Posts tagged superação

Ex-morador de rua se forma em Direito e publica livro

0

Carlos Viegas morou nas ruas de Belo Horizonte e chegou até a ser internado na Febem do Estado
carlosviegas2509div
Publicado no Terra

O mineiro Carlos Viegas, 50 anos, é um exemplo de superação. Depois de viver como morador de rua na infância em Minas Gerais, na década de 1980, ele dedicou-se aos trabalhos e aos estudos para alcançar uma posição de destaque: formou-se e pós graduou-se em Direito, é funcionário público na área da assistência social e até escreveu um livro.

Carlos morou nas ruas de Belo Horizonte quando criança por aproximadamente seis anos e chegou até a ser internado na Febem-MG (Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor) por cerca de dois anos. Ao sair de lá, conseguiu um emprego como metalúrgico em Betim, em julho de 1984, e viu sua vida tomar novos rumos.

De 1987 a 1992, Carlos foi diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim. Um ano depois, tornou-se assessor legislativo da Câmara Municipal da cidade e iniciou o projeto de conselho tutelar em Betim. Elegeu-se vice-presidente da organização em 1994 e ficou no cargo até 2001.

No entanto, Carlos Viegas buscou novas vitórias em 2002: foi aprovado em um concurso público da prefeitura de Betim e, também, no vestibular de Direito. Ele concluiu o bacharelado em 2009, pela Faculdade Asa de Brumadinho.

Para obter o registro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Carlos Viegas se matriculou em um curso preparatório online em 2011 e foi aprovado no exame da Ordem, obtendo o direito de exercer a profissão de advogado.

A evolução profissional do ex-morador de rua não estacionou: ele concluiu a pós-graduação em Direito e Processo do Trabalho em 2013, pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi) e lançou o livro “A Polêmica Súmula 584 do STF e Segurança Jurídica no Direito Tributário”, pela Editora Baraúna.

“Acredito que o ser humano tem que aceitar os desafios que a vida proporciona, justamente porque são por intermédio deles que nós descobrimos o real sentido da vida”, conta Carlos Viegas. “Sempre acredito na capacidade de superação do ser humano nas mais variadas dificuldades que possamos enfrentar”, acrescenta.

O educador e advogado também detalha a sigla que norteia sua vida. “POF: persista, ouse e tenha fé. Só assim descobriremos o real sentido da vida, que é dignidade, respeito e perseverança”, acrescenta.

Hoje em dia, Carlos Viegas concilia o cargo de educador social com o exercício do Direito na área trabalhista e previdenciária e ainda concluiu uma nova pós-graduação pela UFMG, de Especialista em Políticas Públicas em 2014. Possui artigos doutrinários publicados em vários sites e revistas especializadas como Âmbito Jurídico, Informativo Consulex, O Estado de Minas, dentre outros.

Ele só pode piscar os olhos e, ainda assim, dá aulas na UFJF

0

o-medico-e-professor-vanderlei-corradini-lima-53-anos-e-portador-da-esclerose-lateral-amiotrofica-ela-com-sintomas-diagnosticados-em-2010-mas-mesmo-tendo-de-conviver-com-as-extremas-limitacoes-1410383934279_300x420
Rayder Bragon, do UOL

O médico e professor Vanderlei Corradini Lima, 53 anos, é portador da esclerose lateral amiotrófica (ELA), com sintomas diagnosticados em 2010. Mesmo tendo de conviver com as extremas limitações físicas impostas pela enfermidade, ele reencontrou a felicidade de continuar na profissão ao ser convidado para ministrar aulas na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), localizada na cidade de Juiz de Fora a 278 km de Belo Horizonte.

Pessoas famosas passaram a encarar o “desafio do balde de gelo” como maneira de atrair atenção para a enfermidade. Há também o mote de o desafiado fazer uma doação em dinheiro a uma instituição que trata pacientes com a doença.

“A doença me tirou muita coisa, não falo, não ando, não como, não saio de cima de uma cama, mas não tirou minha capacidade de servir e enfim ser feliz”, descreveu Lima ao UOL em entrevista concedida por e-mail. Ele afirmou ter conseguido trabalhar até julho de 2011. Atualmente, ele vive com a mulher e dois filhos na cidade de São Sebastião do Paraíso, cidade no sul de Minas Gerais e distante 400 quilômetros da capital mineira.

