Posts tagged autores
Um incentivo à leitura, diariamente na caixa de e-mails
1
A escritora Hilda Hilst, autora de ‘Tu não te moves de ti’
Estudante envia um trecho de livro brasileiro por dia a inscritos, misturando cordel, obras independentes e consagradas
Juliana Domingos de Lima, no Nexo
O estudante de jornalismo Giovanni Arceno, 22 anos, é um amante de literatura. Ele se incomodou com os números que explicitam como o brasileiro lê pouco – menos de cinco livros por ano – e criou sua própria maneira de minimizar o problema: a newsletter Leia Brasileiros, que entrega aos seus assinantes todos os dias por e-mail (menos no fim de semana) um trecho de obra literária nacional.
A iniciativa surgiu como uma forma de compartilhar suas descobertas e sanar o que ele enxerga como um “vácuo que existe na nossa cultura de leitura”.

Aos 22 anos e prestes a publicar seu primeiro romance, ‘Vitória’ Arceno cuida sozinho da newsletter
O livro mais lido pelo brasileiro é a Bíblia. Além disso, lemos, em média, 4,96 livros por ano, sendo 0,94 – cerca de 20% desse valor – indicados pela escola, segundo s quarta edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, feita em 2015 e divulgada este ano pelo Instituto Pró-Livro.
Os números mostram que a relação dos brasileiros com a literatura do país ainda é, de modo geral, distante e fortemente pautada pela obrigatoriedade.
Aos 22 anos e prestes a publicar seu primeiro romance, “Vitória”, pela editora Oito e Meio, Arceno cuida sozinho da newsletter. Ela é disparada todos os dias para 2.249 inscritos.
A estreia literária de Arceno trata de um casal jovem que precisa lidar com uma gravidez indesejada. E, segundo ele, tem mais a ver com os problemas trazidos por um amadurecimento forçado do que com uma história de amor. Entre suas influências, ele cita autores contemporâneos: os brasileiros Daniel Galera, Marçal Aquino e Luiz Ruffato e também o chileno Alejandro Zambra.
A curadoria traz na mesma medida, segundo o estudante, autores clássicos, contemporâneos, negros, mulheres, poetas, contistas. Autores de editoras menores também são contemplados na seleção. “Ser consagrado é retórica, muitas vezes as obras consagradas também são muito pouco lidas”, justifica.
Alguns dos trechos enviados recentemente eram, por exemplo, assinados por Nara Vidal, escritora mineira; Sérgio Tavares, autor de “Cavala”; Adauto Borges, repentista; Carolina Maria de Jesus, autora negra e favelada que escreveu “Quarto de Despejo”; e o poeta Manuel Bandeira.
Além da pílula literária enviada aos assinantes, a newsletter também traz um breve comentário de três linhas sobre autor, obra, editora ou período da publicação, indo além de apresentar uma autora ou autor.
Bienal do Livro do Ceará terá Valter Hugo Mãe e outros escritores
0
Publicado em O Povo
A organização da XII Bienal Internacional do Livro do Ceará anunciou em coletiva nesta segunda-feira, 31, os nomes dos primeiros autores convidados para o evento, que acontece entre 14 e 23 de abril de 2017, no Centro de Eventos do Ceará e em múltiplos espaços de Fortaleza.
Um dos nomes de destaque é o escritor angolano Valter Hugo Mãe, autor de “Máquina de Fazer Espanhóis” e “O Filho de Mil Homens”, entre outros. Também foram anunciados: Antônio Prata, Cristovão Tezza, Daniel Galera, Ignácio de Loyola Brandão, Márcia Tiburi, Leonardo Sakamoto, Mary del Priori e Marcelino Freire. Acrescente à lista, a cearense Natércia Pontes, autora de “Copacabana Dreams”.
A Bienal foi transferida para 2017 devido ao período eleitoral, e a escolha pelo mês de abril foi simbólica. O período situa o evento entre datas que celebram a importância da literatura, como o nascimento de Monteiro Lobato, em 18 de abril, quando se comemora o Dia do Livro Infantil, e 23 de abril, o Dia Mundial do Livro, que marcará o encerramento do evento.
Os melhores autores do país estão escrevendo novela, diz editor
0
Mauricio Meireles, na Folha de S.Paulo
O editor Tomás Pereira, um dos irmãos donos da editora Sextante, lamentou na Feira do Livro de Frankfurt a baixa disseminação da ficção comercial no Brasil –e como os autores estrangeiros dominam a lista de mais vendidos nesse segmento.
“Os melhores autores brasileiros estão escrevendo novela”, afirmou Tomás, em inglês, numa conferência de editores, na quarta-feira (21), em resposta a uma agente literária que estava na plateia.
Ele contou a ela que o mercado leitor brasileiro não está tão maduro como na Europa, embora a lista de não ficção seja dominada por autores nacionais.
Procurado pela Folha para aprofundar o assunto, Tomás afirmou que o Brasil não consolidou um mercado de livros de massa e que as editoras não conseguem competir com o mercado de TV pelos autores com habilidade para serem best-sellers.
“Perdemos esses autores para a dramaturgia”, diz. “Dickens começou a escrever vendendo histórias por 15 centavos. Como somos grandes exportadores de novelas, criou-se uma indústria. A TV Globo faz oficinas de roteiristas.”
Marcos Pereira, o outro dono da editora e presidente do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), conta que chegou a tentar um livro do novelista Walcyr Carrasco, mas o projeto não foi para frente. “Imagine se a Janete Clair e o Dias Gomes tivessem sido autores de livros!”
O presidente do Snel também diz que o Brasil não tem o corpo de agentes literários que têm os EUA. Esses profissionais costumam trabalhar com os originais das obras mais comerciais. Os irmãos Pereira concordam, porém, que também os editores têm responsabilidade nisso –eles poderiam se dedicar mais a formar esse tipo de autor.
Sobre esse ponto, Tomás também fala da formação dos profissionais do livro. E aponta que, em muitas casas editoriais, é comum haver jornalistas que deixaram a profissão.
“Há a confusão entre livro e literatura, como se fossem necessariamente a mesma coisa. A própria ideia de ficção comercial causa [desconforto]”, afirma Tomás.
A outra questão é a dificuldade de um escritor conseguir se sustentar só com o dinheiro de seus livros. Isso, segundo ele, enfraquece o mercado editorial ante o audiovisual.