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Romances de Elena Ferrante guiam passeio por becos e praias de Nápoles
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Amigas tiram fotos da baía de Nápoles, com o Vesúvio ao fundo, na rampa SantAntonio a Posillipo
Iara Biderman, na Folha de S.Paulo
Descobrir Nápoles seguindo os passos da escritora Elena Ferrante ou de suas personagens é uma aventura proveitosa até para quem ainda não leu os livros de sua elogiada série napolitana.
Os quatro romances (“A Amiga Genial, “História do Novo Sobrenome, “História de Quem Foge e de Quem Fica” e “História da Menina Perdida, publicados no Brasil pela Biblioteca Azul) acompanham a vida das amigas Lenu e Lila, nascidas no fim da Segunda Guerra em um bairro da periferia de Nápoles.
Lenu, a narradora, tenta superar os limites impostos pela pobreza do bairro e se tornar uma escritora -enquanto Lila, a amiga audaciosa, manipula a vida de Lenu e de todos os vizinhos. No meio disso, o leitor mergulha na história de Nápoles, da Itália e de acontecimentos que definiram o mundo de hoje, como o feminismo, a luta de classes e o crime organizado.
Segui-las por ruas e becos de Nápoles é a melhor forma de perceber a marca da cidade, o contraste entre periferia e centro, interior e mar, riqueza e miséria. Ao mesmo tempo, é uma viagem genial caminhar com as amigas pelo caos napolitano e os marcos turísticos da capital de Campânia, no sul da Itália.
Não à toa os livros se tornaram um fenômeno mundial de vendas, e o primeiro volume já está sendo adaptado para a televisão pela HBO, que deve estrear uma minissérie em 2018.
O nome verdadeiro da autora, porém, continua um mistério: Elena Ferrante é um pseudônimo, a autora se recusa a aparecer e só concede raras entrevistas por e-mail.
ONDE O TURISTA NÃO VAI
O melhor jeito de entrar na Nápoles de Ferrante é por trem. Da janela, você busca avistar a estação central, mas tudo que vê é a periferia, a mesma de qualquer cidade, com seus prédios cinzentos, torres elétricas e muros de pedra, como descreve a autora.
Gianturco, um ponto antes da estação central de Nápoles, é a parada no cenário onde as protagonistas Lila e Lenu nasceram, cresceram, fugiram ou ficaram. Saindo, à direita, chega-se ao túnel que as amigas percorreram quando, pela primeira vez, tentaram passar os limites do bairro.
Uma das bocas do túnel está fechada para carros. Há alguns anos era usado para festas e shows alternativos, mas os eventos foram proibidos pela prefeitura. Hoje, só há escuridão, umidade e grafites.
Na saída estende-se a avenida Emanuele Gianturco, o estradão. Pouco depois de se passar por um posto de gasolina (será ainda o mesmo em que o personagem Antonio Cappuccio, filho da viúva louca, trabalhava?), vira-se à direita, para entrar no coração do bairro: Rione Luzzatti, tão difícil de chegar (para os turistas) quanto de sair (para os personagens).

Praia no vilarejo de SantAngelo, onde o passeio é subir pelas ruas formadas por escadas de pedra, rente às casas brancas e floridas.
Os prédios de quatro andares de Luzzatti foram construídos para a população sem recursos desabrigada após a Segunda Guerra. Das fábricas erguidas por lá só restam os muros semiarruinados e, no hoje bairro-dormitório, ruas praticamente desertas.
Um dos seres vivos encontrados pela reportagem é o carroceiro Enzo. Nos primeiros livros da série, o também carroceiro Enzo Scanno vendia verduras.
O Enzo real vende peixes e frutos do mar, mas só parou para descansar em frente à igreja da Sagrada Família, onde Lila se casou. Não há para quem vender seus pescados.
Ele nunca ouviu falar em Ferrante ou nos seus livros. “Não sou uma pessoa que lê”, desculpa-se, como provavelmente faria qualquer personagem do bairro da ficção.
Quando a narradora Lenu já é uma escritora consagrada e encontra Lila pela última vez, em 2005, percebe que o bairro permanecera idêntico e, no entanto, a paisagem em torno tinha mudado: “No lugar dos pântanos e da velha fábrica de conservas, há o brilho de espigões de vidro”. É mesmo o que se vê agora para além dos muros da igreja.