Há três semestres, o profissional atua como professor convidado, no curso de medicina da universidade, e no qual interage a distância com alunos do 2º período na disciplina fisiologia médica, que aborda tópicos de neurofisiologia.

Ele dispõe de computador munido de um programa e um leitor infravermelho que captam os movimentos dos globos oculares, que não foram afetados pela doença. Por meio de um mouse e um teclado virtual, ele consegue interagir com a máquina e utilizá-la normalmente.

“Há uma página especifica no site da universidade com uma plataforma virtual de ensino a distancia. Cada semana um novo caso clinico é discutido entre professores, monitores e alunos”, referindo-se à plataforma utilizada para ensino a distância (Moodle). Segundo ele, o retorno dado pelos alunos foi considerado positivo.

“Meu intuito sempre foi de agregar a disciplina uma visão prática e humanista, gerando um ensino mais próximo da realidade que irão enfrentar. O retorno positivo foi confirmado pela participação dos alunos. Especificamente em relação ao caso clinico da ELA podemos aproveitar ao máximo, já que eles tinham a visão de um paciente e um médico na discussão”, disse.

Ele participa dos fóruns de discussão online promovidos por meio da plataforma abordando aspectos práticos e psicobiossociais dos casos discutidos, além de responder a questionamentos feitos pelos universitários do curso.

o-medico-e-professor-vanderlei-corradini-lima-53-anos-e-portador-da-esclerose-lateral-amiotrofica-ela-com-sintomas-diagnosticados-em-2010-mas-mesmo-tendo-de-conviver-com-as-extremas-limitacoes-1410383855189_615x300
Experiência

Responsável pelo convite feito ao médico, a professora Carla Malaguti, que ministra aulas de fisiologia no curso de medicina da UFJF, disse ter visto que Lima postava mensagens nas redes sociais. Assim, ela vislumbrou uma maneira de trazer a experiência do médico para seus alunos.

“Como ministro aulas de neurofisiologia no curso de medicina, na qual são abordados o funcionamento do sistema nervoso, bem como as disfunções neurológicas como a ELA, imaginei que com a experiência do doutor Vanderlei, enquanto médico e sua vivência como paciente vítima dessa doença, seria muito oportuno e produtivo incorporá-lo nas discussões de casos clínicos”, informou.

A professora afirmou ter tido o respaldo dos diretores do curso e disse que a interação entre os alunos e Lima é “exemplo a ser seguido”.

“Ele trouxe a riqueza das suas experiências profissionais, argumentando, apimentando e desafiando os acadêmicos a buscarem respostas muitas vezes não encontradas em livros ou artigos. Os alunos ficaram mais interessados, curiosos e motivados no saber ao lidar com um caso real de uma doença debilitante como a ELA através de uma nova tecnologia de comunicação”, contou.

Carla Malguti confidenciou que há planos de utilizar o conhecimento de Lima nos cursos de fisioterapia e psicologia.

“A história do doutor Vanderlei mostra como pessoas limitadas por aspectos físicos podem romper fronteiras e se manterem produtivas, pois além de poderem contribuir com a sociedade, podem também manter parte da satisfação com a vida ao se sentirem úteis”, salientou. Carla disse que a divulgação da doença é importante para mobilizar a sociedade com a arrecadação de fundos que permitam pesquisas para tentar encontrar a cura da doença ou minorar os efeitos dela nos portadores.

Escritor

“Minha história talvez seja diferente da maioria dos pacientes, pelo fato de ser médico, eu mesmo fiz o diagnóstico clínico, e, após a confirmação, preparei minha vida e minha família para tudo que iria enfrentar. Nessa situação é fundamental a aceitação”, disse.

Recentemente, ele escreveu um livro, no qual aborda a doença, e se prepara para a confecção de outro.
“Na verdade, o que deu origem ao livro EU E ELAS, foram as várias conversas pelas redes sociais, onde percebi que esperavam de mim um médico de almas. Assim pude servir e ser útil, minha verdadeira vocação, escrevendo crônicas”, avaliou. O título faz referência a sua experiência com a medicina, a música e a doença. O próximo livro, segundo ele, terá o título de “O Médico de Pijamas e suas Estórias”.

Médico com doença do ‘desafio do balde de gelo’ dá aula só com olhos

0

Sem controle sobre músculos,Vanderlei Corradini leciona à distância.
Esclerose lateral amiotrófica afeta neurônios responsáveis por movimentos.

