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Em rara entrevista, Elena Ferrante fala sobre a série baseada em seu livro ‘A Amiga Genial’
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Vida real. ‘Não tem nada a ver com leitura. As crianças estão aqui para fazer parte do show business’, diz Ferrante Foto: Nadia Shira Cohen/The New York Times
Escritora demorou dias para conversar com a reportagem do ‘The New York Times’
Jason Horowitz, no Estadão [via New York Times]
Contatei a escritora Elena Ferrante, que prefere permanecer anônima e escrever sob pseudônimo, para uma reportagem que fiz para o NYT sobre a seleção de crianças de Nápoles para protagonistas de uma minissérie baseada em seu romance A Amiga Genial – no Brasil, acaba de sair o último volume da tetralogia napolitana, A História da Menina Perdida.
Elena demorou dias para falar comigo, mas o que ela disse compensou. Ela falou sobre o que significa para uma escritora ter sua principal obra adaptada para a tela, ver crianças comuns representando seus personagens, qual foi sua contribuição para a produção e se ela acha que a série vai decolar como Game of Thrones.
Como você se sente vendo essas crianças de Nápoles, muitas delas de bairros pobres, fazendo fila na esperança de ser Lila e Lenù? Ao ver seu trabalho entrar na vida de crianças não muito diferentes daquelas de que você fala?
Para mim, é uma mudança radical. Os personagens, seus bairros, foram criados em palavras, mas acabaram saindo da literatura para a tela. Deixam o mundo dos leitores para ingressar no mundo muito maior dos espectadores. Encontram pessoas que nunca leram sobre eles, e outras que nunca lerão. É um processo que me intriga. A substância dos livros é retrabalhada segundo outras regras e prioridades, e sua natureza muda. As crianças que aparecem para entrevistas são o primeiro indício disso. Elas sabem pouco, ou nada, de livros. São espectadores que esperam tornar-se atores, por diversão ou esperança de sucesso.
Você descreve com precisão os personagens, e assim o diretor de elenco, o diretor e os produtores do filme têm uma ideia clara do que procurar. E eles acham que meninos e meninas criados em ambientes hostis são mais aptos a captar o espírito dos personagens. E você, o que acha? Prefere crianças que nunca tenham atuado (há algum risco nisso!) ou crianças com alguma prática de atuação?
Crianças que atuam representam a imagem que adultos têm de crianças. As que nunca atuaram têm mais chances de fugir de estereótipos, especialmente se o diretor encontrar o equilíbrio entre verdade e ficção.
Muitas dessas crianças, vamos ser claros, nunca ouviram falar de Elena Ferrante ou de romances napolitanos. A maioria pensa em TV como estrelato. Você, que evita cuidadosamente o caminho do estrelato, está preocupada com que a histeria em torno da seleção de elenco possa alimentar essa obsessão por celebridade hoje comum a tantos jovens?
Elas são crianças que se espelham nos mitos do cinema, da televisão, não no mundo da escrita. Querem estar nas telas, no palco, ser estrelas. Não é culpa delas. É do ar que respiram do mundo adulto. Fazer parte da televisão é uma das maiores aspirações das massas. Qualquer um, pobre ou rico, culto ou inculto, vê numa seleção de elenco como essa uma oportunidade extraordinária.
E você, vê aí uma oportunidade de apresentar a essas crianças os prazeres da leitura? Não falo só de seus livros, mas de livros em geral.
Gostaria, claro, que isso acontecesse. Mas a oportunidade de que estamos falando tem pouco a ver com leitura, se é que tem alguma coisa. As crianças estão aqui para fazer parte do show business. Isso não significa que algumas não venham a descobrir que tudo começou com um livro, que por trás do mundo do show business, com seus meandros e seu dinheiro, sempre existe, embora em posição secundária, o poder da escrita e da leitura.
Qual será o impacto dessa produção sobre a imagem de Nápoles, depois da abordagem nada lisonjeira da cidade na popular série de TV Gomorra?
Cidades não têm energia própria. A energia deriva de sua história, do poder de sua literatura e arte, da riqueza emocional de eventos que nela ocorram. Espero que essa narrativa visual desperte emoções autênticas, sentimentos complexos e até contraditórios. São essas coisas que nos fazem amar as cidades.
Você pretende avaliar as crianças antes de elas entrarem oficialmente para o elenco? Assegurar que correspondam mesmo a seus personagens?