Rione Luzzatti satisfaz o fetiche de ver “a casa” dos personagens e permite ao leitor mais aficionado passar pelo túnel de volta ao estradão da Emanuele Gianturco que levaria as amigas ao mar. Mas, como na discussão sobre a verdadeira identidade de Elena Ferrante, talvez aqui seja mais importante a ficção do que a realidade.
BECOS E VIELAS
Para completar a imagem do bairro arquetípico descrito nos livros, o melhor é pegar de volta o trem na linha 2 da rede metropolitana até a estação Cavour, duas paradas após a Gianturco.
Dali chega-se a Sanità, bairro popular onde artesãos, comerciantes, estudantes, artistas e camorristas convivem em ruas estreitas e caóticas.
Ao entrar pela rua Vergini, ocupada por uma feira livre diária, o primeiro impulso dos leitores da série napolitana é buscar uma criança perdida entre as barracas de frutas, verduras, panelas, roupas e sapatos.
É fácil se perder em Sanità –e isso faz parte do jogo. Ao perambular sem destino pelas ruas, cruza-se com marceneiros ou sapateiros conversando em frente a pequenos negócios, com moradoras que estendem seus varais até a janela da vizinha da frente e com o som incompreensível do dialeto napolitano.
Ao final da via Vergini, um desvio à direita leva à praça Miracoli, de onde se avista do alto o emaranhado de becos e vielas do bairro. Descendo por um desses “vicos”, em direção a via Sanità, chega-se à igreja San Vicenzo.
Ao contrário da fechada e vazia Sagrada Família, em Rione Luzzatti, esta está sempre aberta e cheia, e não é difícil topar com um casamento.
A visão dos convidados em trajes de festa sob um calor de 40 graus remete à cerimônia de casamento do livro. A impressão é mais forte quando se percebe, na praça da igreja, um monumento a um jovem morto em uma disputa da Camorra (máfia napolitana). Quando Lenu volta ao bairro, em 2005, encontra o cadáver de Gigliola Spagnuolo, mulher do camorrista Michele Solara, no canteiro ao lado da igreja.

Barquinhos levam os turistas de SantAngelo até a praia de Maronti por três euros (para uma travessia de três minutos), mas dá para ir caminhando numa escalada de cerca de uns 20 minutos.
O bar-confeitaria da família Solara talvez não exista, mas dá para sentir o gosto de sfogliatelles e canolis apreciados pelos personagens de Ferrante (e por toda a torcida do Napoli) na Poppella.
Hoje em uma pequena loja moderna na via Arena Sanità, a Poppella foi inaugurada no bairro na década de 1920 e era frequentada pelo comediante napolitano Totó (1898-1967), uma das três figuras mais cultuadas da cidade (as outras são San Gennaro e Diego Maradona, que jogou no clube local).
No início deste ano, dois motociclistas encapuzados atiraram na vitrine da confeitaria. Não se sabe se foi coisa dos Solara
Livros de Mario Vargas Llosa inspiram rota turística por capital peruana
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1º.mar.2016 – O escritor peruano Mario Vargas Llosa no lançamento de “Cinco Esquinas”, em Madrid Imagem: AFP
Fernando Gimeno, no UOL
“Em que ponto o Peru se fodeu?” É a pergunta mais famosa da obra literária de Mario Vargas Llosa, cuja resposta é complicada, e só se sabe o lugar onde ela foi formulada, agora parte de uma rota turística inspirada nos livros do Prêmio Nobel de Literatura de 2010.
Caminhar por Lima é se transformar, às vezes quase que sem perceber, em um dos personagens que habitam as cenas narradas por Vargas Llosa, como Zavalita, em “Conversa no Catedral”; o poeta, de “A Cidade e os Cachorros”, ou Cuéllar, em “Os Filhotes”. Esses três sucessos do escritor peruano foram escolhidos pela Comissão de Promoção do Peru para a Exportação e o Turismo (Promperú) para que os turistas que visitam a capital peruana possam conhecer, por exemplo, as ruas, avenidas e parques citados nas histórias.