Médico de São Sebastião do Paraíso, MG (Foto: Luciano Tolentino / EPTV)

Médico de São Sebastião do Paraíso, MG (Foto: Luciano Tolentino / EPTV)

Mariana Lenharo, no G1

O médico Vanderlei Corradini Simões de Lima, de 53 anos, já não tem mais controle sobre os músculos do corpo. Diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA) em 2010, ele sofreu a paralisação progressiva dos membros. A exceção são os olhos. É com eles que ele se comunica com os alunos da disciplina de Fisiologia Médica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), instituição em que atua como professor convidado. Lima vive em São Sebastião do Paraíso, em Minas Gerais.

1A ELA é a doença rara que motivou o desafio do balde de gelo, campanha que desafia personalidades a jogarem um balde de água gelada na cabeça para chamar a atenção sobre o problema.

As pessoas podem aceitar o desafio ou fazer uma doação para uma instituição ligada à ELA, ou ainda fazer as duas coisas.

De caráter progressivo, a ELA afeta os neurônios responsáveis pelos movimentos do corpo e causa a perda do controle muscular. A doença não interfere na capacidade cognitiva do indivíduo.

Nos Estados Unidos, onde a campanha foi criada pela ALS Association, associação americana que financia pesquisas dedicadas a encontrar uma cura para a doença e também serviços para pacientes, as arrecadações chegaram a US$ 88,5 milhões até esta terça-feira (26).

No Brasil, as três principais associações dedicadas ao apoio de pacientes com ELA arrecadaram, juntas, quase R$ 200 mil em doações em apenas uma semana.

“Acredito que esse fenômeno tem mais importância de nos tornar visíveis, já que as estatísticas insistem em nossa invisibilidade. Quanto à arrecadação de fundos, é um pontapé inicial em uma situação tão complexa”, diz Lima.

Comunicação
Desde quando perdeu os movimentos, Lima tem duas estratégias para se comunicar com o mundo externo. Em uma delas, um acompanhante mostra a ele um quadro com as letras do alfabeto dispostas em três linhas. Lima pisca para indicar em que linha está a letra desejada. Em seguida, a pessoa começa a ler as letras daquela linha e ele pisca na letra que quer usar. Dessa forma, formam-se as palavras e as frases.

Outra estratégia envolve uma ferramenta capaz de detectar os movimentos do globo ocular, que passam a controlar o mouse virtual de um computador.

Foram esses mecanismos que permitiram que ele escrevesse um livro, chamado “Eu e elas”, e que fosse convidado a ministrar uma disciplina, como professor convidado, na UFJF. O convite partiu da fisioterapeuta Carla Malaguti, que leciona a disciplina de fisiologia médica na instituição. Ela conta que já o conhecia e que sabia que tinha muito conhecimento acumulado nos 27 anos de prática em cirurgia geral e endoscopia digestiva.

Vanderlei Corradini Simões de Lima, em foto tirada antes de perder seus movimentos pela esclerose lateral amiotrófica (Foto: Vanderlei Corradini Simões de Lima/Arquivo Pessoal)

Vanderlei Corradini Simões de Lima, em foto tirada
antes de perder seus movimentos pela esclerose
lateral amiotrófica (Foto: Vanderlei Corradini Simões
de Lima/Arquivo Pessoal)

“Falei para ele que, na disciplina, discuto casos à distância com os alunos e que precisava de um professor convidado para me ajudar. Ele adorou porque, com a doença, não pôde mais exercer a medicina, mas pôde manter a profissão como professor”, diz Carla.

A professora conta que a disciplina envolve a discussão de casos reais de pacientes com doenças degenerativas, como a ELA. “Foi muito bom para os alunos porque eles tinham contato com um caso real e também com alguém que entende, como médico, os aspectos todos das doenças”, observa.

Em entrevista por e-mail, Lima diz que sempre gostou de se envolver com a comunidade científica. “No momento que os primeiros sintomas apareceram, ministrava aulas no curso de endoscopia digestiva na pós-graduação da Faculdade de Medicina da Suprema. Quando recebi o convite, fiquei imaginando uma forma de ser útil. Assim, aproveitando minha experiência de 27 anos de medicina assistencialista, participo dos fóruns de discussão de casos clínicos online através da plataforma Moodle [ferramenta de ensino à distância], abordando aspectos psicobiossociais dos casos discutidos e respondendo às questões dos alunos.” Atualmente, além de dar aulas, ele prepara seu segundo livro: “Médico de pijamas e suas estórias”.