Não tenho essa aptidão. Gostaria, claro, de influenciar, mas teria de fazer isso com muito cuidado e sabendo que não adianta nada eu dizer que “Lila tem pouco ou nada a ver com esse corpo, esse rosto, esse jeito de movimentar-se”, etc. Nenhuma pessoa de verdade vai preencher exatamente a imagem que eu ou um leitor tenha na cabeça. Isso acontece porque o mundo do texto, embora defina as coisas, por sua própria natureza deixa muito para a imaginação do leitor. A imagem visual, ao contrário, diminui esse espaço de imaginação. Deixa sempre de fora alguma coisa que as palavras inspiram, alguma coisa que conta.
Qual foi seu envolvimento com a produção? O diretor e produtores me disseram que você acrescentou coisas ao roteiro e os ajudou a desenhar o cenário perto de Caserta. Como é esse cenário?
O bairro em questão é um amálgama de diferentes lugares de Nápoles que conheço bem. É sempre esse o caso quando escrevo sobre pessoas ou coisas. Não sei o que acontecerá na tela. Por enquanto, minha contribuição para o cenário limitou-se a algumas observações sobre a fidelidade do visual. Quanto à colaboração com o roteiro, não sei escrever roteiros, não tenho a técnica, mas leio tudo e mando notas detalhadas. Não sei se eles vão levar em conta. É muito mais provável que minhas notas sejam usadas mais tarde, na redação do texto final.
Eles também me disseram que você imagina visualmente a série como um conto de fadas, dando a entender que não precisam ter medo de ir além do livro e apresentar vilões como monstros, etc. Que grau de fidelidade você espera?
Não, não, trata-se de um conto realista. É a infância colorida por elementos fantásticos – Lila, seguramente, é mostrada assim. Quanto à fidelidade ao livro, espero que seja compatível com as necessidades da narrativa visual, que usa recursos diferentes daqueles da escrita para obter os mesmos efeitos.
A HBO está envolvida na produção. Você espera, ou teme, que a série se torne o próximo fenômeno global, um Game of Thrones italiano?
Infelizmente, A Amiga Genial não tem esse tipo de trama.
TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ
Livros prometem fazer crianças dormirem em pouco tempo
0Recém-lançadas no Brasil, publicações fazem sucesso
Publicado em O Globo
“Vou contar uma história que vai fazer você ficar com bastante sono. Pode ser que ele chegue logo no começo, ou no meio, ou mais para o fim. Mas que vai chegar, vai. Se você fechar os olhinhos, ouvirá melhor o que vou contar”. Este é o início de “O coelhinho que queria dormir” (Companhia das Letrinhas), do psicólogo sueco Carl-Johan Forssén Ehrlin, que promete fazer as crianças relaxarem naquele que é considerado o momento mais crítico para muitos pais e mães: a hora de dormir. Recém-lançado no Brasil, o título já havia sido publicado como e-book pelo próprio autor na Amazon, tornado-se um dos mais vendidos da plataforma e ganhando traduções para inglês, espanhol, italiano e português.

A história escrita por Ehrlin não tem mistério: o coelho Roger está cansado, mas não consegue dormir; sua mãe resolve levá-lo ao Senhor Pestana, que sabe exatamente como resolver o problema. Um dos segredos estaria na entonação. Antes de começar a leitura com as crianças, os pais se deparam com algumas regras básicas nas primeiras páginas. Uma delas é que as palavras em negrito devem ser enfatizadas, e as que estão em itálico precisam ser lidas de forma mais calma e lenta. Quem lê o livro também recebe indicações para bocejar ao longo do texto e usar o nome da criança durante a história. As construções de frases e palavras, de acordo com o autor, foram escolhidas por seu efeito terapêutico.
O livro do sueco não está sozinho no mercado brasileiro. O também recém-lançado “A caminhada” (Coquetel), do americano Grant Maxwell, conta a história de Mason, um garotinho bastante ativo, e seus dois cachorrinhos, Rex e Totó, durante uma longa jornada. Pelo caminho, florestas, morros, animais e até escadas fazem com que ele embarque num mundo de sonhos.