O tumultuado cruzamento das Avenidas Tacna e Colmena, no centro histórico de Lima, pode ser o ponto de partida do roteiro. Lá, entre os gritos de ambulantes e buzinas dos carros, é onde Zavalita fez a famosa pergunta.
“Da porta do La Crónica, Santiago contempla a Avenida Tacna, sem amor: automóveis, edifícios desiguais e desbotados, esqueletos de anúncios luminosos a flutuar na neblina, o meio-dia cinzento. Em que ponto o Peru se fodeu?”, escreveu Vargas Llosa.
Pela Colmena, agora chamada de Nicolás de Piérola, se chega à Praça San Martín, onde ficava o discreto bar Negro Negro – hoje, De Grot Bar – e onde Carlitos garantia ter deixado salários inteiros. De lá, o visitante pode chegar ao Jirón de la Unión, maior rua do centro de Lima, para andar e encontrar as casas mais centenárias e que inspiraram Vargas Llosa a escrever a peça teatral “El loco de los balcones”.
Do centro de Lima, se passa ao rico bairro de Miraflores, presente em quase todas as obras do prêmio Nobel, especialmente a região de Ferré e suas casas antigas. O turista também pode caminhar pelo popular bairro de Surquillo, cujas ruelas aparecem em muitos trechos dos romances para mostrar a classe trabalhadora.
Muito perto dali fica o boêmio bairro de Barranco. Até pouco tempo, Vargas Llosa viveu nessa região, da mesma forma que muitos escritores e artistas peruanos, como Julio Ramón Ribeyro.
Além dos lugares sugeridos no roteiro oficial, existem outros vários pontos da cidade citados nos romances de Vargas Llosa, como o Colégio Militar Leoncio Prado, de frente para o mar, no bairro de Magdalena del Mar, onde também se passa grande parte de “A Cidade e os Cachorros”.
Por lá também ficam as cinco esquinas dos Barrios Altos e que dão título ao seu mais recente livro, lançado no ano passado. Perto do centro de Lima e entre outras atrações, é lá onde fica a majestosa Quinta Heeren, que no passado foi casa de famílias ricas e sede de embaixadas, mas agora praticamente caiu no esquecimento por conta da degradação e da insegurança das ruas em volta.
Com estes pontos, a rota da Lima de Mario Vargas Llosa está pronta para todo aquele que tenha um mapa, um livro do escritor e disposição para caminhar por uma das maiores capitais da América do Sul.
No Recife, aplicativo registra literatura e poesia que estão espalhadas pela cidade
0Publicado no Portal Aprendiz
Transitar pelas ruas e avenidas para ir de um lugar ao outro faz parte da rotina de qualquer pessoa que vive em uma grande cidade. Na maioria das vezes, é algo que fazemos quase no modo automático, sem nos darmos conta que por trás de cada rua, de cada praça e de canto da cidade, há uma história.
Recife, capital de Pernambuco, é um desses lugares, repleto de construções históricas e locais que foram homenageados por grandes poetas e escritores.
“Gosto muito de literatura, sobretudo a pernambucana. Um dia, conversando com uma amiga, eu percebi que vários poetas e escritores faziam referência a alguma rua da cidade. Então, pensei que seria muito interessante se as pessoas pudessem conhecer as ruas de Recife por meio de um viés literário’’, conta o diretor de cinema Eric Laurence, idealizador do projeto.
Foi a partir dessa conversa com a escritora Luzilá Gonçalves que Eric teve a ideia de criar o aplicativo Ruas Literárias do Recife, lançado em setembro de 2016.
Por meio de um serviço de geolocalização, o app mostra no mapa os pontos da cidade que foram citados em alguma obra literária. Ao passar pelo pin, o usuário tem acesso ao trecho da obra e informações sobre o autor, que podem ser salvas como favoritas ou compartilhadas nas redes sociais. É possível também encontrar os poemas buscando por nomes de ruas da cidade e escritores. E o app ainda traz um quiz sobre as obras.
O projeto foi viabilizado por meio de um edital do Funcultura (Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura da Secretaria do Estado) e demorou dois anos para ser concretizado.
Eric conta que o processo que levou mais tempo para ser realizado e exigiu muito cuidado foi a parte de pesquisa. A etapa durou cerca de nove meses e contou com o apoio da amiga Luzilá Gonçalves. “Era importante que a gente mostrasse a literatura de vários ângulos, desde autores mais tradicionais, a poetas marginais e contemporâneos, imprimindo diversos olhares sobre a cidade.”