“Eu mesmo fiz o diagnóstico clínico e, após a confirmação, preparei minha vida e minha família para tudo que iria enfrentar.”
Vanderlei Corradini, médico

Diagnóstico
Vanderlei começou a perceber os primeiros sinais da doença quando passou a ter câimbras e diminuição da força muscular da mão esquerda. “Pelo fato de ser médico, eu mesmo fiz o diagnóstico clínico e, após a confirmação, preparei minha vida e minha família para tudo que iria enfrentar.”

Depois do primeiro sintoma, a doença evoluiu para paralisa do resto do corpo e da deglutição e respiração. “Nessa situação, é fundamental a aceitação. Para isso é preciso ter a convicção de que desempenhou seu papel com honradez e com a máxima perfeição que conseguiu impor e assim se atinge a sensação de ter vivido na sua plenitude e com êxito.”

Médico Vanderlei Corradini Simões de Lima, que tem esclerose lateral amiotrófica, dá aulas e escreveu livro só com os movimentos dos olhos (Foto: Vanderlei Corradini Simões de Lima/Arquivo Pessoal)

Médico Vanderlei Corradini Simões de Lima, que tem esclerose lateral amiotrófica, dá aulas e escreveu livro só com os movimentos dos olhos (Foto: Vanderlei Corradini Simões de Lima/Arquivo Pessoal)

Autobiografia de Naldo tem sabor de chocolate

0
O cantor Naldo e seu irmão Lula

O cantor Naldo e seu irmão Lula

Rafael Costa, na Veja

Naldo Benny enfrentou um ruidoso processo de divórcio para se casar com Ellen Cardoso, a Mulher Moranguinho, em uma celebração da qual seu filho se negou a participar. Mas as desavenças familiares são águas passadas – ao menos, nas páginas de Cada Vez Eu Quero Mais (Planeta, 91 páginas, 31,90 reais), autobiografia que o cantor de Amor de Chocolate lança na tarde deste domingo, na 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, com título emprestado de um verso do seu maior hit. A obra, para ficarmos na mesma música, tem sabor de chocolate: nela, o cantor adoça tudo o que viveu, para contar da maneira mais positiva a sua trajetória, desde quando era conhecido como Ronaldo Jorge na Vila do Pinheiro, no Rio, até o momento em que se viu na varanda do Hotel Fasano, na praia de Ipanema, ao lado do ator Will Smith, ouvindo um bloco de Carnaval cantar, na rua embaixo, versos da sua canção.

A vida de Naldo, ao menos no livro, não foge daquela história conhecida do menino humilde que decidiu investir em seu talento para alcançar o sucesso. Uma atitude louvável, ainda mais para quem, como ele diz ter feito, conseguiu atravessar a juventude sem ceder ao crime organizado ou às drogas, elementos que o rodearam no percurso. O problema é que o orgulho do músico por sua travessia – sem falar no fato de ele se declarar uma pessoa do bem – é exagerado a ponto de dar ao livro um grosso verniz chapa-branca.

1Com poucas páginas e letras garrafais, Cada vez eu Quero Mais é uma leitura fácil, rápida e pobre em detalhes, tanto sobre a vida pessoal como profissional do cantor, elementos que colocam um tempero a mais em uma biografia. No caso de Naldo, grande parte das situações narradas no livro pode ser facilmente encontrada no Google. Faltam detalhes sobretudo ao desfecho de Lula, irmão e parceiro musical no início da carreira, assassinado em 2008. Seu corpo foi encontrado dois dias depois, carbonizado, no Instituto Médico Legal (IML). O episódio, desde a morte até o luto, é narrado em pouco mais de uma página, sem qualquer menção a quem poderia ter cometido o crime. É muito pouco, dada a importância do MC na vida do cantor. “Fiquei uns quatro meses deprimido, me forçava a sair do escritório apenas por achar que era o que Lula desejaria”, escreve Naldo, para já no parágrafo seguinte reaparecer restaurado, narrando a sua “volta por cima”.

