Nogueira, no UOL
O coração de São Paulo abriga a biblioteca mais antiga da cidade, que também é uma das mais antigas do paÃs. Com 418 anos de história, a coleção de livros do Mosteiro de São Bento é conservada em amplas salas no segundo andar do histórico prédio localizado a poucos metros do local onde a metrópole nasceu.
Os tÃtulos da biblioteca do Mosteiro de São Bento estão disponÃveis para consulta dos próprios monges, que têm a leitura como um de seus hábitos diários, e para os alunos da Faculdade de São Bento. O acesso ao ambiente da biblioteca, no entanto, é de claustro e restrito aos 40 monges beneditinos que lá vivem.
A reportagem do UOL teve a oportunidade de conhecer o local na companhia do monge bibliotecário, Dom João Baptista. O alagoano de 34 anos vive no mosteiro há oito e abriu as portas do claustro para dividir um pouco da história dos 115 mil livros que lá chegaram desde 1598 junto com os primeiros monges.
Os exemplares mais antigos – como uma bÃblia de Gutenberg do século 15 – foram trazidos da Europa pelos monges vindos do Velho Mundo ou sob encomenda. Já os mais recentes datam deste ano e atendem à demanda dos cerca de 200 alunos dos cursos de Filosofia e Teologia oferecidos pela Faculdade de São Bento.
Muito além da religião

O monge beneditino Dom João Baptista, produtor cultural e responsável pela biblioteca – Junior Lago/UOL
Se engana, porém, quem pensa que apenas tÃtulos de filosofia e teologia fazem parte do acervo. Obras de literatura, como “O Pequeno PrÃncipe”, e ficção, como o polêmico “O Código Da Vinci”, de Dan Brown, fazem companhia aos muitos tÃtulos religiosos. “Temos que nos adaptar e adquirir essas obras. A gente tem que acompanhar sempre, não estagnar”, explica Dom João.
O menino louro criado por Saint-Exupéry em 1943 ganhou até uma exposição, “O Pequeno PrÃncipe Descobre o Mosteiro”, em cartaz até o dia 6 de agosto. Segundo Dom João, que também exerce o cargo de produtor cultural do mosteiro, esta é uma forma de aproximar a população da biblioteca exclusiva dos monges. “Eu uso as obras da biblioteca em 80% das exposições”, explica o monge bibliotecário.
Livros mais populares, como auto-ajuda ou biografias de artistas, só não entram no acervo por falta de espaço fÃsico. A biblioteca, antes restrita a um clássico salão repleto de estantes de madeira escura e um mezanino, hoje também ocupa um amplo espaço que antes servia como dormitório dos monges.
Os alunos da faculdade têm à disposição uma antessala com mesas e computadores, onde podem consultar as obras trazidas pelos poucos funcionários da biblioteca. O ambiente onde os livros ficam armazenados tem acesso restrito aos bibliotecários e aos monges que leem diariamente seguindo o capÃtulo 48 da Regra de São Bento. “A conservação dessa maneira acabou salvando nossa cultura”, defende o monge.
Os livros “proibidos”
“A biblioteca é um local de consulta de arquivo para você resguardar conhecimento, seja ele qual for. O livro é como uma faca de dois gumes. Ele pode trazer uma verdade ou não. Temos no acervo Dan Brown e tantos outros autores, inclusive obras que destroem a ideia e teorias do ‘Código da Vinci’. Mesmo porque a gente tem que saber o que está acontecendo e o que as pessoas estão lendo para saber rebater”. Com cerca de 80 milhões de cópias vendidas no mundo, a obra do escritor americano causou polêmica ao questionar a divindade de Jesus Cristo.
O monge entende o sucesso da obra de Dan Brown como uma salada de teorias que já existiam e que viraram uma literatura interessante. Ao segurar um exemplar de “O Nome da Rosa”, do escritor italiano ateu Umberto Eco, Dom João retoma a ideia do que avalia como uma boa ficção que atrai leitores comuns e curiosos sobre a vida religiosa. “Nós (monges) temos que ter acesso para que saibamos lidar com o assunto. Não basta repetir que não presta. Por que não presta? Essa barreira seria de uma ignorância extrema.”