Como explica o cineasta, a proposta do aplicativo vai além de permitir aos cidadãos conhecerem e valorizarem o patrimônio histórico da cidade onde vivem. “A partir do momento em que você passa a enxergar as ruas por um olhar poético, você estabelece um laço afetivo com a cidade e cria uma nova relação com o espaço urbano, gerando uma sensação maior de pertencimento”.
Idosa escreve livros sobre viagens de 500 dias por países de 4 continentes
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Arcelina Helena, de Goiás, visita a Muralha da China (Foto: Arquivo Pessoal/Arcelina Helena)
Arcelina Helena, 73, saiu de Goiás para peregrinações no exterior.
Última viagem foi à China, onde passou 100 dias conhecendo a cultura local.
Murillo Velasco, no G1
A jornalista e professora aposentada Arcelina Helena Públio Dias, de 73 anos, saiu de Goiás e passou 500 dias em quatro continentes para depois publicar livros sobre suas experiências. Depois de se aposentar da sala de aula, ela teve a ideia de viajar para escrever sobre o sofrimento e a resistência do ser humano nos diferentes cantos do mundo. Católica, ela contou com o apoio de alguns religiosos para cumprir a missão.
Em entrevista ao G1, Arcelina falou sobre a aventura vivida ao longo das viagens, que foram divididas em cinco etapas, cada uma delas com duração de 100 dias de peregrinação. Ela já publicou quatro livros sobre as visitas feitas no continente americano, na África e Europa. A última peregrinação da jornalista terminou no último dia 18 de novembro, quando chegou de viagem da China.
“Foi um desejo pessoal que agora tenho realizado por completo. Apesar da idade, que pra mim é pouca, tenho uma vida bastante ativa. Depois de me aposentar, coloquei este propósito de vida. Queria conhecer as nuances do sofrimento e da resistência dos seres humanos nas mais diferentes culturas. Com todas as minhas limitações, consegui conhecer coisas inimagináveis”, contou.
A primeira parte das viagens foi feita para Colômbia, Cuba, Bolívia, México e Estados Unidos e deu origem ao livro “Finais de Esperança”. A peregrinação feita nas “Américas” começou com um estudo feito por ela sobre os trabalhos de um grupo religioso com moradores de rua da Colômbia.
No México, Arcelina conviveu com cidadãos que tentavam atravessar ilegalmente a fronteira com os Estados Unidos, onde conheceu uma família que fazia um trabalho com moradores de rua.
“Peguei países em plena guerra. No centro e norte da América aquele desespero por atravessar a fronteira para os Estados Unidos. Pessoas que davam tudo aos chamados coiotes para acabarem morrendo no deserto. Entre todo o sentimento que eu vi, consegui perceber finais de esperança, e acabou sendo este o título do primeiro livro desta peregrinação que só começava”, disse.
Depois de ficar imersa nas culturas latina e norte-americana, Arcelina passou 100 dias na África, passando por alguns países do Oriente Médio. Ela contou que pode conhecer a Angola, que passava por uma guerra civil, e África do Sul alguns anos após a libertação do ex-presidente Nelson Mandela. Além disto, visitou os palestinos em Israel e terminou a peregrinação no Líbano.
O trabalho rendeu o livro “Perdão, África, perdão”. “Eu sofri muito psicologicamente durante esta peregrinação, porque pensei no fato do Brasil ter vivido 300 anos de escravatura. Isto é surreal. Ficava me torturando vendo aquelas culturas belíssimas e imaginando que todas elas foram trazidas da forma que foram para cá. Sofri com o passado, com o que a gente vive de preconceito no presente e com o medo do futuro”, contou.
Viagens pelo Brasil
A terceira peregrinação foi feita pela Europa e rendeu o livro “Além do Silêncio”, que contou a história dos mosteiros ecumênicos presentes no continente. Depois de chegar ao Brasil, Arcelina embarcou na quarta peregrinação, aqui mesmo no país, em São Félix do Araguaia, no estado do Mato Grosso.