Já o filho, Pablo Jorge, 16, fruto do casamento com Branka Silva, mal é citado e aparece apenas – com a metade de seu corpo – em uma foto quando bebê, no colo do pai.

Cada Vez Eu Quero Mais é uma leitura voltada exclusivamente para os fãs de Naldo Benny, que podem se comover com a história de superação e a batalha do cantor para sair do morro carioca e chegar à varanda do Hotel Fasano. E só. Já aqueles que procuram uma boa biografia, com histórias controversas e elementos inéditos, podem poupar trinta reais e meia-hora da vida com uma leitura de pouquíssima relevância.

A biografia de Naldo em cinco tópicos

1

* Chapa-branca
Ao longo de todo o livro, Naldo exalta de maneira exacerbada sua história de superação e seu jeito de bom moço. A narrativa ofusca alguns fatos controversos de sua vida, como a briga judicial com sua ex-mulher, a produtora musical Elizete Pereira, mais conhecida como Branka Silva, em julho do ano passado, e a relação tortuosa com seu filho, Pablo Jorge, fruto do casamento com Branka, que tem apenas seu nome citado em poucos momentos da biografia. “Fui exposto desde cedo à realidade das drogas, assalto, roubo e crime, mas eu tinha muito medo de decepcionar minha mãe. E meu pai, que sempre nos ensinou que as conquistas vinham de trabalho e dedicação, também fez o que pôde para afastar desse cotidiano perigoso da gente”. Um dos – muitos – trechos em que Naldo destaca a importância de seus pais em sua vida e seu bom caráter.

1

* Morte do irmão

A morte de Lula, seu irmão mais novo e parceiro musical no início da carreira, é citada brevemente, assim como muitos outros episódios da biografia. O episódio, desde o assassinato do MC, que é encontrado com o corpo carbonizado Instituto Médico Legal (IML), em 2008, até o luto vivido pelo cantor, é narrado ao longo de pouco mais de uma página, em que Naldo se limita a descrever que passou cerca de quatro meses deprimido e que acabou voltando ao trabalho com apoio da equipe da gravadora. “Mais bem cercado na época pelas gravadoras, tive apoio da equipe e dos empresários, que me trataram com carinho e não pressionaram para que eu voltasse logo a trabalhar”, escreve o funkeiro.

1

* Busca pela fama

A busca pela fama é uma das partes mais interessantes da biografia, senão a única. Apesar de ser descrita sem muitos detalhes, Naldo fala sobre os “nãos” que recebeu de alguns produtores e o preconceito que sofria de muitos funkeiros pelo fato de tentar emplacar um estilo com mais melodia e letras românticas, que não citavam temas como crime, drogas e sexo. “O funk na época era mais pesado; as letras seguiam a linha da porrada ou sacanagem, não tinha sutileza ou romantismo. Não era exatamente a nossa praia, mas era o que fazia sucesso. Eu sempre tentava puxar os versos para ‘censura livre’. (…) O tal produtor nos recebeu supermal. A casa dele não tinha varanda, só um quintal para a gente atravessar e se molhar ainda mais. (…) Ao entrara na casa dele, a gente sentou e tudo estava molhado, e ele reclamou, grosseiro, desandando a falar que era responsável pela caravana tal, que administrava uns trinta MCs e blá-blá-blá”.

1

* Historia de superação

A vida de Naldo contada em seu livro, não foge daquela história conhecida do menino humilde que decidiu investir em seu talento para alcançar o sucesso profissional, ou o estrelato. A história de superação, apesar de ser algo louvável, é citada em diversos momentos da obra, muitas vezes desnecessariamente. “Nessa hora, um filme passou na minha cabeça – uma história que começa como tantas outras, um moleque que desejava ter uma roupa de marca ou um tênis bacana, uma trajetória comum como a de qualquer garoto da favela. Ali, porém, no coração da praia mais famosa do mundo, na varanda de um hotel de luxo, esse menino da Vila do Pinheiro estava deixando o superstar de Hollywood de boca aberta”, escreve Naldo sobre o momento em que está ao lado de Will Smith na varanda do Hotel Fasano, no Rio de Janeiro, enquanto uma multidão na rua canta versos de sua música.