— Tudo começou quando passamos a ter problemas para colocar o meu filho, na época com 2 anos, para dormir. Não é só uma coincidência o fato de ele também se chamar Mason e nós morarmos perto de uma floresta — brinca o autor. — A sinopse é simples, trata-se de um menino que vai caminhar pela floresta. Só que ele acaba indo para o subterrâneo, entrando cada vez mais fundo naquele cenário. Esse movimento de descida é uma maneira de fazer a criança se voltar para o seu inconsciente, relaxar. É como induzir a um estado de sonho.
Maxwell, que tem Ph.D em Língua Inglesa, acredita que o livro funcione com crianças dos 2 aos 8 anos. As mesmas indicações dadas por Ehrlin — bocejar, falar o nome da criança, usar um tom suave para certas palavras — estão lá.
— Quando você diz o nome da criança durante a história, faz com que ela se imagine dentro daquele cenário. Já a maneira como se lê o livro, as mudanças de voz, por exemplo, são tão importantes quanto o livro em si — afirma o autor.

Com a nutricionista Letícia Terra, que leu “A caminhada” com o filho Pedro, de 2 anos, a estratégia funcionou.
— Acho que não é nem a história em si, mas a maneira como ela é lida. Você vai falando devagarzinho em algumas partes, lê com calma, a criança relaxa naturalmente. Acredito que se você pegar outro livro e usar as mesmas técnicas, a criança também vai ficar menos agitada e conseguir ter bons sonhos — afirma.
A empresária Vanessa Santos testou “O coelhinho que queria dormir” com o filho Vicente, também de 2 anos, e tem tido bons resultados:
— Ele mesmo pede para ouvir, acho que gostou dos personagens. E não demora para pegar no sono.
A editora da Companhia das Letrinhas, Julia Schwarcz, endossa as falas das mães.
— Quando comecei a pesquisar na internet sobre o livro, fiquei impressionada com os comentários dos leitores. Eram todos na base do: “Mudou minha vida” ou “Funciona mesmo, recomendo para quem passa por esses problemas” — conta Julia. — É impressionante como as pessoas realmente sofrem com essa questão.
O sucesso parece ser garantido, mas ele não vem sem uma certa dose de polêmica. Questionado pelo “New York Times’’ se havia criado uma história chata para que as crianças logo se cansassem, o autor de “O coelhinho que queria dormir” afirmou que haveria um certo nível programado de chatice no livro. “(A história) não poderia ser muito interessante, mas também deveria ser interessante o suficiente a fim de evitar que as crianças se distraíssem com outras coisas durante sua leitura”, afirmou Ehrlin.
Para a educadora e escritora Andrea Ramal, a preocupação com a maneira como se lê, presente nos dois livros, é um aspecto bastante positivo.
De certa forma, fazer vozes ou falar alto e baixo durante a leitura ensina as crianças a interpretarem o texto. E os pais precisam exercitar isso, a atividade fica mais interessante — ressalta Andrea. — Por outro lado, não gosto da ideia do bocejo programado, ele não é real. Fazendo isso, o adulto acaba enganando a criança.
Outra questão abordada por Andrea é o cuidado necessário na hora de se escolher uma publicação para ler à noite.
— A leitura antes de as crianças dormirem tem um grande valor, que é o de ensiná-las a gostar dos livros, a ter apreço por eles. Se você se propõe a ler uma publicação que acha chata, é isso que a criança vai pensar sobre os livros em geral. Vale sempre ler vários tipos de história, variar a cada noite, não ficar apenas com um tipo de publicação — afirma.
MEC ressalta que incentiva formação, mas interesse de jovens pelo magistério cai
0Plano de carreira e valorização da profissão poderiam melhorar cenário, dizem especilistas
Publicado em O Globo
Os baixos salários, a falta de reconhecimento social da profissão, as péssimas condições de trabalho e o cansaço são os fatores que mais contribuem para o desinteresse dos jovens pelo magistério, segundo especialistas. Os mesmos aspectos desestimulam os professores de longa data a permanecerem nas salas. Como reportagem do GLOBO mostrou ontem, ao longo dos próximos seis anos, cerca de 40% dos professores do ensino médio terão condições de se aposentar, de acordo com um relatório do Ministério da Educação (MEC). O quadro fica preocupante quando constata-se que o número de formandos em cursos de licenciatura de disciplinas da educação básica vem caindo — 16% entre 2010 e 2012.