A jornalista conta que queria contar a história da cidade e do bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga. Segundo ela, o religioso, que é reconhecido internacionalmente pela luta em defesa dos povos da Amazônia e grupos excluídos, foi um dos símbolos da resistência à ditadura militar.
“Eu abri mão de ir para a Oceania para fazer um livro sobre heroísmo no meu país, no Brasil. A história de Pedro Casaldáliga é riquíssima. Ele deu apoio aos excluídos, aos pobres e os incentivou a levantar os rostos para a coisa terrível que foi a tomada de terra sofrida durante a ditadura militar. E o melhor da resistência dele, foi que foi sem guerra, uma resistência de fé e trabalho”, reforçou.

Arcelina Helena visitou vários templos na China (Foto: Arquivo Pessoal/Arcelina Helena)
Expedição China
A última, e segundo ela a mais difícil, das viagens terminou no dia 18 de novembro, quando chegou de 100 dias de viagem na China. Arcelina conta que estudou mandarim e a cultura chinesa antes de embarcar. Apesar de ter mergulhado no idioma, a jornalista disse que não conseguiu se comunicar muito bem.
“Foi uma viagem, como dizemos aqui em Goiás, bastante custosa. O que me salvou foi o inglês. Porque em chinês eu só conseguia fazer a pergunta, daí eles me respondiam e eu não entendia nada. O jeito era sair perguntando ‘do you speak english?’ em todos os cantos até achar alguém pra ajudar, quando achava”, brincou.
Durante a viagem à China, Arcelina buscou fazer uma imersão na cultura e buscar como era a prática do catolicismo no país. Ela revelou que, ao contrário do que pensava, existem dezenas de igrejas que realizam missas nos mais diversos idiomas e sem perseguição política ou religiosa do governo chinês.
“Foi uma coisa que me surpreendeu. Acho que pelo fato de hoje a China ter gente de todo o canto, tem missas católicas apostólicas romanas com padres chineses e rezadas de tudo quanto é língua. Uma realidade muito diferente do que a gente escuta os religiosos pregarem aqui no Brasil”, revelou.
A jornalista conta que teve muita dificuldade com a alimentação e que não consegue descrever exatamente o que comeu ao longo da viagem.
“Eu não sei o que eu comi, porque olhava o prato, achava bonito, aí vinha tudo picadinho misturado. Era um arroz grudento. Fui até a um restaurante brasileiro, onde comi feijoada. Eu comprava coisas que eu identificava apenas e mesmo assim era surpreendida”, afirmou.
Pela limitação do idioma, Arcelina diz que não conseguiu conhecer lugares extremamente pobres do país. “Eu não tive como ir no meio dos pobres excluídos da China, porque eles não falam nenhuma língua que eu possa me comunicar com eles. Eu não tive nenhum apoio para que pudesse fazer isso e sozinha, na minha peregrinação, não era possível”.

Durante viagem ela conheceu a Universidade Internacional de Dailan (Foto: Arquivo Pessoal/Arcelina Helena)
Memória
A idosa contou que andava o dia inteiro durante as viagens, não passou mal por causa do novo tipo de alimentação, mas que enfrentou problemas por conta da “memória fraca”. Ela disse que preparou um celular moderno para registrar a viagem, mas esqueceu o aparelho quando passou por São Paulo antes de embarcar para Pequim.
“Saúde eu tenho. Consegui andar, comer as comidas, mas a minha memória é fraquinha. Sou antiga, levei a caderneta. Pretendia ir de gravador e tudo mais. Super preparei o telefone e esqueci em São Paulo. Mas a minha grande descoberta é que Deus realmente está do meu lado, porque foi cada situação”, contou.
Religiosa, Arcelina se assustou ao chegar a Shangai e se hospedar em um hotel frequentado por garotas de programa da região. Outro desafio vivido por ela foi o fato de ter viajado mais de 100 km entre Hong Kong e Guangzhou. Quando ela chegou à cidade, lembrou que todo o dinheiro que ela tinha havia ficado no cofre do hotel em Hong Kong.
“Eu precisei pegar dinheiro emprestado com um padre para passar os dias em que eu ficaria em Guangzhou e depois voltei para o hotel para buscar o dinheiro que havia guardado. A minha memória é desse jeito, impecável”, brincou.