O Index deixou de existir, mas a ideia de cuidado de como você vai ler deve prevalecer. Isso não é censura, é simplesmente cuidado
Dom João Baptista, monge responsável pela biblioteca mais antiga de São Paulo
As obras polêmicas fazem lembrar o Index Librorum Prohibitorum, lista de livros proibidos pela igreja que esteve em vigor até o inÃcio dos anos 60. O monge explica que esses livros sempre estiveram presentes nas bibliotecas, inclusive as monásticas. Os tÃtulos apenas ficavam longe do alcance de uma interpretação equivocada da massa. Nomes fundamentais para a filosofia, como René Descartes, estavam presentes no Ãndice elaborado pela igreja católica.
“O Index deixou de existir, mas a ideia de cuidado de como você vai ler deve prevalecer. Isso não é censura, é simplesmente cuidado”, defende o monge. “As pessoas tinham pouco acesso à educação e essas obras poderiam causar um tumulto, um terror”.
Obras raras

Comentário da bÃblia datado do ano 1500 está entre as obras raras da biblioteca – Junior Lago/UOL
Uma bÃblia de Gutenberg, o pai da imprensa, é o livro mais raro do acervo da biblioteca de São Bento. Datada de 1496, cerca de cem anos antes de os monges chegarem ao Brasil, e quatro anos mais velha que o nosso paÃs, a bÃblia fica isolada em uma sala com umidade e temperatura controladas e acesso restrito à s pessoas que conservam estas obras e a estudiosos.
O UOL teve acesso a cinco exemplares raros da coleção: um comentário da bÃblia de 1500, uma bÃblia em alemão de Lutero, de 1656, a enciclopédia “História Natural do Brasil”, de 1658, os tratados de Aristóteles, de 1607, e um antifonal – base para o canto gregoriano – de 1715. Os exemplares, impressos em latim, grego e alemão, estão bastante conservados também pela alta qualidade do papel usado na época.
Uma das curiosidades sobre os exemplares mais antigos é que alguns – como o comentário da bÃblia de 1500 – usavam os antigos papiros como material de encadernação. O monge conta que existem lombadas mais valiosas do que as próprias obras que carregam. Como grande parte dos livros raros possuem edições mais recentes, as obras raras ficam restritas à conservação museológica.
“Essa biblioteca é uma descoberta diária. Eu não sei todas as obras que estão aqui. Vamos andando pelos corredores e descobrindo”, revela o monge bibliotecário. Apenas 25% do acervo está digitalizado. Os outros 75% estão catalogados em fichas de papel dispostas em um antigo armário de ferro. Os livros novos e de consulta aos alunos da faculdade têm prioridade na digitalização. “à um processo lento. Sinto que vou sair daqui e ainda deixar essa tarefa para o próximo.”
Acervo com mais de mil obras e livros raros é aberto a crianças em SP
0Publicado em Folha de S.Paulo
São 10 mil itens, que formam a maior coleção de uma companhia privada na América Latina. O acervo engloba obras de arte, documentos, objetos e livros, que retratam vários momentos da história do Brasil. Parte de tudo isso estará à disposição de crianças em São Paulo.
Ao longo de todos os fins de semana de janeiro, o público pode viajar pela história no Espaço Olavo Setubal, no Itaú Cultural. O espaço, que existe desde 2014, receberá visitas guiadas e gratuitas para ver as 1.300 obras expostas, pertencentes às coleções Brasiliana e Numismática. Há obras de artistas como como Frans Post, Rugendas e Debret, além das primeiras edições de escritores como Machado de Assis e Castro Alves.
Há ainda ilustrações de indÃgenas feitas pelos primeiros portugueses que desembarcaram em nossa costa na época do Descobrimento e outros objetos colecionados por Setubal (1923-2008) desde 1969.
Há seis diferentes possibilidades temáticas para conhecer o espaço: os visitantes podem saber mais sobre as aves brasileiras, conhecer cenários da paisagem do paÃs, usar um mapa para colher pistas através dos elementos da coleção, brincar de jogo da memória com a história do Brasil ou explorar o desconhecido de forma investigativa, como se fossem navegadores europeus se lançando ao mar.
Cada atividade apresenta um recorte diferente, e todas buscam interagir com o público e seus sentidos, trazendo propostas dinâmicas que vão além da mera observação das peças. As visitas são guiadas e, por meio de uma conversa, as crianças e suas famÃlias decidem qual caminho querem seguir no acervo.
PARA CONFERIR
Espaço Olavo Setubal
ONDE Espaço Olavo Setubal – Itaú Cultural (av. Paulista, 149 – 4º e 5º andar)
QUANDO até 31/1; sáb. e dom., das 16h às 17h
QUANTO grátis