— Este já é um problema sistêmico. A rede estadual de São Paulo perde, por semana, oito professores. A prefeitura perde três. O jovem que entra no magistério tem um duro choque de realidade. Isso gera um desestímulo que, quando não o faz desistir, vai se arrastando até a aposentadoria — diz Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que defende uma melhor remuneração inicial e plano de carreira.
Pesquisadora da faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Paula Louzano sinaliza que, de acordo com os dados do Censo da Educação Superior de 2013, o maior problema é atrair profissionais formados em licenciatura para a carreira no magistério.
— Ser professor requer um saber específico, assim como para ser médico ou engenheiro. Mudar a percepção social de que qualquer um pode ser professor é essencial, além de uma valorização salarial e uma perspectiva de crescimento na carreira — comenta Paula.
O Ministério da Educação (MEC) ressalta que coordena estratégias voltadas à formação de professores, como o Parfor, que oferece cursos emergenciais presenciais de licenciatura; a Universidade Aberta do Brasil (UAB), com cursos de licenciatura e de formação inicial e continuada; e o Pibid, que visa a melhorar a educação básica fazendo uma ponte entre estudantes universitários e as salas de aula, mas cujos participantes chegaram a relatar atrasos no pagamento das bolsas este ano.
No estado do Rio, o subsecretário de Gestão de Pessoas da Secretaria de Educação, Antoine Lousao, garante que a pasta vem se resguardando para evitar gargalos com aposentadorias de professores. Segundo ele, a rede já chegou a ter carência de 12 mil profissionais em 2010. Hoje, são 500. A redução foi possível através de políticas de valorização salarial e aumento no número de concursos.
— Fazemos uma projeção de todas as possíveis aposentadorias no ano e, com base nisso, convocamos os aprovados em concursos. A falta que ainda temos se refere às áreas em que há carência de profissionais ou dificuldades geográficas — diz.
Game Of Thrones: Westeros deveria ser assim, segundo George R.R. Martin
0O próximo livro de George R. R. Martin está chegando. Não, não é aquele livro.
Bill Bradley, no Brasil Post
O autor falou recentemente sobre The World of Ice & Fire, seu novo livro que narra a história de Westeros. Durante a palestra, Martin revelou que o universo retratado na série Game of Thrones pode ser lindo, mas não é como ele imaginou que ficaria.
“Eu queria as versões precisas desses castelos. Nós tivemos um número de diferentes artistas desenhando em capas, cards e jogos. Alguns criaram belas imagens, mas não necessariamente precisas em relação ao mundo que eu descrevi”, disse sobre o cenário desenvolvido ao longo da série literária e televisão.
Para o novo livro – uma visão apurada sobre os conceitos, mitologias e cenários de GOT -, o autor disse que colaborou com os artistas que souberam como interpretar sua mente, extraindo paisagens de dentro dela. Veja agora como o mundo de Game of Thrones realmente deveria ser.
O Trono de Ferro
No que diz respeito à forma como o trono foi moldado para a série, o autor disse: “É um grande trono e se tornou icônico, mas não é realmente o meu Trono de Ferro … Neste livro você vai ver o meu Trono de Ferro”. Acima, uma visão de como seria o trono com base nos livros.
Winterfell
Sobre o trabalho de paisagem do artista Ted Nasmith, Martin disse: “Eu sabia que com Ted Naismith estava trabalhando com um dos grandes pintores de paisagens do mundo real e um cara que realmente fez grandes obras arquitetônicas, de modo que ele e eu trabalhamos muito próximos neste projeto”.
A Fortaleza Vermelha em King’s Landing
Ao falar sobre a Fortaleza Vermelha, Martin disse que as locações e paisagens da HBO são bonitas, mas nenhuma é exatamente o que ele descreveu no livro.
Castle Black e a Muralha
Segundo Martin, a Muralha de Adriano, na Escócia, serviu de inspiração para a criação de Castle Black. O autor disse que visitar o muro lhe deu um “profundo sentimento”.
Pedra do Dragão
Martin disse, a Pedra do Dragão foi uma das transposições visuais mais difíceis da série. Ainda assim, a descrição mais precisa da fortaleza está nos livros, ou no novo projeto do escritor.
The World of Ice and Fire: The Untold History of Westeros and the Game of Thrones foi lançado no último dia 28 de outubro nos Estados Unidos. No Brasil, o título ainda segue sem tradução e previsão de lançamento.