Imagem de Amostra do You Tube

* Primeiro sucesso

Pouco depois da morte de Lula, Naldo se viu obrigado a seguir carreira solo e lançou o álbum Na Veia, em 2009. O disco foi produzido por uma gravadora independente e ganhou vida graças ao investimento do próprio cantor, que começou a ganhar uma “quantia razoável de dinheiro” como compositor. Uma de suas obras é a canção Depois do Amor, que viria a ser gravada por Belo e Perlla. As músicas, no entanto, foram todas compostas em parceria com o irmão, como o hit Como Mágica, primeira canção a fazer sucesso em nível nacional. “Peguei a grana que eu tinha juntado com os direitos autorais de Depois do Amor e Como Mágica, e banquei a gravação desse novo CD. A turma da música já conhecia a gente, os caras da rádio, locutores, diretores etc.”

“Escrevia para não ficar doido”, diz ex-morador de rua que virou escritor

0

sebastiao-nicomedes-ex-morador-de-rua-poeta-escritor-1408477502742_300x300Bruna Souza Cruz, no UOL

Sebastião Nicomedes de Oliveira, 45, diz já ter feito “de tudo um pouco nessa vida”. Já colheu algodão, foi cobrador de ônibus, trabalhou em restaurante, foi zelador de uma igreja, fabricou placas e letreiros. Mas, só durante o tempo em que morou na rua, ele descobriu um de seus maiores talentos: a escrita.

“Escrever era um desabafo na época. Tinha medo de enlouquecer de vez, escrevia para não ficar doido. Escrever me ajudou a enfrentar as dificuldades da rua e elas não foram poucas”, lembra.

“Eu sempre gostei de ler e costumo ler muito, sabe. Gosto de Machado de Assis, Graciliano Ramos”. Para aqueles que gostam de literatura e desejam escrever bem, Sebastião diz que o segredo é “ler de tudo. Ler jornais, revistas, livros e até gibis. E fazer rascunhos também. Faço isso o tempo todo.”

Vida na rua

O escritor foi parar nas ruas depois de um acidente grave de trabalho, em 2003. Enquanto instalava uma placa luminosa – na época ele era dono de uma empresa de comunicação visual –, caiu de um andaime a uma altura de cerca de seis metros. Além das fraturas e uma placa de platina no punho esquerdo, ele ainda enfrentou o sumiço da noiva e a descoberta de que seus companheiros de trabalho o haviam roubado.

Chamado de “poeta das ruas”, Sebastião já publicou um livro de poesias e crônicas, chamado “Cátia, Simone e Outras Marvadas” (2007), e escreveu a peça “Diário dum Carroceiro”, sobre a vida de um catador, que foi montada em 2006 e rodou algumas regiões do Brasil.

As duas obras foram escritas nos quatro anos em que Sebastião se dividia entre a rua, albergues e pensões da cidade de São Paulo. Para ele, as inspirações vieram de tudo que observava ao seu redor. “Catando latinha por aí acabei catando lápis e caneta e comecei a escrever. Acabou surgindo aí a ideia do ‘Diário dum Carroceiro’.”

O escritor nasceu em Assis (SP) e só cursou até a 8ª série do ensino fundamental. Diz não ter voltado aos estudos por achar “que não conseguia mais ficar parado na escola”. Apesar do afastamento dos bancos escolares, Sebastião faz questão de ressaltar que acredita no poder da educação.

Engajamento

Com a repercussão de seu trabalho e da experiência como morador de rua, o escritor conheceu e passou a integrar alguns movimentos sociais – como o dos catadores de materiais recicláveis e o de moradores de rua.

Atualmente, Sebastião fica dividido entre São Paulo – na pensão de um amigo – e Caraguatatuba, onde conseguiu comprar uma casa. Sua fonte de renda é o artesanato. Porém, não deixou o gosto pela escrita de lado. Ele pretende lançar um novo livro, assim que possível. Seu próximo título também retrata a vida na rua.

“Estou fabricando uns barquinhos de madeira e estou no propósito de vender 200 pra custear a publicação”, conta o ex-morador de rua que não tem editora em vista para seu livro.

Outro projeto que o escritor está envolvido é a organização de um festival de música para pessoas em situação de rua, em parceria com o Sindicato dos Músicos do Brasil. “O festival vai ser a oportunidade que muita gente sonhou. Um presente. O pessoal discute muita política, querem trabalho, querem moradia, mas eles [moradores de rua] também precisam de lazer e de cultura.”

Go to Top